07 novembro 2018

Vai um gin do Peter’s ?

QUANDO AS VÍTIMAS TÊM NOME, A PERSEGUIÇÃO É MENOS TOLERADA

Os nazis e, especificamente, o dr. Goebbels percebeu muito bem o aparente paradoxo de ser mais tolerável para a opinião pública matar milhões do que um par de pessoas. E explicava: um par de pessoas é uma escala muito familiar, que dá para nomear, pelo que qualquer ser humano percebe de imediato o horror de uma agressão ao pequeno grupo. Inversamente, uma multidão é um número demasiado elevado, tendendo a tornar-se longínquo e abstrato.  Em Outubro, o mundo assistiu (ainda assiste) incrédulo às torpezas de regimes iníquos, que cruzam essa «linha vermelha», parecendo ignorar que serão os principais alvos dos estilhaços que provocaram.

A 2 de Outubro, deu-se o assassinato macabro do jornalista saudita, que denunciava as injustiças do mundo islâmico e, em especial, as perpetradas pela Casa de Saud.

No final de Outubro, os 13 juízes do Supremo Tribunal da República Islâmica do Paquistão basearam-se nas «contradições nos testemunhos» para mandar libertar uma pobre camponesa, encarcerada há 9 anos por ter bebido água de um poço, contaminando-o pelo simples facto de ser cristã. Rezava a sentença: «Se não há outras acusações contra ela, pode ser libertada (…).» A segurança reforçada na própria sala de audiências demonstrava a dificuldade de todo o processo. O advogado de defesa fugiu para a Europa. Um movimento político local pediu «represálias contra os cristãos», o que levou o Governo a aumentar a segurança junto às igrejas cristãs. Islamabad encheu-se de manifestantes assanhados contra a decisão. No Ocidente, a evolução dos acontecimentos continua a ser acompanhada nos media e em blogs, porque a paquistanesa já é conhecida pelo nome – Asia Bibi – graças às denúncias de ONGs e associações cristãs como a AIS. 



O movimento pendular das notícias, entre boas e más, dá-nos um retrato realista da extrema fragilidade da situação, de final incerto, apesar das conquistas alcançadas:

6.Nov.2018 – Marido de Asia Bibi diz que família corre perigo de vida no Paquistão (e) gravou vídeo a pedir ajuda para sair do país – Jornal i

4.Nov.2018 - Família de Asia Bibi pede asilo ao Reino Unido, Canadá e Estados Unidos - Observador e Deutsche Welle

Sat 3 Nov 2018 - «Pakistan government accused of signing death warrant by blocking Christian woman from leaving the country». 

3.Nov. - Advogado da cristã absolvida foge do Paquistão - Diário de Notícias, Público [https://www.publico.pt/.../advogado-asia-bibi-fugiu-paquistao-crista-ilibada-blasfemia] «On Saturday, Bibi's lawyer Saiful Mulook left Pakistan for an undisclosed European country "to save [my] life from [the] angry mob."»

«A Pakistani supporter of hardline religious party the ASWJ stands on an image of Asia Bibi
during a protest rally on 2 November».Photograph: Aamir Qureshi/AFP/Getty Images

Manifestações de fanáticos violentos intensificam-se na capital:
«Asia Bibi’s Release Delayed as Pakistan Supreme Court Will Review Acquittal Decision
Amid Muslim Protests»


22/10/2018 - Um milhão de crianças reza o Terço pela libertação de Asia Bibi - No último dia 18 de outubro, um milhão de crianças em 80 países rezou o Terço pela libertação de Asia Bibi, uma mãe católica paquistanesa presa há oito anos acusada injustamente de blasfémia contra o Islão, [inicialmente] condenada à morte.  

22/03/2018 – O marido e a filha mais velha levam presente do Papa Francisco - Asia Bibi, mãe católica encarcerada injustamente no Paquistão, acusada de blasfémia contra o Corão, considerou “um milagre” a decisão da prisão de Multan de permitir que ela recebesse o terço que o Papa Francisco lhe enviou.   

22/03/2018 - Asia Bibi: «É um milagre receber o terço que o Papa me enviou»

26/02/2018 - Papa Francisco teve encontro emocionante com família de Asia Bibi -  A família de Asia Bibi, foi recebida pelo Papa Francisco no sábado, 24 de fevereiro, no Palácio Apostólico do Vaticano.   

Em Fevereiro, a família de Asia Bibi foi acolhida calorosamente no Vaticano.

Por cortesia do autor, segue o relato expressivo e sintético da história impressionante de Bibi, que voltou a complicar-se: 


«Asia Bibi foi absolvida

Na terça-feira passada, o Supremo Tribunal do Paquistão tornou pública a absolvição de Asia Bibi, uma mulher cristã presa em 2009 e condenada à morte por blasfémia: pelo facto de ser católica, ao beber água de um poço contaminou a água...

Durante todos estes anos, em que a execução estava sempre anunciada para daí a poucos dias, Asia Bibi foi mantida em condições de prisão terríveis, frequentemente em isolamento total, na tentativa de que abandonasse a fé católica. O marido e os cinco filhos também sofreram duramente e, por arraste, muitos católicos do país foram perseguidos e alguns foram mortos. Quando o Ministro Shabaz Bhatti se pronunciou a favor da libertação de Asia Bibi, um dos seus próprios guarda-costas tomou a iniciativa de o matar. Até os advogados muçulmanos que defendem Asia Bibi foram acusados de blasfémia e correram grande perigo. Naturalmente, os juízes do Supremo que a absolveram foram imediatamente ameaçados de morte. Além de muitos assassinatos isolados, houve massacres anticristãos em 2009 e em 2013 e teme-se que esta decisão do Supremo Tribunal volte a incendiar o fanatismo. A decisão estava tomada há um mês, mas o veredicto só agora foi tornado público, provavelmente por medo de reacções extremistas. O processo tem agora de percorrer a cadeia hierárquica até chegar ao Director da prisão, pelo que a libertação de Asia Bibi vai demorar algum tempo. Até lá, ela continua presa e praticamente incomunicável, sem mesmo poder falar com o advogado. Entretanto, a capital do país, Islamabad, está em alerta máximo. 

Muitas centenas de polícias guardam o Supremo Tribunal e unidades do exército tomaram posição diante de outros edifícios, em particular lugares onde os cristãos se reúnem. O partido islâmico Tehreek-e-Labbaik Pakistan organiza sucessivas manifestações de protesto contra a absolvição de Asia Bibi, com grande agressividade e exibição de força. Várias cidades do Paquistão estão paradas devido à onda de violência. Em várias delas, as autoridades desligaram as redes de telemóveis para tentar controlar a informação.

Muitos paquistaneses estão contra o fanatismo e alguns líderes muçulmanos vieram a público defender Asia. A própria sentença de absolvição cita o profeta Maomé: «Atenção! Quem for cruel e duro contra uma minoria não muçulmana, ou lhes retirar direitos, ou lhes impuser exigências superiores às suas forças, ou lhes tirar alguma coisa contra a sua vontade; eu próprio, o Profeta Maomé, o hei-de acusar no Dia do Juízo».

Desde que Asia Bibi foi presa, embora os meios de comunicação social de alguns países europeus tenham evitado divulgar o caso, a comunidade internacional manteve a pressão sobre as autoridades paquistanesas.

Nos meios cristãos de todo o mundo, milhões de pessoas rezaram o terço por esta intenção. Sobretudo o Papa Bento XVI e o Papa Francisco fizeram sentir o seu apoio a Asia Bibi e a todos os católicos perseguidos no Paquistão. No início deste ano, Francisco recebeu no Vaticano Ashiq Masih, o marido de Asia Bibi, e a filha mais velha do casal, juntamente com Rebecca, uma jovem nigeriana cristã que, depois de torturada pelo Boko Haram, deu à luz um filho de um dos sequestradores. Nessa audiência, o Papa rezou por Asia Bibi e pelas mulheres que continuam prisioneiras do Boko Haram. «O testemunho de Rebecca e o de Asia Bibi representam um modelo para uma sociedade que hoje tem cada vez mais medo da dor. São duas mártires», disse Francisco. «Penso muitas vezes na vossa mãe e rezo por ela», disse o Papa à filha mais velha de Asia. Ela transmitiu-lhe o recado da mãe: «Santo Padre, a mãe pediu-me que lhe desse um beijo».

Através de vários canais, Asia Bibi conseguiu transmitir para o exterior várias outras mensagens. A principal é dizer que perdoa de todo o coração os que lhe fazem mal e pedir orações por ela, pela família, pelos cristãos perseguidos, pela Igreja e por todo o mundo.»

José Maria C.S. André
ABC Portuguese Canadian Newspaper, Correio dos Açores, Spe Deus (…)


Felizmente que a mãe paquistanesa é reconhecida no Ocidente. Fica, agora, do nosso lado não desistirmos de pressionar em favor da sua libertação, já autorizada pelo Supremo mas recusada pelas autoridades prisionais. Seria o melhor presente para uma família tão massacrada e um sinal positivo para os milhões de paquistaneses sem voz. 

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas, numa Quarta-feira)

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