Há alguns anos, no contexto de uma reunião profissional, uma colega, jovem de idade, afirmava com um ar categórico - ainda que não pretendesse "esmagar" ninguém:
- a mim tudo me corre bem. Mas eu sei que faço as coisas acontecerem.
A frase - que não era mais do que a verbalização de um pensamento - ficou-me no ouvido durante muito tempo, permanecendo ainda. Porque a guardo? Porque ela é o lugar de encontro de muitas coisas: da ingenuidade, da sorte, do optimismo, do desconhecimento da vida, de uma atitude perante o mundo em redor. Já naquela altura, por razões pessoais, eu não poderia proferir aquela expressão. Olhei para a minha colega com um misto de inveja e de paternalismo.
Na realidade, tempos há em que nos sentimos donos do nosso destino, obreiros únicos da nossa estrada, confiantes num positivismo que derruba obstáculos, vence crises, elimina dificuldades. Outros há (e surgem pela calada da noite em que se transforma o nosso sossego) em que tudo se desfaz num esboroar de complicações invencíveis. No espaço de um instante há um desastre com um filho, uma análise ao sangue ligeiramente desviada, uma maleita que reaparece inesperadamente anos depois. Nessa altura percebemos que dominamos pouco, comandamos pouco, e que o nosso optimismo e confiança no futuro não são suficientes para vencer o acaso, o inesperado, a traição.
Estou convencido, por isso, que hoje a minha colega diria:
- felizmente a mim tudo me tem corrido bem. Sou optimista, tenho valor - e sorte também.
No intervalo de tempo de semana e meia, duas pessoas que me são próximas viram o sossego possível da suas vidas ameaçado pela sombra de um potencial problema de saúde. Ambas vencerão o que há para vencer, porque este desafio é apenas mais um na sua caminhada. Atento nelas, como atento em mim próprio, e vejo que há um fio de cabelo que separa o sucesso do falhanço, o sossego do sobressalto, o riso do choro, um olhar vivo e alegre de um aperto no peito.
Boa semana para os que me lêem, em particular para as duas amizades que se sobressaltaram nestes últimos dias.
E boa semana para si também, JB.
ResponderEliminarQue pelo menos a amizade nunca sofra sobressaltos, porque isso, pelo menos, está na mão de todos nós.
Um beijo "de flor ao peito".
Com tanto PHM no "adeus..." e no Porta..." só nos falta mesmo ir a Viana.
ResponderEliminarBe happy!
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