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Essejota este pensamento, publicado ontem, 1 de Agosto. O silêncio é um tema que me encanta, sobre o qual gosto de ler e de pensar. A minha vida dos últimos anos foi atravessada, aqui e ali, por momentos de grande parcimónia na utilização das palavras - ditas ou ouvidas. Foram tempos reconfortantes, de olhar para dentro e para fora, de escutar vozes que só nós ouvimos, de proferir frases que mais ninguém ouve; foram alturas esmagadoras, em que o que não se dizia tinha um peso infinitamente doloroso, constrangedor, revelador de um incómodo que era filho do diálogo que já não existia. O silêncio é, de facto, uma ferramenta poderosíssima, capaz do melhor e do pior. Assim eu a soubesse usar para os fins mais elevados.
O silêncio é um valor inestimável. Sem silêncio não se ouve e ainda menos se escuta. O homem que não se escuta a si próprio, desconhece-se. O que não tem espaço e tempo para meditar, para ouvir o significado dos sons e das palavras, anda neste mundo a reboque, sem leme. Só no silêncio é possível descobrir outros sinais de comunicação. Aproveitemos este tempo de férias para fazer silêncio. O silêncio é o segredo de uma melhor comunicação.
(Vasco P. Magalhães, sj)
7 comentários:
Também não sei, JB. Na realidade, desde há algum tempo que deixei de saber. Mas posso dizer-lhe que no último ano, falando sem parar, me calei. Me fiz silêncio. Fui ouvindo, fui contando, fui respondendo, mas nada dizia, nada contava e a nada respondia. O silêncio comunicação? Não, JB. Os jesuítas são muito arrogantes e eu ando nostálgica de uma pastoral de linha mística. Eu calei-me e ninguem me ouviu. Nem os outros. Nem eu a mim mesma. O silêncio pode ser tão ensurdecedor como as palavras, acredite. Não lhe escreve uma céptica nem uma triste nem uma desencantada - senhores, como as pessoas temem tudo isso! - escreve-lhe alguém que se suspendeu numa encruzilhada e não vê em nenhum caminho uma mão estendida. Escreve-lhe uma mendiga. Uma mendiga rica, que são as piores de todas. Orgulhosas, envergonhadas, silenciadas. Todas as mãos que me estendem, até a sua, todos os os outros tambores que escuto, até o meu, nenhuma nem nenhum me oferecem a asa de uma consolação. Quero a infância e dizem-me que já não posso tê-la. E eu ralada, João. E eu ralada. A única comunicação que me resta é aquela que ainda vou conseguindo manter com as crianças. As de dois anos, as de trinta, as de setenta. As que brincam e se riem neste vale de lágrimas. Mas, imagine você o que me havia de acontecer: já nem as crianças me estendem as mãos porque não me ouvem. Escreve-lhe, JB, uma delas: uma criança sem boca para falar nem braços para estender. Que continua a levantar-se todas as manhãs e a inventar a vida todos os dias para fazer de conta que está vida. Nunca se desilude o público, sabia?
Anónima: este seu comentário dava, só por si, um post. Tentarei ser telegráfico, na certeza de que voltarei a este assunto brevemente. Todos temos, estou certo, uma mão que se estende para nós, umas asas que nos querem proteger, uns braços que nos querem apertar. Tê muitos nomes - literatura, fé, criatividade, amizade, etc. eles estão sempre lá - juntamente com uns ouvidos para nos ouvir, uma boca par anos falar. Mas nós assobiamos e olhamos para o lado, porque não queremos aquelas mãos, aquelas asas. Não faz mal ouvirmos outro tambor - faz mal, isso, sim, persistirmos num rufar diferente e que não acrescenta valor.
Se ao silêncio contrapusermos o ruído, dou-lhe razão, JB. O silêncio é essencial e o tambor com o qual acertamos o passo é o que nos mantém em marcha, não os outros. Mas é preciso cuidado: no silêncio cabe tudo o que quisermos, o bom e o mau. Cabem todas os sonhos e promessas, mas também todas as batotas, todas as alienações que nos dão a ilusão de marcharmos para algum lado ao som do nosso tambor imaginário, quando afinal estamos só a caminhar em círculos. Gerir o silêncio e transformá-lo em música (que não seja sempre só ouvida por nós) deve ser afinal o grande desafio de uma vida inteira. Porque não há pauta, nunca há pauta... e nem todos somos virtuosos do improviso. E mesmo os que o são, não o são a tempo inteiro...
Nenhum solista brilha tanto como o que tem um fundo de orquestra por resposta.
Esqueci-me de dizer-lhe que a fotografia que escolheu não pode vir mais a propósito e é uma beleza!
Obrigado pela mensagem Ana V. Tem razão e acho que, mesmo com mais eloquência confirma parte do meu texto - o silêncio pode ser óptimo e pode ser péssimo, pode ser confortável e pode ser ensurdecedor, pode ser um bálsamo e pode ser uma punição. Gerir o silêncio, como gerir as palavras, é uma arte difícil. Com ou sem rufar de tambores.
Como o entendo.
Também eu prezo muito a "voz do silêncio".
Mais agora do que há uns anos...
Vamos refinando, Cristina, e encontrando a necessidade e o gosto no que dantes nos parecia supérfluo.
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