As minhas rotinas domingueiras são propiciadoras de reflexões de mim comigo próprio. Talvez seja um exercício de presunção, mas não resisto a partilhar algumas.
Os velhos. Com uma regularidade semanal, lá estou a visitar o meu lar habitual. São talvez uns quinze ou dezoito idosos, sentados à volta de uma sala, como se fossem senhoras num baile popular a aguardar convite para dançar. Une-os, à hora em que entro, uma televisão que debita ruídos e imagens de fundo que acompanham o ressonar de alguns, os pensamentos de outros, o vazio de tantos. Enternece-me o gosto que sinto, aqui e ali, por me verem, se bem que a maioria já quase não saia do seu mundo próprio. Fecho a porta ao sair com a certeza do pouco que fazemos por eles – não só pelos anónimos, como pelos “nossos”.
Portas que se fecham. Aprendi que devemos sair dos sítios e das situações sem bater com a porta. Nem sempre se pode deixá-la aberta, porque há portas que se fecham definitivamente – por vontade nossa ou alheia. Mas a vida ensinou-me a importância de um fechar suave, manso e tranquilo, ainda que recheado de uma profunda tristeza, ou de um imenso alívio. Este raciocínio aplica-se à vida profissional (onde o aprendi em primeiro lugar), à vida social, à vida em família. Há uma certa libertação em quem sai pelo seu próprio pé, de cabeça erguida, levando uns caixotes com um agrafador, uns livros, umas recordações, deixando na divisão vazia um envelope que diz raiva e rancor – ainda que também possa dizer injustiça.
Orgulho. Talvez seja um cliché, mas estou seguro de que todos nós, de uma forma ou outra, andamos à procura de ser amados. Se calhar essa demanda provoca desencontros, porque entre amar e ser amado há desajustes, entendimentos errados, ritmos diferentes. Muitos factores impedirão, seguramente, que consigamos essa permuta de amor. Eu elejo (também) o orgulho - o que nos impede de voltar atrás ou de andar para a frente reconhecendo que errámos, que podíamos ter feito as coisas de modo diferente, de pedir desculpa. Dar a vida pelo outro, com vem na Bíblia aplica-se, estou convencido, ao abdicar de todos os nossos egoísmos que impedem essa aproximação da perfeição. A humildade pode ser um momento de enorme exaltação.
Reflexões que fazem reflectir. Parar em cada uma delas e aí ficarmos um bocado enfrentando as nossas fraquezas: um exercício que nos pode ser difícil, porque não é fácil aceitarmos imperfeições que tantas vezes varremos para debaixo do tapete.
ResponderEliminarGosto de escrever / falar sobre estes assntos. É uma forma de manter vivo o discurso que gostaria que fizessem para mim: o da não desistência da perfeição.
ResponderEliminarUm conselho para a caminhada: deixa de falar e pensar em perfeição e aí, sim, talvez possas começar a merecê-la.
ResponderEliminarAgradeço o conselho, mas não sei se o aceitarei - a perfeição não se merece, procura-se. Cada um com as suas armas, fragilidades, obsessões.
ResponderEliminarAspirar à perfeição é, em si, uma falta de humildade, logo, uma imperfeição - é nesse sentido que falei. Talvez se tentarmos sempre ser um bocadinho melhores, sem nos preocuparmos com o «quadro de honra», possamos chegar lá mais depressa. Mas sei lá eu, quem sou eu, serei sequer?
ResponderEliminar