04 novembro 2008

Sete anos


Hoje, há sete anos, este exacto dia inscrevia-se com uma cercadura a negro no calendário que me acompanhará até ao fim da vida.

De lá para cá o conceito de que nada será com dantes assumiu proporções até então inimagináveis. Conheci o riso e o choro de mãos dadas, estive face a face com o fim e o princípio das coisas, a esperança e o desalento sentaram-se ambos comigo no comboio que me leva rumo ao futuro.

Voltaria de bom grado atrás, mas sinto-me um privilegiado pela dose maciça de ensinamentos de que fui beneficiário, pelas pessoas que conheci fruto de circunstâncias próprias, pelas amizades que aprofundei com quem me quis acompanhar na aventura do desafio e do sonho.

Quem é crente (ou apenas minimamente informado) sabe que o número sete é bíblico – sete dias da semana, sete pragas do Egipto, sete anos de vacas magras, 70 x 7, etc. Quem não é encontrará virtudes numerológicas únicas neste algarismo: a unidade em equilíbrio, a ciência que desenvolve a inteligência, a forma em harmonia. Sete representa o poder criador, o número esotérico por excelência, o número da perfeição, o número sagrado. Sete caracteriza ainda o coroar de um ciclo, uma série de acontecimentos que se encerra para dar início a uma série semelhante.

Lembro-me do Zimbabué, das queimadas, da necessidade de fazer renascer uma terra mais forte e quero crer que tudo se aplica a mim – o bíblico, o esotérico, a sabedoria dos povos.

Há sete anos que a vida me encarrega de tarefas de reconstrução, sobretudo a da minha própria existência. Não tenho parado, mas sabe Deus se caminho na direcção certa. A vida nem sempre se deixa controlar, e o espaço que medeia a alegria da tristeza é um fio de cabelo, a distância que se interpõe entre a riqueza e a miséria é mais pequena do que nada. Por isso a fé que não nos deixa vacilar, por isso a utopia que nos faz caminhar.

Já lá vão sete anos, e muitos acontecimentos teimam em bailar-me na mente como se fossem ontem, os cheiros e os ruídos fazendo-se sentir com uma nitidez perturbante. Hoje, mas daqui a sete anos, estarei a reconstruir-me, a tentar encontrar o caminho certo à luz daquilo em que acredito, porque nada pára, nada permanece, a não ser a vontade que cada um tem de ganhar o Céu.

Hoje, 4 de Novembro, caminham comigo todos aqueles que foram atingidos por infortúnio semelhante ao meu e que se reedificaram ou não, que permaneceram agarrados a uma saudade ou que avançaram com ela ao encontro do destino, que choram todos os dias ou já secaram as lágrimas, que estendem uma mão e um olhar para um tempo que já passou.

Hoje, em particular, caminham comigo o Tony e a Mary, com quem tive a sorte de me cruzar e a quem repito o abraço com que me despedi ontem.

3 comentários:

  1. Um Abraço apertado, pelo caminho, pela esperança, , pela sapiencia, pela dor, pela memória. Pela coragem e pela fé que caminha a teu lado. ( Seja lá que lado for esse )

    xiu

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  2. Obrigada por mais esta dádiva, por se dar tanto e sem reservas.
    Tal como comentámos, esta inspiração é bem o sinal de que o sopro do anjo continua a actuar.

    Muito ânimo, é o que mais lhe desejo, para escrever com esta alma que nos presenteia.
    Beijinhos

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  3. Ohh pérola, pérola... É seu JB ou não tem assinatura?

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