Gostava de ser qualquer um desses que se move dias a fio, meses seguidos, anos e anos pelos teatros. Varrer palcos, descer panos, ser o pica dos bilhetes, eu queria. Queria tanto ser alguém destas casas mágicas, grandes, feitas de escadas e corredores, homens de cá para lá, uns directores, outros actores, encenadores, relações públicas, electricistas, homens do som, das luzes, todos artistas. E em que planta eles se movem. Que forma sublime a do teatro. Que luzes, que talhas, que cores, que candelabros… que bem engendrados estes diabos. Os foyers, os sofás, as plateias, os balcões, os camarotes. Ai os camarotes. Que mistério interessante, aveludado de encarnado. Que perversa mente a minha. Mas gostava de comprar um camarote, de me sentir uma rainha.
Desci a rua a pé, sozinha. Nove da noite de uma sexta-feira. Lisboa pressupunha-se vazia, mas a lotação estava esgotada. Num fim-de-semana prolongado, quem ao teatro se atrevia? E como se esgota assim o São Luiz? Todo ele é ouro, todo ele reluz. Traz na lapela a vida áurea, que não é de ontem nem de outrora, é a de sempre é a de agora. Nunca morreu o São Luiz, nunca viu sina, mesmo que curta, de infeliz. Todo ele seduz. Nas paredes tantos nomes se gravaram. Tantos que este palco já pisaram. Como entretêm o olhar os foyers. Motivos suaves, rosas altivas sobre verdes desmaiados. Verdes leves, tons aguados em pinturas decorativas. Jardim de Inverno garante às almas a companhia. Tem músicas, vozes, chama os autores, lê poesia. Tantas ternuras ao mesmo tempo, todos os tempos. Clássicos, novos ventos. Até o sol entra p’ra ver e na calha o 28 vem a ranger. Passa o Pessoa, acena ao velho. Isto é Lisboa. Que vaidade cidade deste teu canto. Foi dos monarcas, da Amelinha, deu-se à República, foi democrata em toda a linha. Não há teatro que reúna mais amores, nem contas tão tamanhas feitas de espectadores.
Não admira, a temporada é uma emoção. No estúdio do Viegas há muito que anda Shakespeare. Num zás, sem respirar, 97 minutos de rajada, toda a Obra exposta de enfiada. Tanta risada. A pena que o teatro perfilhou, ao palco Mundo chamou, e a todos nós actores proclamou. Homens, mulheres, várias entradas, muitas saídas. Tantos papéis em nossas vidas. E assim o São Luiz não tem parança. E há-de vir Lorca que vai ser peça e vai ser dança. A última do escritor, a derradeira. Bernarda Alba apresenta-se à plateia. A sua casa, as suas filhas, o seu poder, a sua regra. Dores, desejos e pecados de peitos sufocados. O drama na história repetida. A estúpida e insarável ferida de um ror de mulheres à nossa frente. Quem vier não ficará por certo indiferente, porque o homem que cuidaram ter matado, vive em nós, está quente, ainda sente.
Venham ao teatro. Sós, acompanhados, de eléctrico, venham a pé. É a alma do escritor que se enaltece.
DaLheGas
Desci a rua a pé, sozinha. Nove da noite de uma sexta-feira. Lisboa pressupunha-se vazia, mas a lotação estava esgotada. Num fim-de-semana prolongado, quem ao teatro se atrevia? E como se esgota assim o São Luiz? Todo ele é ouro, todo ele reluz. Traz na lapela a vida áurea, que não é de ontem nem de outrora, é a de sempre é a de agora. Nunca morreu o São Luiz, nunca viu sina, mesmo que curta, de infeliz. Todo ele seduz. Nas paredes tantos nomes se gravaram. Tantos que este palco já pisaram. Como entretêm o olhar os foyers. Motivos suaves, rosas altivas sobre verdes desmaiados. Verdes leves, tons aguados em pinturas decorativas. Jardim de Inverno garante às almas a companhia. Tem músicas, vozes, chama os autores, lê poesia. Tantas ternuras ao mesmo tempo, todos os tempos. Clássicos, novos ventos. Até o sol entra p’ra ver e na calha o 28 vem a ranger. Passa o Pessoa, acena ao velho. Isto é Lisboa. Que vaidade cidade deste teu canto. Foi dos monarcas, da Amelinha, deu-se à República, foi democrata em toda a linha. Não há teatro que reúna mais amores, nem contas tão tamanhas feitas de espectadores.
Não admira, a temporada é uma emoção. No estúdio do Viegas há muito que anda Shakespeare. Num zás, sem respirar, 97 minutos de rajada, toda a Obra exposta de enfiada. Tanta risada. A pena que o teatro perfilhou, ao palco Mundo chamou, e a todos nós actores proclamou. Homens, mulheres, várias entradas, muitas saídas. Tantos papéis em nossas vidas. E assim o São Luiz não tem parança. E há-de vir Lorca que vai ser peça e vai ser dança. A última do escritor, a derradeira. Bernarda Alba apresenta-se à plateia. A sua casa, as suas filhas, o seu poder, a sua regra. Dores, desejos e pecados de peitos sufocados. O drama na história repetida. A estúpida e insarável ferida de um ror de mulheres à nossa frente. Quem vier não ficará por certo indiferente, porque o homem que cuidaram ter matado, vive em nós, está quente, ainda sente.
Venham ao teatro. Sós, acompanhados, de eléctrico, venham a pé. É a alma do escritor que se enaltece.
DaLheGas
5 comentários:
DaLheGas, nao resisto a perguntar ... quem é esta amelinha que aparece no seu post de hoje ? a nossa rainha ? a 3ª filha de bernarda (talvez lhe chamassem ameliña :-)? eu própria ? (que veleidade a minha! é que muito minha sinto também esta Lisboa).
Se eu pudesse ser alguém do teatro escolheria ser o pano, aquele que sobe e desce para receber aplausos, aquele que decide quando a peça começa e quando acaba, aquele que impõe o fim do 1º acto e o início do 2º, aquele que tudo vê, os sorrisos de quem está na frente, os esgares nervosos de quem está por trás. E a cor? Escarlate, cor de paixão. E o tecido ? Veludo, suave volúpia. Se pudesse escolher, escolheria ser o pano.
Começou por se chamar D. Amélia, depois República e adiante São Luiz (www.teatrosaoluiz.egeac.pt).
Mas hoje ele é de todas as Amelinhas.
Ser pano... não é tão monótono assim. espertinha! :)
beijas
!!Senhora, senhora!!
Onde estais que não vindes agradecer tão ruidoso aplauso!?
e flores..
vede como vos atiram flores!
VIVA o TEATRO!!
(muita merda para o próximo!)
a.!!! esqueci-me que Vexa anda aí pelos teatros. o editor JdB reparou que eu esqueci o título. devia ter-lho dedicado, claro. Ó A. 'BORA À MERDA DO TEATRO?
beijos
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