Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico.
Há algumas semanas, alguém que me lê regularmente perguntava porque vou escrevendo menos aos Domingos; depois de me ler algumas vezes, uma outra pessoa dizia que havia dois joões – o que escrevia começando com a frase que encima este post, e o que redigia temas sobre assuntos do dia-a-dia (preferindo, claramente, este último…); por último, uma terceira pessoa sugeria que eu não matasse o cronista que escreveu em África sobre karaoke, danças com beldades africanos, cenas da vida quotidiana no Zimbabwe.
Quando distribuí os dias da semana pelos meus bloguistas convidados, arroguei-me o direito de ficar com os Domingos, para, segundo disse, fazer a minha militância católica. Independentemente do que cada um escrevesse, gostaria que um dia fosse dedicado, como diria o Eça com algum desprimor, às coisinhas da religião.
Nem sempre tive inspiração; aconteceu cruzar-me com textos que ilustravam, melhor do que eu, o que era importante naquele Domingo; por último, mas não menos importante, o facto é que não sei o suficiente para me entender digno de subir a um púlpito virtual e debitar ensinamentos. O que penso, o que sinto, aquilo que defendo, assentam, na maioria dos casos, na minha própria experiência pessoal, em sete ou oito anos de voltas e reviravoltas na vida. Aqui e ali senti que talvez devassasse a minha vida interior expondo-me da maneira que o fazia. De tal forma foi, que voz amiga me alertou: o blogue não serve para se mandarem recados. Por tudo isto me coibi, por vezes, de escrever: a maçada da repetição, a falta de inspiração, o dar espaço a quem o usa melhor do que eu.
Tal como referi acima, muitos foram os sábados – dia em que normalmente redijo os textos de Domingo - em que fui confrontado com o drama da folha em branco. Faltava-me a sapiência e a inspiração. Falar daquilo que me parecia importante era repisar temas que fui abordando ao longo das várias semanas: o desafio da tolerância, do segundo olhar, das segundas oportunidades; a dimensão libertadora do perdão, o lado luminoso da vida, a oração como elemento pacificador do nosso interior; a sensação, de alguma forma exaltante (difícil de explicar a quem não a viveu) do despojamento que nos surge pelas dificuldades da vida; a alegria das convicções que se perseguem; o dom da certeza que nos vem por via do amor.
Um bom vendedor terminaria aqui o seu exercício. Despedia-se, e deixava na bancada um produto todo ele feito de ânimo, de vontade, de crenças firmes e seguras. Assinaria JdB, um homem que sabe o que quer e para onde vai e sairia radiante pela direita alta, com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos. Infelizmente, a actividade comercial nunca foi o meu forte. E por isso, por detrás desta fezada com que se faz estrada, está a angústia da incerteza, o drama da insegurança, a pergunta constante sobre se é este o caminho, se é esta a forma de ganhar o Céu, qual a via que se escolhe nas várias encruzilhadas, como se faz a gestão da consciência, como se vive o dia-a-dia sem perder de vista algo mais importante, e que está para além do desfocado. A frase que me disse um dia um padre, que me dá o gosto de ser confidente e amigo, é terrível, como o é tudo o que nos incomoda: podemos nem sempre saber o que está certo; mas sobre aquilo que está errado não temos normalmente dúvidas.
Tenho inúmeras motivações para a minha escrita, seja sobre que tema for: o divertimento, a catarse, a descompressão, a vaidade, a satisfação de um pedido. Mas sou também movido por uma necessidade de reforço interior dos meus próprios convencimentos. Como se os que me lêem fossem apenas ouvintes do que tenho, quero e preciso de dizer a mim próprio.
Adeus, até ao meu regresso…
JdB
Em A Capital, do Eça, alguém diz para um que está em frente a uma folha de papel em branco: eu conheço a situação, é medonha.
ResponderEliminarPai
O teu pai é fantástico. Um viva ao teu Pai, João! Rita Ferro
ResponderEliminaraiiiii, por momentos assustei-me, achei que você se ia despedir. Nem li o texto como deve ser; dei um salto até ao fim do post e só descansei quando li adeus "até ao meu regresso" e não um simples adeus ponto final.
ResponderEliminarSe a opinião, pedido, ou mesmo súplica de comentarista vale alguma coisa, então opino, peço-lhe, suplico-lhe que não deixe de escrever sobre a sua condição de católico; não deixe os Domingos em mãos alheias, mesmo que tais mãos sejam ou fossem mais sábias que as suas. Não há maior sabedoria que aquela que vem coração. Já tenho por hábito começar os meus Domingos lendo as suas homilias (:-) brinco) e às vezes na Missa das 7h, onde vou, dou comigo a fazer paralelo entre a sua e a do Padre, rs.
Fique sempre....
Sexta à noite, assisti(vivi) a um momento especial.
ResponderEliminarE pensei em si, em como haveria de gostar de o sentir e ver, e certamente veria com uns olhos de ainda maior admiração e paixão do que eu.
Fui ver convencida que assistiria a um espectáculo de "gospel infantil" e deparei-me com um "Godspell", pelo coro infantil da Paróquia de Gulpilhares (aqui tem um niquinho,http://www.youtube.com/watch?v=vLDB8RgktP4)
(se o quiser ver na sua paróquia/freguesia, o grupo acederá a faze-lo...)
E a surpresa, de ver durante 2 horas, cerca de 40 crianças em palco com idades entre 5 e 16 anos a encantar, cantar, representar, dançar o músical Godspell baseado no evangelho de S. Mateus, foi tremendamente gratificante.
Ver o trabalho e a dedicação, o talento e a entrega destas crianças (e pais ), encheu-me as medidas naquela noite.
Não sendo católica, sigo valores Crísticos, e senti a importância e o valor daquele trabalho e daquele momento especial.
Como especial é este seu texto, onde me revejo.
... nunca soube vender o meu peixe, não herdei esse talento que meu querido pai desenvolveu em terras irmãs...
...e apesar de não saber por/para onde vou, sei por onde não quero ir
...e as dúvidas, as angústias, as fraquezas, as apalpadelas no caminho, os fracassos, o enigma das encruzilhadas,(...), dão essa dimensão humana, esse lado lúdico e pedagógico de aluno em eterna aprendizagem, de criança a crescer, de semente que germina até vir a dar flor, ou fruto, ou sombra, ou lenha...
Seja qual for, cada contributo conta e é especial, porque todos o somos, e todos procuramos o mesmo
(alguns ainda não deram conta, levarão mais tempo, mas todos chegaremos a esse ponto)
...e volte, com a 'fezada' que entender, 'vá onde o levar o coração'.
até ao seu regresso...
Também desde que o descobri, neste blogue com uma das frases que mais me comoveu na infância, "adeus, até ao meu regresso", que via no Natal, na televisão, de jovens soldados em África, não dispenso os seus posts sempre inspiradores.
ResponderEliminarE não, não me parece nada evangelizador...
Este post, por exemplo, tocou-me muito. Como católica, tenho procurado agir segundo o tal "bem", valores que interiorizei depois de os pensar e sentir.
E adoro Parábolas, por exemplo, embora saiba que me vão levar o tempo da existência terrena para as compreender...
É também por isso que gosto de o ler.
Ana
Caro amigo,
ResponderEliminarDúvidas, todos as temos. S.Pedro ou S.Paulo também as tiveram!
De resto, faço minhas as palavras da MAF, e espero continuar a ler-te aos Domingos. Podes crer que me faz (muito) bem.
Um abraço,
fq
ahhhhhh cããão ! rsrssrsrrs
ResponderEliminarJá me chamou prestidigitadora, não preciso de dotes especiais para intuir mais uma desinstalação. Obrigada por se revelar e anunciar um novo salto evolutivo.
ResponderEliminarVenha sempre, junte-lhe o sopro e traga essa alma renovada.
Beijinhos
eu gosto muito desta missinha dominical J.
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