Cheguei 6ªfeira de madrugada a S. Paulo. Lembro, sem saudade e como primeiro impacto, uma espera de duas horas para sair do aeroporto: filas para a Polícia Federal, para passar a alfândega, para olhar com uma desmoralização ensonada a ausência da minha mala, levada por engano pela Vivian Leite (não, não conheço) que diminuiu a importância das identificações apostas na pega.
Durante o fim-de-semana andei por aí com uma amiga local que me foi apresentando parte das suas rotinas de diversão. Na solitude, também, do viajante que já conheceu mundo acompanhado apenas pelos seus pensamentos, vi arte, lojas, ruas movimentadas, trânsito caótico, esplanadas à beira da Avenida Paulista, gente simpática e afável, preocupações com a segurança, carros trancados e vidros fechados, livrarias que apetece arrematar. S. Paulo será melhor para se viver durante algum tempo do que para veranear por poucos dias.
A partir de ontem o caso mudou de figura. Até ao final da semana represento a Acreditar na reunião anual do ICCCPO, a organização mundial das associações de crianças com cancro.
Na mesma semana almoço regionalmente no cosmopolita e ruidoso Consulado Mineiro, entregando o meu palato (salvo seja) a um rabo de boi estufado com agriões e arroz; passeio pelo parque Ibirapuera onde visito uma exposição afro-americana e o museu de arte moderna; no Astor, lá para a Vila Madalena, provo uma caipirinha de caju e um bolinho de bacalhau; conheço gente local, que me presenteia com um sorriso e um sem-cerimónia.
Na mesma semana, repito, assisto a apresentações de survivors (continuo a não gostar da tradução sobreviventes), oiço falar de tumores cerebrais, de cuidados paliativos, de partilha, de fim de vida de crianças, de cancro, de cancro, e de cancro naqueles que deviam brincar, não ser tratados.
Uma semana de luz e de sombra, de escuridão e de claridade, de esperança e recordações dolorosas. No fundo, no fundo, uma semana que reflecte a vida de muitos de nós, balanceados entre os dois lados de uma mesma moeda. Usando a fórmula com que termino alguns escritos, Acreditar é também isto...
Porque a vida é também música, oiçamos Caetano Veloso explicar como vê S. Paulo.
Adeus, até ao meu regresso...
Caetano vê 'assim' São Paulo. E nós, através dos olhos do JB, vemos também.
ResponderEliminarCoisa bonita, esta cosmovisão partilhada, n'é?
Acreditar é também 'isso'.
Flores,
gi.
J, se não recuperar a mala, pode-me trazer os 20kg em goiaba?
ResponderEliminarQue doçura, que delícia de balanço... nem sei se S. Paulo merece tanta beleza! pcp
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