06 junho 2010

Domingo... Se fores à Missa!

EVANGELHO Lc 7, 11-17
Naquele tempo, dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim; iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: «Não chores». Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te». O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe. Todos se encheram de temor e davam glória a Deus, dizendo: «Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo». E a fama deste acontecimento espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas.


Não sou teóloga e nem sequer sou grande conhecedora da Biblia, confesso, por isso há certos temas, certos evangelhos que, num primeiro impulso, me levam a pensar :" Ah, isto não é para mim" ou "Isto não é dos nossos tempos !". O evangelho de hoje, no qual Lucas nos conta como Jesus ressuscitou um jovem, é um desses evangelhos. A minha primeira reacção, ao lê-lo, foi algo como ... eu não tenho poderes para ressuscitar ninguém; Jesus fazia estes grandes gestos, por intermédio do Pai, para que as pessoas vissem e acreditassem. Isto não é para mim !

Normalmente, não dispensaria um segundo mais a pensar no Evangelho, até chegar à missa e ouvir a homilia; mas porque hoje é Domingo sim, dia do meu post, e não gosto de desiludir os eventuais (será que haverá algum ?) leitores desta crónica, tive mesmo que me dedicar um pouco mais à interiorização desta "ressureição". Em boa hora o fiz. A nossa mente pode ser muito traiçoeira e levar-nos a desculpabilizarmo-nos e a lavarmos as mãos perante situações que não nos tocam, não nos afectam ou não nos dizem respeito. Quando isso acontece, a única saida é usarmos o nosso coração, a nossa alma, pois só ele tem poderes para dominar a mente. Este post é, pois, escrito à revelia da minha mente. São os dedos que teclam, mas é o coração que comanda. É a mente que define as palavras, mas é o coração que as escolhe.

O milagre da ressureição, interdito a qualquer um de nós, na sua verdadeira dimensão de trazer de novo à vida alguém que estava morto, opera-se, no entanto, tantas e tantas vezes na nossa vida, sem muitas vezes darmos por isso, numa outra dimensão que não deixa de ser, também ela, ressureição. Falo da ressureição não à vida física, corporal, mas à vida espiritual, à vida dos bons sentimentos, à vida plena de alegria e de compromisso. Todos nós temos, em nós mesmos, o poder de ressuscitar alguém de uma vida sem sentido para uma vida melhor. Às vezes um simples sorriso, uma palavra certa, um abraço oportuno opera, no outro, o milagre da ressureição; às vezes é preciso ir mais longe, fazer mais, dedicarmo-nos a uma causa, a um movimento de solidariedade, desinstalarmo-nos para conseguirmos que se opere o milagre da ressureição; às vezes, muitas vezes, nem sequer assistimos ao próprio milagre, lançamos a semente, regamos e o milagre opera-se tempos depois, já nós não estamos em cena. O que importa é acreditarmos que existe, em nós, através do Pai, o poder para operarmos esses pequenos milagres da ressureição. O importante é sentirmos que o Pai precisa de nós para operar esses milagres. O importante é pensarmos que conseguimos operar esses milagres. O importante é aceitarmos essa missão. Se toda a humanidade, sem excepção, operasse nem que fosse um único milagre em toda a sua vida, todos os dias estariam a acontecer milhões e milhões de milagres de ressureição.

Domingo Se fores à Missa ....... Opera o teu milagre da ressureição !

Maf

3 comentários:

JdB disse...

Maf: gostei do seu comentário e gostei ainda mais de o reler depois de ter ido à missa. O prior do Estoril começou a homilía com uma pergunta: o que é o contrário da morte? Eu sorri ingénuo, respondendo o óbvio - vida. Ele sorriu perante a resposta errada de todos e corrigiu. O contrário da morte é o amor. Acho que esse conceito também está de alguma forma espelhado no seu texto.
Obrigado,

Anónimo disse...

Gostei muito, maf. Bem dizia Cristo que os homens poderiam operar milagres em nome Dele. Esses milagres são as pequenas ressurreições de que fala, penso eu. Que passam por tudo o que falou (o gesto, o sorriso, o abraço, o empenhamento, a generosidade, o sair de nós) e que se resume ao que me dizia hoje um amigo meu, convertido muito tardiamente: ser cristão resume-se a amar o outro como a nós próprios. Falamos da religião do Amor. A tal ponto que acreditamos num Deus que se fez Homem e que ressuscitou. Tudo o resto são balelas (nas palavras dele). O Cristianismo tem como enfoque o Amor. Mais nenhuma religião, que eu saiba, o tem a este ponto (tem sempre, mas não a este ponto): o budismo e o hinduísmo, e as religiões asiáticas, por exemplo, procuram a verdade, a libertação, mas a perspectiva é muito individualista, muito centrada no eu, e na libertação do ego. Os muçulmanos centram-se no seguir o profeta e um Deus de tal forma abstracto, ainda que poderoso, que não pode sequer ser representado, é a palavra escrita e oral que tomam esse papel (a palavra torna-se sagrada). Os judeus acreditam ainda num Deus que está para vir e, do que sei, dão aos rituais uma importância imensa ... isto dava uma discussão sem fim. O que eu quero, no entanto, dizer, é que o Amor é o centro do ser-se Cristão. Um Amor abstracto e um Amor concreto. Um Amor pessoal, que se manifesta na nossa relação pessoal com Deus, e um Amor partilhado. Um Amor que orienta e um Amor que liberta... nunca mais acabava de falar. Obrigada, Maf, gosto de a ler. Tem o coração nas pontas dos dedos. pcp

maf disse...

Obrigada JB e PCP pelos vossos comentários; concordo totalmente convosco .... o Amor é de facto a única razão da n/ existência.
PCP, gostei especialmente da sua ultima frase :-)
Obrigada
maf

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