02 julho 2010

desculpa-me as palavras

(in memoriam de eric rohmer)

eu digo:
sou um coração partido,
uma canção perdida,
uma luz à beira do ocaso,
uma palavra sem asa,
uma formidável léxico novo,
uma ruína e uma casa.
eu minto:
sou uma árvore futura,
uma sede insana,
uma vertigem,
o deserto e a sua miragem,
um fome desumana,
uma centelha esculpida em fi
ligrana.
eu creio:
sou nem coisa nem loisa,
um caso perdido,
um desmando,
um rio seco,
um fado em desalinho,
um completo desvario.
uma anomalia estatística,
um teorema insolúvel,
uma equação impossível,
um reino de cristal,
gelo em pleno verão,
o inverno mais austral.

eu sinto. e sinto tanto.
eu sinto-me. e sinto-me tonto.
eu sinto-te.

e sinto muito.


gi.

2 comentários:

  1. Bom dia Gi,

    Estava com curiosidade em saber quem foi este Rohmer que o Gi cita de vez em quando. E encontrei isto:

    «Rohmer was the last of the French New Wave directors to become established.
    ...
    Rohmer was born Maurice Henri Joseph Schérer (or Jean-Marie Maurice Schérer in Nancy, France, the son of Mathilde (née Bucher) and Lucien Scherer.
    ...
    Rohmer's films concentrate on intelligent, articulate protagonists who frequently fail to own up to their desires. The contrast between what they say and what they do fuels much of the drama in his films.»
    in
    http://en.wikipedia.org/wiki/%C3%89ric_Rohmer

    http://www.videodetective.com/titledetails.aspx?PublishedID=727193

    Palavras bonitas, as suas.
    ML

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