era o dia seguinte à vitória de nuestros hermanos
corolário glorioso das olimpíadas de noventa e dois
vinte anos quase de esforço dedicação devoção
agora a glória (o lema do leão tem afinal préstimo linguístico)
pensas como é difícil escrever sem pontuação
mas não naquele jeito moderninho tão português
antes de uma forma verdadeiramente refundadora
da respiração dos leitores (e respirar é viver)
querias à força meter no poema o manuel de freitas
que te inundou a tarde e a noite por entre futebol
e alegrias estranhas porque não tuas porque não vivas
tal como querias tão-só dizer mostrar lembrar
o quão difícil pode ser escrever poesia logo pela manhã
sem teres à mão fogo metafísico as dores vividas do dia
uma coisa qualquer que funcione como fulminante fulminante
(adjectivo e substantivo convém explicar este uso duplo
da palavra fulminante ao mesmo tempo mecânica de repetição)
aprendeste ontem que o poema-qualquer-poema não deve ter
palavras a mais nem palavras a menos antes as justas
daí ser tão difícil de praticar com a mestria que não ousas
mas dizias já lá bem atrás que é difícil escrever poesia
de manhã tal como é difícil escrever poesia em dias claros
ou como neste preciso e cartografado hoje aqui estou sim
em que quando te deitares serás provavelmente um tio crente
nos mistérios da vida outra vez e em toda a vitalista
crença de que às vezes se a poesia mata outras tantas te salva
da prosaica prosa da vida como se a poesia mesmo sem acentos
e demais pontuação recusasse o papel testamenteiro e vil
que muitos lhe outorgam não hoje dizes para ti próprio
enquanto olhas o relógio que marca umas imprecisas dez
não hoje e recusas o abraço de urso da poesia enquanto
improvavelmente te diriges sózinho da margem para esse
estranho e externo a ti país - o da vida e o da alegria
gi.
Bom dia gi,
ResponderEliminarCurioso. Não há pontuação. Frases que são como linhas sem fim passando imagens e coisas sentidas só com intervalos - espaços (visuais). Diferente.
ML
AAAAAiiiiiiiiiii :-)
ResponderEliminarMaf