Em algum momento da vida o inesperado torna-se esperado, o inimaginável real e o inaceitável torna-se, pela força das circunstâncias, aceitável.
Uma neblina intransponível figura o horizonte humano, abate-se a escuridão e o ser humano, enfraquecido, deixa que a sua esperança seja arrastada pelos ventos cortantes, sabe lá ele para onde. A sua habitual posição de lutador, de herói, vacila, ele retrai-se, baixa o olhar e deixa que os seus joelhos enfraqueçam até o derrubarem pelo chão. E assim permanece, deixando que as inúmeras e sucessivas imagens se apoderem da sua mente. Ele teme, teme tanto e é tão legítimo. O fim, seja ele de um capítulo ou de uma história, assusta-o. A noção de ponto final e de parágrafo dá ao nosso (sempre) herói uma perspectiva dura da vida já que não poderá reviver o passado no presente e no futuro. Cada capítulo é um capítulo.
E é perdido nestes pensamentos que o nosso ser humano se mantém ainda abatido sobre a terra, empregando todas as suas forças nas pálpebras de maneira a impossibilitar a abertura dos olhos. Ele deseja ser cego, acredita que a ausência de visão será certamente melhor do que aquela que os seus olhos lhe proporcionam. Domado pelo medo, sim, porque um herói também teme, ele coloca as mãos sobre a face, cerra os dedos, garantindo que nem um raio da vida real trespassa aquela camada. E nesta posição defensiva permanece por mais uns momentos.
No entanto, o seu coração, inferiorizado até ao momento por todo aquele medo e angústia, reage. Devagar, impõe-se sobre a mente, deixando que as emoções prevaleçam sobre a razão. E o nosso lutador deixa as mãos caírem; timidamente abre os olhos, encara a realidade e surpreende-se. Aos olhos do coração, o céu estava azul brilhante, apenas se sentia uma brisa acariciante. Mas ele via, no horizonte, um cenário escuro, sombrio, aterrorizador. Fechou de novo os olhos e jurou que, daí em diante, poria sempre os sentimentos à frente da razão, faria prevalecer o amor aos vícios.
Abriu os olhos, reergueu-se e seguiu caminho para um futuro longo....
Mariana Terra da Motta
Viver é isso mesmo. É preciso muita coragem. E a Mariana tem-na de certeza. Boa, gostei muito. pcp
ResponderEliminarFuturo longo.
ResponderEliminarQue expressão tão vasta, tão envolvente. O heroi vai saber fazer bom uso dessa vastidão. Gostei muito Mariana.
Mariana: é um gosto revê-la por aqui.
ResponderEliminarCom a experiência de quase 52 anos, percebi que os heróis nem sempre são os que saltam para cima de uma granada para salvarem os amigos. Há aqueles, verdadeiros heróis do quotidiano, que sabem que a coragem está em abdicar de algumas coisas em nome de um bem maior. Estes pequenos actos não são mediáticos, mas não deixam de ser corajosos.
No dim do seu texto "li" uma frase que não está lá: abriu os olhos, "viu quem estava ao lado dele" e seguiu caminho para um futuro longo.
Nessa altura tudo fez sentido para o herói da sua história.
JdB