talvez a imortalidade também seja isto:
fechar um livro, embriagado ainda
pelas palavras-bisturi,
e sentir os braços tremer,
a pele arrepiar-se,
o sangue a carburar em silêncio e fúria.
a transfusão de sangue entre autores e leitores
não é, em certas tardes, bonita de se ver.
mas, como junto a tantas camas de hospital,
há operações simplesmente necessárias.
nunca pensei aproximar médicos e poetas,
num arremedo de poema.
mas a verdade é que uns e outros têm,
à sua maneira, o dom da vida.
faltam aspas, no verso anterior, claro,
mas não é o meu melhor dote
exercer a pontuação mais exacta.
os médicos juram defender a vida "hasta la muerte",
discutindo acesamente a morte consentida
- basta ler jornais banais para o sabermos.
já os poetas não pensam nisso, aposto.
mas deviam.
também eles prolongam certas vidas,
para além da última oportunidade.
sem juramento ético,
alegam o quê estes miseráveis?
a grande irmandade do desespero
não aceita desistências.
gi.
Sem comentários:
Enviar um comentário