Acredito que todos nós temos gostos exclusivos. Com a nossa vontade muitas vezes ditada pelas modas e convenções sociais que nos impedem de comprar determinado carro, de viver em determinado bairro e que nos impelem a ler determinado livro e a ir jantar a determinado restaurante, é quase libertador gostarmos verdadeiramente de algo que mais ninguém conhece e de que gostamos porque sim. Não é chic, não nos faz pertencer a nenhum grupo selecto e não suscita nenhum julgamento social. E para além disso é só nosso.
Vem este relambório a propósito da música que eu resolvi postar hoje. É uma ária da ópera "Carmina Burana" chamada "In Trutina" cantada pela soprano Sylvia Greenberg.
Durante anos achei que mais ninguém conhecia esta ária. Não havia coro em Portugal que não cantasse a abertura e encerramento da "Carmina Burana", mas a "In Trutina", pensava eu, mantinha-se recatada para meu disfrute exclusivo.
Qual não é pois o meu espanto desagradado quando, ao pesquisar agora no YouTube, me dei conta que a "In Trutina" é afinal uma galdéria e que não há boca por que não tenha andado. Desde a Barbra Streisand até à menina que ganhou o concurso de talentos do Dakota do Norte, passando por todas as sopranos, até as mais obscuras, toda a gente já cantou a "In Trutina". A melodia continua a ser uma das coisas mais bonitas que conheço, mas a pureza, que decorria da noção de exclusividade, essa perdeu-se para sempre.
Só uma observação final sobre a letra da "In Trutina". O dilema da personagem é entre entregar-se amorosamente ou não. No fim entrega-se e nós ficamos muito contentes. Eu pelo menos fico.
JdC
Muito bonita, de facto, esta ária. Mas ainda achei mais graça à forma como a apresentou. É bom ter árias de ópera por aqui... Obrigada. pcp
ResponderEliminarPasso a ária que me aborrece.
ResponderEliminarSeduziu-me a partilha do desgosto. Afinal uma pessoa acha-se única e vamos a ver, há tantos com nós! Tsssssssssss
Bom dia JdC que bom vê-lo aqui.