A receita conta-se pelos dedos de uma mão. A farinha, da que estraga os olhos lindos da moleira, o isco, que vem sendo ressuscitado semana sim, semana também, desde ninguém sabe quando, o sal, que é a alma, a água, morna como a pele, e o amor, para garantir que tudo cresce. Os sentidos são a balança que, ao contrário dos mecanismos convencionais, aumenta de precisão com o uso do tempo.
O pão é como uma história sem segredos. Um bocadinho de atenção descobre o calor do forno, a moagem do grão e a dureza da água, o peso das mãos de quem amassou e o tempo que se esperou a massa.
O meu sono nunca se vai acostumar à noite dos outros. Não é insónia, nem é espertina, é ser padeiro, de berço e de vontade.
ZdT
2 comentários:
Se um padeiro o lesse, ficava fascinado com a sua capacidade de transformar uma actividade a que ninguém dá qualquer relevância - provavelmente ele próprio também não - em algo de tão nobre e bonito! Isso é arte! Obrigada. pcp
Eu é que agradeço as palavras pcp. =)
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