Filme. Revi o filme Momentos de Glória. Ative-me, desta vez, noutros aspectos para além da música, da interpretação, do encanto dos jogos olímpicos de há 80 anos, dos fleumáticos ingleses a fumar charutos e a escorropichar uísques. Fixei o escocês na sua recusa em correr a um domingo - mesmo que um dos fleumáticos colocasse, no ranking das importâncias, Deus a seguir ao rei - e na fé com que corria, porque o Altíssimo o tinha criado com um objectivo. Depois, numa amena cavaqueira, questionou-se o conceito de limites, de flexibilidade, até onde devemos ceder em nome de um bem maior (e qual será ele?), quais os princípios que constituem a nossa coluna vertebral e que são, por isso, inegociáveis.
Frases. O supérfluo não nos pertence, disse-me uma amiga, citando a mãe. Neste tempo de crise, em que tanto faltará a tanta gente, o pensamento parece-me ainda mais irrepreensível. A muitos de nós o que era básico já terá desaparecido, sendo substituído por outro básico que será inferior ao primeiro. Onde pararemos nesta descida a pulso? Do que poderemos prescindir sem que a nossa qualidade de vida mais simples seja posta em causa. Comida? Viagens? Menos livros? Um casa menor num sítio mais tristonho? É um exercício curioso, este de imaginar o que cada um de nós largará para se manter à tona. Falo de qualidade de vida, não de dignidade.
Livros. Depois d' O Tesouro Escondido, do Pe. Tolentino Mendonça, lanço-me à leitura do Ouvir, Falar, Amar, um livro em que a Laurinda Alves conversa com o Pe. Alberto Brito, sj. Confesso, sem desprimor pela jornalista, que merece a minha consideração, que comprei o livro pelo jesuíta, especializado em Relações Humanas e Comunicação Interpessoal. Cito apenas uma frase, não sei se há algo mais exigente do que procurar compreender uma pessoa, com a qual concordo em absoluto. Já aqui escrevi sobre o encanto do segundo olhar, esse desafio de ver além do desfocado que são as acções visíveis das pessoas. Não fixar a fofoquice da história, mas entender o que está dentro do personagem.
Estabelecimento hoteleiro. A tentar dar uma formação que não me envergonhe, recolho-me na Residence D. Manuel I (se bem que haja uma D. Manuel II) na bonita Lagos. Característica a assinalar - e que não é despicienda: proibida a entrada a crianças. Nesta altura do ano é indiferente, porque os meninos e meninas estão a aprender a ser Homens. Mas imagino a Páscoa, o Verão, e a algazarra infernal da miudagem a saltar sonoramente para dentro de uma piscina dá lugar ao sossego quase paradisíaco, entrecortado apenas pelo lingujar gutural do neerlandês adulto.
JdB
Bom dia JdB.
ResponderEliminarSupérfluo, desnecessário, excedente, sei lá, mas se não ambicionássemos mais do que temos, talvez estivéssemos ainda a viver nas cavernas. Aí não haveria espaços child-free, nem livrinhos para nos entreter. Talvez uns pauzinhos afiados e umas malgas com sangue de boi e argila para sujar as paredes com o jogo do galo.
Adoro os seus pensamentos. Obrigam-me a questionar o óbvio e a elaborar raciocínios antagónicos. Merci (em homenagem ao ATM)
Bom dia JdB,
ResponderEliminarMomentos de Glória
Respondo com um excerto de um excelente post do PO
« Les Miserables is my favourite stage musical drama. Based on Victor Hugo's epic novel, it focuses on the life journeys and struggles of several different characters who encounter each other against a background of huge political and social revolution during the first decades of 19th century France.»
http://adeus-ate-ao-meu-regresso.blogspot.com/2010/07/deixa-me-rir_29.html
«However, Valjean's past life catches up with him in the form of local police inspector Javert, who years before was Valjean's guard in prison, an implacable defender of law and justice against social chaos who does not believe that any man can change his nature. Javert arrests a man believing wrongly that he is Valjean. The real Valjean is forced to question himself, balancing his obligation to his factory workers against his promise to God, and he decides to reveal his true identity to save an innocent man - Who Am I?»
http://www.youtube.com/watch?v=6PXZ1nLiUZo&feature=player_embedded
Concordo consigo quando diz «É um exercício curioso, este de imaginar o que cada um de nós largará para se manter à tona» e acho que seria uma pergunta a fazer a nós próprios com frequência, à medida que surgem os desafios/dificuldades do dia-a-dia.
João, não me parece apenas um exercício curioso, mas recomendável. Mais do que pensarmos naquilo de que podemos abdicar, talvez o momento seja de abdicarmos já, antes que alguém nos obrigue. Custa muito menos quando é de iniciativa própria. ;-)
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