Em Portugal, as margens do Tejo
são pontuadas por inúmeros castelos-fortalezas, situados em locais estratégicos,
quase sempre com vistas soberbas.
Assim acontece com o CASTELO DE BELVER(1), um dos pilares da
Linha Defensiva do Tejo, localizado nas imediações de Abrantes, a c. 160 Km de
Lisboa. Merece bem uma visita, que poderá também incluir o Castelo de Amieira
do Tejo (muito próximo) ou um mergulho e canoagem numa das praias fluviais da região, como a da Ortiga(2). Um programa ideal para explorar lugares bem
preservados e, felizmente, ainda bastante selvagens.
Belver veio a ser construído
na vasta Herdade de Guidintesta, doada pelo segundo rei de Portugal, D.Sancho
I, à Ordem do Hospital de S.João de Jerusalém (mais conhecida por Ordem de
Malta ou Hospitalários), como baluarte contra os mouros. Habilmente, o monarca foi
repartindo por diferentes ordens militares o encargo de defesa e colonização de
regiões nevrálgicas para o país, dividindo para… não perder o contrôle do reino.
Nessa lógica, a zona de Tomar (entre outras) foi confiada aos Templários, que
mais tarde deram origem à Ordem de Cristo, por mérito de um rei visionário e empreendedor
– D.Dinis.
Alcandorado no topo de uma
colina da margem norte do rio, os Hospitalários ergueram o Castelo de Belver
(1194) com uma poderosa muralha em forma de pentágono irregular, para
acompanhar os desníveis do terreno. Na muralha subsiste ainda o caminho das
sentinelas, que acompanha todo o perímetro da fortaleza. A Sul fica a porta
principal, ladeada por dois torreões, enquanto a ocidente se encontra uma
entrada estreita, a dar para uma escarpa, conhecida por «Porta da
Traição».
No interior, destaca-se a
Torre de Menagem com três andares, de onde se alcança um horizonte assombroso.
A perder de vista! Ao lado fica a Capela de S.Brás (séc.XVI), em estilo
renascentista, com um retábulo de 24 nichos, destinados a acolher as relíquias
vindas da Terra Santa. Saqueado pelas tropas napoleónicas, o retábulo de estilo
italiano está hoje reduzido a imagens sem mãos, sem relíquias e sem jóias.
Vista exterior da Capela de S.Brás, séc.XVI
Exemplar magnífico da
arquitectura castrense medieval, Belver cumpriu em pleno a função defensiva, a
ponto de ser um dos seis lugares do reino escolhido para guardar os tesouros
reais. Soube, igualmente, incentivar o povoamento da região, estendendo-se pelo
lado nascente do monte (o menos abrupto) uma povoação bem antiga, que ali
encontrou abrigo, apesar do desnível do terreno. Muitas outras povoações
foram-se estabelecendo pelas redondezas, aproveitando as poucas planuras
daquela paisagem de morros rochosos.
Não por acaso, o castelo teve
obras de reforço num momento decisivo da afirmação da nacionalidade, durante a
Crise da sucessão, a mando do Santo Condestável (1383). Voltou a ser
intervencionado na Restauração da Independência, em 1640, embora toda a Linha
Defensiva do Tejo tenha começado a perder alguma relevância, após a conquista
do Algarve (1249).
Terá sido a primeira sede dos
Hospitalários, em Portugal, até se mudarem para o Crato (1350) e aí construírem
o Convento da Flor da Rosa, por iniciativa do Grão-Mestre da altura, pai de
D.Nuno Álvares Pereira. Assim se percebe a ligação de D.Nuno aos Cavaleiros da
Ordem do Hospital.
Outros dados curioso associados
à história do castelo, que se entrecruza, de múltiplas formas (algumas bem
imprevistas), com a história pátria: ali esteve preso o jovem poeta Luís Vaz de
Camões, e ali residiu durante uns anos a Princesa Santa Joana.
Muito danificado pelo terramoto
de 1755, foi restaurado na década de 40 do século passado, tornando possível a
visita a um monumento glorioso, que nos faz recuar até aos primórdios da
fundação de Portugal.
Vem também a propósito uma breve
referência à Ordem de Malta:
-dois dos mais eminentes
Grão-Mestres, a nível internacional, foram portugueses. Ambos do século XVIII,
distinguiram-se a nível militar, legislativo, político e ainda como mecenas das
artes e da ciência. Um deles, Frei D.Manoel de Vilhena continua a ser lembrado
em Malta por duas estátuas imponentes, pela fortaleza que leva o seu nome
(«Forte Manoel») e pelo «Burgo Vilhena», onde estão o teatro, o hospital, o
asilo e outras instituições benfeitoras criadas durante a sua vigência.
-Constituída em 1099 com o propósito de cuidar dos peregrinos que adoeciam na
ida à Terra Santa, os monges da Ordem do Hospital evoluíram rapidamente para
Ordem militar, a fim de apoiar os cruzados na conquista de Jerusalém aos sarracenos.
À semelhança dos Templários, também reportavam directamente ao Papa, beneficiando
de uma notável independência em relação ao poder régio. Daí a importância da
posse de um território para afirmação da soberania internacional da Ordem, que
lhe foi oficialmente reconhecida em 1310, com a instalação da sede em Rodes.
-Após a ocupação definitiva de Jerusalém pelo Califado, os Hospitalários conquistam
a ilha de Rodes (1310), mantendo uma presença militar influente no
Mediterrâneo. Em 1522, são forçados pelo Sultão otomano Solimão (o da grande Mesquita
de Istambul) a mudar-se para outra ilha – Malta – que lhes foi cedida pelo
Imperador Carlos V, tornando-se conhecidos por Cavaleiros da Ordem de Malta. Em 1571, desempenham um papel
decisivo na batalha de Lepanto, contendo o avanço otomano sobre o Ocidente.
-Em 1798, a Ordem é expulsa de Malta por Napoleão, em plena Campanha do
Egipto. Definitivamente destituída da sua função militar, a Ordem estabelece
sede em Roma, no Palácio de Malta, e retoma a vocação original, acudindo aos
doentes e necessitados.
-Em Portugal, a Ordem acompanhou o primeiro esforço de conquista aos mouros
e manteve presença até à extinção das ordens religiosas, em 1834, e consequente
expropriação de todos os bens. Ressurgiu em 1899, dedicada a causas
beneméritas.
A visita a castelos e fortalezas medievais poderá animar múltiplos
fins-de-semana ou até umas férias diferentes, resultando numa forma sugestiva
de visitar o país e revisitar a história
de Portugal. Belver foi só o passeio mais recente, participando num
programa muito bem organizado por um amigo, especialista em juntar cultura e
diversão (nota: Belver aparece no
filme no 37º segundo):
http://www.youtube.com/watch?v=jnB8-DhUdlg&feature=related
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) Aproveitando as indicações de um amigo-organizador
de grandes programas, aqui vão as dicas de acesso
ao Castelo de Belver, saindo de Lisboa: seguir pela a A1 e sair no nó de Torres Novas.
Continuar pela A23 e sair na placa Gavião /Belver (Saída Nr.13). Distância
a percorrer: c. 160 Km.
(2) Acesso
à Praia da Ortiga /Barragem
de Belver saindo de Lisboa: seguir pela a A1 e sair no nó de Torres
Novas. Continuar pela A23 e sair na indicação Mação /Ortiga (Saída Nr.12).
Seguir depois e sempre as placas com a indicação de “praia da Ortiga” e/ ou
“Barragem de Belver”. Distância a percorrer: c. 140 Km.
Mais um maginfico artigo.
ResponderEliminarTirei cópias para toda a família!
fq
Senhora Historiadora, Professora MZ! Bjs. pcp
ResponderEliminarSanta ignorância a minha.
ResponderEliminarAinda bem que há as MZs por aí e nos ensinam estas maravilhas.
Belíssimo.
Fico mto contente de poder sugerir programas giros, mais ainda em Portugal, que bem precisa de todos nós como turistas, como admiradores e divulgadores do nosso pequeno Grande país. Bjs a todos, MZ
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