Cá em baixo, passado
o sentimento da partida do anjo, as pessoas começaram a olhar-se. Em pequenos grupos, feitos segundo as amizades e
a semelhança de pensamentos, conversavam e questionavam-se sobre a partida do anjo.
O tema principal era, seguramente, a partida do anjo. Porquê nesta altura,
porquê desta forma, porquê aquele? Os habitantes mais ilustres, aqueles que
tinham segurado a mão daquele ser celeste enquanto ele partia, resignavam-se na
sua Fé, aceitando que os desígnios de Deus nem sempre eram entendidos. A sua
confiança era suficiente, no entanto, para sentirem o sossego necessário – o
anjo deveria estar num lugar bom e aprazível. Foi neste clima, feito de ideias
diversas, que a vida na terra continuou.
Um dia, que ninguém
sabe precisar qual, nem mesmo afiançar que tenha sido o mesmo para todos, os
habitantes daquela terra tiveram um sonho. Nessa fantasia nocturna o anjo
aparecia, sorridente, sossegado, com o estado de alma próprio dos
Escolhidos. Era numa imagem infantil, inocente e risonha que perguntava: ‘Toda
a gente questiona a minha partida. Uns zangam-se, outros estão tristes, outros
conformados. Por que razão perguntam tanto porque é que eu parti, e ninguém
pergunta porque é que eu cheguei? Será que ninguém consegue perceber o motivo
da minha ida à Terra?’
Passados os momentos
de espanto, os habitantes daquela localidade, que tinha vivido pacata e
sossegada, começaram a inquietar-se, naquele sobressalto saudável que aviva as
mentes e aquece os corações, e começaram a perceber, lentamente, que algo nas
suas vidas tinha mudado. Havia quem vivesse com mais Fé, havia amizades que
tinham nascido, amizades que tinham crescido. Havia quem sentisse que tinha de dar outro sentido à vida. Pairava naquela
comunidade o sentimento de que tinham sido tocados por qualquer coisa e esse
algo era mais importante porque não era material, não se podia tocar com os
dedos, sentir o cheiro. Agora sim,
percebiam o que o anjo tinha vindo fazer à terra, qual tinha sido a sua
verdadeira missão. Muitos realizaram que o grande desafio das suas vidas era
encontrar o amor de Deus nos gestos mais simples, nos momentos mais pequenos ou
nas manifestações mais modestas. Não só aquele amor que encontramos nos
sucessos e nas alegrias, mas também o que sentimos quando o percurso é adverso
e o futuro é tristonho. Nada acontece por acaso. Há um tempo para tudo na
vida.”
Foi hoje, mas há dez anos. Haverá quem diga que foi ontem, outros dirão que já lá vai tanto tempo. Afinal, o tempo de uma saudade não se mede pelas folhas de um calendário. Adormecido pela mansidão dos dias ou saliente num momento mais intenso, o desafio permanece: o que fazer com as alegrias e tristezas que nos acontecem? Dez anos volvidos, tenho uma correnteza de gente a quem devia agradecer individualmente: amizades antigas e firmes, afectos recentes e improváveis, ouvidos pacientes e bocas sábias, pessoas que me ensinaram a tolerância ou que viram em mim o que eu era à nascença. O que sou de luz lhes devo, porque quanto à escuridão não preciso de ninguém. A morte nada é, se conseguirmos fazer dela uma história de esperança. O farol que nos orienta no infinito permanece aceso apesar da diferença de caminhos, porque a felicidade que cada um persegue não é feita, afinal, de trajectos únicos. Presos à certeza de que Deus não é senão Amor, pomos os olhos no Céu de onde vem o Pó do Amor com que o anjo nos ilumina. Dez anos volvidos mantemos viva a última frase da oração que nos acompanhou: como vês, tudo está bem...
Você escreve tão, tão, tão bem, JdB. Em termos formais e em termos de conteúdo. Um grande beijinho por este dia. pcp
ResponderEliminarFaço minhas as palavras da PCP (excepto no beijinho!).
ResponderEliminarPouco mais posso dizer. Tens a minha amizade.
Abraço,
fq
Como não estás no skype, aproveito este meio para te mandar um abraço e para te felicitar por um texto magnífico.
ResponderEliminarMais uma fã incondicional da sua escrita.
ResponderEliminarAbraço imenso pelo dia de hoje e um beijo para os outros 3 eleitos a quem o anjo tocou.
Querido João,
ResponderEliminarTudo me é muito familiar, desde o desenho às palavras, aos sentimentos que ficam, às recordações que se revivem.
Graças ao seu Anjinho, o mundo ficou melhor...
Beijinhos
João, Deus não é senão Amor e a vida terrena não é senão o caminho para esse Amor. O seu Anjinho já lá chegou.
ResponderEliminarUm beijo
Maf
P.S. quanto à musica ..... perfeita para o post de hoje
João, Deus não é senão Amor e a vida terrena não é senão o caminho para esse Amor. O seu Anjinho já lá chegou.
ResponderEliminarUm beijo
Maf
P.S. quanto à musica ..... perfeita para o post de hoje