Novembro
foi palco de vários momentos maiores, que vale a pena recordar.
No coração de Lisboa
A meio do
mês, mais propriamente no Sábado 12 de Novembro, o anoitecer no Largo Camões tornou-se
memorável. A transbordar de música e dança, numa onda de festa contagiante.
Naquele
entardecer, as luzinhas de Natal faiscaram ao som do «All together now»,
trazendo para a rua a animada campanha da Optimus, que investe num refrão simples,
a funcionar em crescendo para juntar o maior número de vozes ao solista que
lança a música.
Em poucos
segundos, o Chiado estava no seu melhor, instalando-se um ambiente caloroso, em
que a multidão se organizava espontaneamente em volta do All Together Now, sem tensões nem atropelos, apesar do número de adeptos
aumentar segundo a segundo, de forma imparável. Ali, terá sido difícil alguém entediar-se
por pouco ou nada fazer, apesar de poder estar em situação crítica. Quantos
hoje não estão! Ou alguém continuar apenas atolado
nas preocupações legítimas por um futuro incerto. Ou alguém ficar-se pelo frenesim
atordoante do seu dia-a-dia. Um verdadeiro rastilho de alegria irrompeu naquele
recanto de charme, que mistura a arquitectura antiga com a vanguardista.
Já tinha
visto o spot na publicidade das salas de cinema. Mas faltava ver em acção a alegria
deste todos por um e um por todos,
porque cada um encontra rapidamente lugar no seio da multidão esfusiante, que
percorre um caminho longo para arrebanhar mais cantores. Apetece entrar naquele
cordão de gente feliz:
Fado
No último
fim-de-semana de Novembro, o mundo soube que o fado tinha sido reconhecido
Património Imaterial da Humanidade. Assim, mais uma obra de arte enriquece o friso imenso das criações humanas, desde
o alvor dos tempos.
Será das
expressões culturais mais impregnadas de portugalidade ou não cantasse a
palavra que apenas tem existência na nossa língua: saudade. Claro que há termos
próximos noutros idiomas, embora lhes falte a poderosa e estranha fusão de
claros-escuros que encontramos na lusofonia.
Com o fado,
recuperam projecção os fadistas e uma boa dose de um passado nacional, que tem
sido irresponsavelmente ignorado. Num certo sentido, todo o país está de
parabéns por este reconhecimento inequívoco do contributo pátrio para a Arte
global.
Como
efeito colateral benigno, quem ocupa o nº 1 na venda de discos em Espanha é uma
das promissoras fadistas da nova geração – a Carminho – descendente de uma
linhagem de renome no métier. Filha da Teresa Siqueira, é carinhosamente
conhecida pelo petit-nom, dispensando apelidos, a lembrar-nos que está em casa,
em família, quando canta o fado.
Numa
actuação soberba do «Perdóname»(1), em duo com o artista
espanhol Pablo Alborán, Carminho passeia-se nas bordas do Tejo, junto aos
palacetes em tons ocre e às colunatas de pedra do Terreiro do Paço. Tudo muito
lisboeta. Lindo e soft, semelhante àquela
harmonia fresca das aragens que invadem Lisboa à hora do poente. Misteriosamente,
sentimo-nos em casa:
Nestes
tempos de aparente fragmentação e esboroamento no seio da UE, é curioso que um
dos comentários ao vídeo sublinhe, sabiamente, os méritos da concertação de energias
na lógica do all together. Juntos
temos possibilidade de chegar mais longe: «Cuando
nos unimos surgen cosas como estas. Si
cuando nos unimos somos capaces de hacer maravillas como esta...?»
Se toda a
arte ajuda a rasgar fronteiras – sustentada na universalidade do Belo – a
música será o expoente da capacidade congregadora, por alargar o espaço de
comunhão aos territórios mais intensos
do ser humano, nas profundezas da alma. Talvez por isso o Natal convide à
música:
Maria Zarco
(a preparar o
próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) Vídeo produzido em 2011 pela Trimeca
Estudios y Producciones S.L.
Excelente selecção, MZ! Bjs. pcp
ResponderEliminarO mérito maior é de Lisboa, com um passado fantástico e um presente muito animado. Mas obrigadíssima pelo teu comentário, pcp querida. Bjs, MZ
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