05 dezembro 2011

Vai um gin do Peter’s?

Novembro foi palco de vários momentos maiores, que vale a pena recordar.

No coração de Lisboa

A meio do mês, mais propriamente no Sábado 12 de Novembro, o anoitecer no Largo Camões tornou-se memorável. A transbordar de música e dança, numa onda de festa contagiante.

Naquele entardecer, as luzinhas de Natal faiscaram ao som do «All together now», trazendo para a rua a animada campanha da Optimus, que investe num refrão simples, a funcionar em crescendo para juntar o maior número de vozes ao solista que lança a música.

Em poucos segundos, o Chiado estava no seu melhor, instalando-se um ambiente caloroso, em que a multidão se organizava espontaneamente em volta do All Together Now, sem tensões nem atropelos, apesar do número de adeptos aumentar segundo a segundo, de forma imparável. Ali, terá sido difícil alguém entediar-se por pouco ou nada fazer, apesar de poder estar em situação crítica. Quantos hoje não estão! Ou alguém continuar apenas atolado nas preocupações legítimas por um futuro incerto. Ou alguém ficar-se pelo frenesim atordoante do seu dia-a-dia. Um verdadeiro rastilho de alegria irrompeu naquele recanto de charme, que mistura a arquitectura antiga com a vanguardista.

Já tinha visto o spot na publicidade das salas de cinema. Mas faltava ver em acção a alegria deste todos por um e um por todos, porque cada um encontra rapidamente lugar no seio da multidão esfusiante, que percorre um caminho longo para arrebanhar mais cantores. Apetece entrar naquele cordão de gente feliz:




Fado

No último fim-de-semana de Novembro, o mundo soube que o fado tinha sido reconhecido Património Imaterial da Humanidade. Assim, mais uma obra de arte enriquece o friso imenso das criações humanas, desde o alvor dos tempos.

Será das expressões culturais mais impregnadas de portugalidade ou não cantasse a palavra que apenas tem existência na nossa língua: saudade. Claro que há termos próximos noutros idiomas, embora lhes falte a poderosa e estranha fusão de claros-escuros que encontramos na lusofonia.

Com o fado, recuperam projecção os fadistas e uma boa dose de um passado nacional, que tem sido irresponsavelmente ignorado. Num certo sentido, todo o país está de parabéns por este reconhecimento inequívoco do contributo pátrio para a Arte global.

Como efeito colateral benigno, quem ocupa o nº 1 na venda de discos em Espanha é uma das promissoras fadistas da nova geração – a Carminho – descendente de uma linhagem de renome no métier. Filha da Teresa Siqueira, é carinhosamente conhecida pelo petit-nom, dispensando apelidos, a lembrar-nos que está em casa, em família, quando canta o fado. 



Numa actuação soberba do «Perdóname»(1), em duo com o artista espanhol Pablo Alborán, Carminho passeia-se nas bordas do Tejo, junto aos palacetes em tons ocre e às colunatas de pedra do Terreiro do Paço. Tudo muito lisboeta. Lindo e soft, semelhante àquela harmonia fresca das aragens que invadem Lisboa à hora do poente. Misteriosamente, sentimo-nos em casa:




Nestes tempos de aparente fragmentação e esboroamento no seio da UE, é curioso que um dos comentários ao vídeo sublinhe, sabiamente, os méritos da concertação de energias na lógica do all together. Juntos temos possibilidade de chegar mais longe: «Cuando nos unimos surgen cosas como estas. Si cuando nos unimos somos capaces de hacer maravillas como esta...?»
 
Se toda a arte ajuda a rasgar fronteiras – sustentada na universalidade do Belo – a música será o expoente da capacidade congregadora, por alargar o espaço de comunhão aos territórios mais intensos do ser humano, nas profundezas da alma. Talvez por isso o Natal convide à música:




Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) Vídeo produzido em 2011 pela Trimeca Estudios y Producciones S.L.  

2 comentários:

  1. Excelente selecção, MZ! Bjs. pcp

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  2. O mérito maior é de Lisboa, com um passado fantástico e um presente muito animado. Mas obrigadíssima pelo teu comentário, pcp querida. Bjs, MZ

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