As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
30 abril 2012
29 abril 2012
Domingo, Se Fores à Missa!
Continuamos em tempo de Páscoa e o tema do Bom
Pastor é especialmente próprio para esta época. A afirmação de Jesus de que “o
Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas” tornou-se realmente palpável na sua
Morte na cruz. Aí Ele dá a vida, oferece-Se ao Pai por amor pelos homens.
Não espero que nenhum de nós, obviamente, leve à
letra esta capacidade de amor e doação, ao ponto de se sacrificar e morrer
pelos outros (embora até haja quem o faça, em circunstâncias extremas de
catástrofes naturais ou em clima de guerra); no entanto, ao invés de pensarmos:
“... pois, mas Jesus é O Filho de Deus e veio ao mundo com essa missão
específica, enquanto que eu sou um simples mortal, vivo no Séc. XXI e nunca na
vida hei-de chegar, nem de perto, aos Seus calcanhares... “, porque não
tentarmos transpor esta leitura para as nossas vidas actuais, loucas vidas
estas dos nossos tempos, em constante correria e trazer um pouco desse amor,
dessa doação ao mundo de hoje ?
A imagem do “Pastor modelo”, fala-nos de Cristo que
ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a
vida por elas. As ovelhas sabem que podem confiar n’Ele de forma incondicional,
pois Ele não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho.
Cada um de nós, nos seus ambientes, no local de
trabalho, na comunidade, no prédio onde vivemos, na praia onde passamos férias,
podemos também ser, um pouco, esse Pastor que “escuta” as suas ovelhas. Como
cristãos, deveríamos conduzir as nossas vidas de tal forma que os outros vissem
em nós um exemplo de conduta. Tal como dizia JC - o bloguista estreante - na
passada 5ª feira, é importante marcarmos a diferença numa sociedade tão
individualista como a nossa. As nossas
acções, as nossas escolhas não deveriam buscar somente o nosso próprio bem, mas
sim o bem dos que nos rodeiam. Uma atitude de partilha genuína, fará de nós
pastores naturais. Ao escutarmos as necessidades dos que nos rodeiam - e muitas
vezes essas necessidades mais não são do que um simples sorriso ou uma palavra
de alento ou um pouco do nosso tempo - estaremos a ser rosto de Cristo Pastor.
Para sermos pastores, não precisamos de estudos académicos ou de dinheiro ou de
status social; um pastor, o que faz é juntar as ovelhas perdidas e prover às
suas necessidades. Também nós podemos ser pastores, simplesmente estando
atentos aos mais necessitados, aos mais isolados, aos que perderam o rumo de
vida, aos adolescentes desorientados, aos marginalizados, aos que não conhecem
a Cristo, enfim, tanta gente que poderá ver, em nós, um caminho a seguir, tal
como as ovelhas caminham com o pastor.
Domingo Se Fores a Missa ............. veste a pele do Pastor!
Maf
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus.
«Eu sou o Bom Pastor.
O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas,
logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge,
enquanto o lobo as arrebata e dispersa.
O mercenário não se preocupa com as ovelhas.
Eu sou o Bom Pastor:
conheço as minhas ovelhas
e as minhas ovelhas conhecem-Me,
do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai;
Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas.
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil
e preciso de as reunir;
elas ouvirão a minha voz
e haverá um só rebanho e um só Pastor.
Por isso o Pai Me ama:
porque dou a minha vida, para poder retomá-la.
Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente.
Tenho o poder de a dar e de a retomar:
foi este o mandamento que recebi de meu Pai».
28 abril 2012
Pensamentos impensados
Caçadas
Quem rouba fruta chama-se caçador frutífero.
Dias mundiais
Já não há paciência para todos os dias serem dias mundiais de qualquer coisa.
Propõe-se o dia mundial do bocejo que, como toda a gente sabe, é contagiante, e facilmente toda a gente passaria o dia a bocejar.
Tribunais
Há muitos anos arrastou-se pelos tribunais um caso que envolvia a família Zoio e a firma Norte Importadora, que negociava em armamento. Um dia, encontrei um membro da família Zoio, que eu conhecia bem, e disse-lhe: é difícil separar o tiro do Zoio.
Não achou muita graça.
Petiscos
Os caracóis que fazem os cabeleireiros serão comestíveis?
Doenças
As doenças de fígado chamam-se apetite, não sei porquê, pois normalmente são devidas a sede e não a fome.
SdB (I)
27 abril 2012
26 abril 2012
Falando do nada
Olá a todos!
A minha escrita
carrega hoje uma tarefa que tem tanto de apaixonante como de exigente e
preocupante: transmitir pelo correr da
pena ideias e opiniões, convicções e
sensações que possam, no mínimo, aguçar a curiosidade do incauto e distraído
leitor, conseguindo a proeza, no final, de não provocar no mesmo uma tremenda azia
de arrependimento pelo tempo perdido.
A escrita
pode, na realidade ter um peso tremendo. Já Luther King o sublinhava, quando dizia que para fazer inimigos não era necessário declarar guerra a
ninguém…bastaria escrever o que se pensa.
Há quem utilize a
escrita como arma (defesa, ataque ou arremesso), como fuga ou escape…como
aliado.
Pessoalmente, hoje
e sempre, utilizo-a como ferramenta de partilha com os outros. Espero
consegui-lo hoje também.
A primeira
partilha de hoje é dizer-vos quem sou:
um homem de 48 anos, fruto do amor de dois seres oriundos de famílias
extraordinariamente humildes e com quase total ausência de formação académica.
Ao invés, foram abençoados com uma formação carregada de regras justas e orientadoras
do homem que procura o bem alheio… a esse testemunho resolveram adicionar à formação dos seus filhos amor, atenção e verdadeiro e austero sentido
de responsabilidade. Este é (felizmente para mim) o meu legado, do qual muito me orgulho e honra
e que me transportou até ao homem que hoje se “apresenta” perante vós.
Trabalho há quase
26 anos na indústria farmacêutica e sempre na área comercial. Esta indústria
não é, como todos sabem, a melhor escola de virtudes, nem a mais indicada como
grande condutora de homens… os caminhos sinuosos de lucro fácil ou de falta de
ética confrontam-nos infelizmente muitas
vezes no nosso dia-a-dia profissional. E, como tal, o homem, esse ser fraco e
vacilante, sente muitas vezes a vontade de experimentar outros caminhos que não
verdadeiramente os seus. Tudo isto somado à tremenda falta de valores com que
se vão pautando as ditas sociedades civilizadas de hoje. E eis que surge O momento tão importante em
tantas ocasiões da nossa vida: a tomada de uma decisão, a escolha de um
caminho, conseguindo renunciar ao fácil
ou desprovido de esforço mas muito proveitoso aos nossos olhos. E a maneira
como aceitámos ou não o nosso legado…. como o transformámos, adaptámos ou
enriquecemos adicionado aos valores e ideais entretanto por nós escolhidos
devem, pois, levar-nos a acertar o maior
número de vezes na escolha certa. E, se assim for, é razão para nos darmos como
felizes e devedores de graças a Deus: é sinal que temos
carácter, honestidade, frontalidade, ética
e força suficiente para fazer face aos principais obstáculos que se nos
deparam frequentemente.
E essa é hoje a
minha felicidade: o poder olhar para trás e poder ter orgulho no caminho
traçado e no respeito granjeado. Pelo reconhecimento de dezenas de
profissionais da Medicina na diferença da minha postura sem esperar mais por
isso. E que me duplica forças para
acreditar que sim, é sempre possível dizer NÃO ou BASTA! Sim, é possível ser
diferente e para melhor! Sim, é possível e necessário darmos testemunho da
diferença mesmo quando nos assalta a sensação de remarmos sozinhos ou de sermos
apelidados de utópicos.
Como gostaria de
terminar esta minha singela partilha de hoje?
Que devemos estar
mais atentos ao legado que recebemos e utilizá-lo mais e melhor…
Que o devemos
saber honrar e agradecer devidamente…
Que vale a pena
continuar a lutar por nós e pelos outros..
Que não somos
utópicos antes porta-estandartes da diferença que nos transporta a um mundo melhor
e mais apetitoso…
Que somos
responsáveis por uma grande e árdua tarefa, mas sempre com a certeza que temos o
melhor dos aliados connosco …
Este vosso irmão
em Cristo
JC
25 abril 2012
Diário de uma astróloga – [24] – 25 de Abril de 2012
O tema astral do
25 de Abril
Não pude deixar
escapar a coincidência da data! Nunca
tinha olhado para a carta do dia 25 de Abril de 1974, porque quando comecei a
perceber astrologia com profundiade, esse dia já ia longe na minha memória. O
dia 25 de Abril tinha sido substituído no meu íntimo pelo dia do enterro do meu
Pai que se realizou 25 anos mais tarde. Hoje vou rever o dia em que fui
acordada por um telefonema da minha Mãe que vivia perto do Radio Club Português,
excitadíssima, porque a sua varanda tinha sido ocupada por militares “...coitados estão cheios de fome…” a quem
ela e as suas empregadas serviam o pequeno almoço.
A história baptizou
este dia de primavera de 1974 como “Revolução dos cravos”, mas em termos astrológicos,
é a carta de um golpe de estado militar, e não de uma revolução. Uma revolução
implica a participação activa da população no derrube do governo vigente e como
veremos a população estava sobretudo curiosa.
Nas cartas
mundanas, isto é, nas que se referem aos assuntos do mundo físico e politico,
os símbolos astrológicos tem um significado ligeiramente diferente dos da
astrologia pessoal. O Ascendente representa a imagem duma nação para o
exterior. O Medium Coeli (MC), o ponto
no topo da carta assinalado com uma seta, representa o Governo. O Imum Coeli
(IC) é o ponto oposto ao MC no fundo da carta que representa o território
nacional e a oposição ao governo. A Lua simboloza a população, Marte os
militares, Saturno as instituições organizadas, hierárquicas assim como instituições
repressivas. Úrano representa o processo revolucionário, e Plutão significa domínio,
eliminação, desintegração e transformação.
Vejamos a
cronologia dos acontecimentos e o seu equivalente astrológico:
00:20 –
Transmissão de Grândola Vila Morena, sinal para o desencadear dos
acontecimentos. O ponto mais alto da carta, o MC (governo) está precisamente entre Úrano (mudança / revolução) e Plutão
(desintegração e transformação).
Às 5:15 o
terceiro comunicado radiodifundido
pelo MFA aconselha a população a permanecer em casa. A Lua (população) na casa 3 (comunicação), ouve, mas em Gémeos (curiosa, desobediente), vai para a rua, muito influenciada por Neptuno
(ilusão, confusão, caos) espalha-se como um verdadeiro mar e com grandes ilusões.
Às 11:45 o MFA anuncia que a situação se encontra dominada de Norte a Sul. Plutão (domínio) no IC no fundo da carta (território)
imposto (quadratura) por Marte (militares) e Saturno (organização, isto é as
Forças Armadas) juntos no signo de Caranguejo (aqui uma referencia há mãe
pátria pois o signo não é especialmente aguerrido).
18:00 – Spínola recebe a rendição de Marcelo Caetano no
Carmo. Plutão no Ascendente, a face
da nação está transformada, o mundo exterior está ao corrente dessa transformação.
Marte e Saturno (forças armadas) estão
agora no topo da carta no MC na posição
de governo. No céu, mais exactamente no grau do MC está presente a estrela Alhena, que se encontra no pé de
Pollux, uma das figuras da constelação Gémeos, associada com a ideia de movimento.
A simbologia perfeita para o Movimento
das Forcas Armadas no poder.
Infelizmente às 20:30 verificam-se confrontos armados junto da PIDE com
feridos e alguns mortos. Marte, planeta da guerra, das
armas, Saturno, instituições
nomeadamente as repressivas e a Lua
(população) juntam-se na com Casa VIII,
a casa do perigo e da morte.
Acabo com um
texto adaptado por mim duma reflexão de Charles Harvey, astrólogo inglês, em
“Mundane Astrology”. Constatar o sincronismo entre os acontecimentos
e símbolos astrológicos a encaixarem-se nos seus devidos lugares com precisão,
faz-nos questionar seriamente que poder realmente temos sobre os acontecimentos
externos…. Sem duvida que os militares do MFA deram razões precisas e
estratégicas sobre o quando e como do 25 de Abril, mas de uma certa forma - não na totalidade - as suas acções
reflectiam exactamente as intenções do Universo para esta época e para este dia.
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PARA OS AUDIOFILOS: Aqui fica o hino do MFA, “The life on the Ocean Wave”
(escolhida quem sabe se pela ligação de Marte/ Saturno ao signo de Caranguejo),
uma composição do no séc. XIX, em vários contextos:
http://www.youtube.com/watch?v=wcw-h2KGqIg – usada por Walt Disney na versão LP dos
Piratas das Caraíbas de 1966
http://www.youtube.com/watch?v=fAlSXeo-sBY – marcha tocada pelos Royal Marines ingleses
http://www.youtube.com/watch?v=SuCQzIJwpDI – é hino
da marinha mercante americana
http://www.youtube.com/watch?v=bM1iVFw8kqk&feature=related - e
até pelos gregos…
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AVISO: A lua cheia de 5 de Maio vai parecer enorme. Este fenómeno acontece quando
o perigeu – ponto da orbita em que o astro se encontra mais perto da terra –
coincide exactamente com a Lua Cheia. Espero que os informados leitores deste
blog tenham oportunidade de ao ouvir um comentário sobre o tamanho da Lua e
possam dizer displicentemente - Pois é, está no perigeu!
Luiza Azancot
24 abril 2012
Duas últimas
A música foi e continua a ser importante na minha vida.
Pese embora não tenha tido em pequeno muito contacto com ela, ou talvez acesso,
é certo que desde que consegui catrapiscar o meu primeiro transístor – onde se
ouvia musica, lembro-me especialmente do programa vespertino “rock em stock”, e
relatos de futebol – ela tem-me acompanhado sempre pela vida fora.
Penso com frequência que se não fosse o que sou, fruto
sobretudo das circunstâncias da vida e também da corriqueira “ fuga à matemática”,
gostaria de ter sido compositor e intérprete de rock, pianista ou jogador de
futebol (perdoem-me o ou!). E, se fui obrigado a deixar de jogar para evitar
mazelas de difícil recuperação, já no que respeita à música as possibilidades
técnicas de audição e de escolha têm-se ampliado grandemente nos tempos
modernos, e graças a Deus os ouvidos ainda vão correspondendo às necessidades.
É ouvindo música que normalmente me sinto mais
extrovertido, menos reprimido, mais alegre ou com a sensibilidade mais apurada.
Ela altera o meu estado de espírito, acalma-me ou agita-me, anima-me ou
torna-me mais sorumbático mas, depois de a escutar, fico sempre melhor. E tenho
sorte porque gosto de géneros musicais muito diferentes. Adoro ainda hoje
música ao vivo.
E, deveras importante e gratificante, através da música
cimentei grandes e duradouras relações de amizade. Poderia viver sem música,
obviamente, neste mundo em que tantos vivem sem coisas muito mais essenciais do
que ela. Mas seria uma vida diferente e seguramente muito menos excitante.
Simon & Garfunkel marcaram-me e à minha geração.
Deste duo excepcional escolhi duas músicas que espero que apreciem.
fq
23 abril 2012
Vai um gin do Peter's?
A Embaixadora de Boa Vontade da ONU (Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados) com mais glamour – Angelina Jolie – tem-se dedicado, por inteiro, a causa
humanitárias. Das difíceis.
No seu esforço intrépido por atenuar o flagelo dos párias
da sociedade, Angelina adoptou um bebé cambodjano, com quem se cruzou enquanto
filmava uma película de aventuras, na pele de Lara Croft, nos fantásticos templos
de Angkor! Adoptou outro do Vietname e ainda uma terceira de outra nação paupérrima
– a Etiópia. Visitou regiões asfixiadas pela indigência, onde chegar vivo ao
dia seguinte é uma aventura. Esteve em campos de guerra, arrastando paparazzis
e repórteres, para dar voz aos desalojados. Recentemente, realizou um filme
sobre uma guerra fratricida, onde o manto de silêncio expôs, indecentemente, os
alvos de uma feroz purga étnica, no pequeno estado da ex-Jugoslávia: a
Bósnia-Herzgovina. «NA TERRA DE SANGUE E MEL»(1) atesta o sofrimento do grupo mais
indefeso dos terríveis anos de 1992 a 1995, quando a etnia sérvia pegou em
armas para ajustar contas antigas (da II Guerra) com a comunidade muçulmana, que
dizimou selvaticamente. Terá sido dos piores genocídios depois da II Guerra
Mundial, segundo a realizadora norte-americana.
Os ajustes de contas (leia-se: as vinganças) nunca são
simples, complicando intencionalmente o que antes fora simples, apesar de tudo.
Sim, era relativamente harmoniosa a coabitação entre as diferentes raças,
religiões e civilizações que viviam naquele enclave pobre. Fui disso
testemunha, quando estive em Medjugorje, no final dos anos 80.
Mas sempre que se pretendem apurar culpas, reivindicar direitos,
punir e fazer justiça unilateralmente, pela lei da bala, o resultado é desastroso.
Porque nunca uma arma foi capaz de dar vida! Isto que é uma evidência, desde o
princípio dos tempos, persiste em ser também uma tentação. Um erro tremendo,
suicida! Naturalmente que embatemos no mistério do mal, puro e duro.
Argumentação do General Šerbedžija
ao filho, para justificar a guerra:
"We're doing this for our children, so that they would not have to go to war when they grow up."
"We're doing this for our children, so that they would not have to go to war when they grow up."
É por aí que a realizadora-argumentista envereda, optando
por um casting local(2), integralmente falado na língua
bósnia. Actores bem dirigidos dão corpo à história de amor, que corre em pano
de fundo, criando um epifenómeno insólito na onda de terror semeada pelos
beligerantes.
O filme é longo, permitindo-nos familiarizar com várias
personagens, perceber um pouco as suas motivações, onde alguns dos soldados
também revelam os paradoxos da sua difícil circunstância. No fundo, quase todos
são apanhados na mesma ratoeira, com pouco espaço de escolha: uns fadados para máquinas
de guerra e outros para alvos a abater impiedosamente.
As duas horas de película obrigam-nos também a sentir a
pressão galopante da luta, sedenta de mais sangue, numa escalada de poder
despótica, que rapidamente atinge níveis animalescos. Como é costume nas
beligerâncias: os mais fracos são os mais atacados, confirmando a regra
horrenda de que um mal arrasta uma avalanche de outros piores. Nesse sentido, vemos
a cobardia transfigurar-se em sadismo numa baixeza
totalmente indigna do ser humano (mesmo em situações de combate), ou a cupidez arranjar
perigosos incentivos na inveja e num
orgulho enraivecido pela mesquinhez e pelo desgaste da guerra (também do lado
dos vencedores). Infelizmente, a mediocridade invade as mentes e vale tudo,
i.e., quanto pior melhor!
Neste contexto, onde as vítimas são usadas e abusadas –
para escudos humanos, sexualmente (a estatística avançada no fim dispara cifras
assustadoras, de 50.000 mulheres violadas), em espancamentos ociosos,
assassinatos cruéis, etc. – a relação afectiva entre um oficial sérvio e uma
prisioneira muçulmana vai decorrendo ao ritmo frenético e precário do cerco que
se aperta em volta dos fiéis de Maomé. Para complicar a relação: ele é um
militar exímio e filho do general mais assanhado da guerra. Mas gosta muitíssimo
dela, só dela, diferentemente dos outros militares, que se vão divertindo com
umas e com outras. Já gostava antes e nunca parou de gostar e de fazer tudo para a ter por
perto. Em situação de alto risco, até do ponto de vista de equilíbrio
psicológico. Por seu turno, ela é muito gira, de
modos suaves e sofisticados, pintora de talento e também gosta dele. Já gostava
e terá gostado até ao fim… apesar do final suscitar dúvidas, depois de tudo o
que padeceu. De meter medo! Impressionante as vezes que rasou a morte, que foi
horrivelmente humilhada, para além da revolta crescente face ao massacre imparável
contra o seu povo.
Um amor absolutamente em contra-corrente: quanto tempo
resistiria? Quantas vicissitudes superaria? Em que bases se sustentava, afinal?
Sem quebrar o suspense do filme, sublinho
apenas momentos reveladores da posição dele (no lado do poder) a respeito dela:
o primeiro incidente, evidencia o quanto ele arriscou para estar com ela, numa discoteca
de muçulmanos; quando ela foi feita prisioneira, protegeu-a desde a primeira
hora, sem abusar da sua posição de força e sendo respeitador – toda a
intimidade da sua relação percebe-se que tem o acordo de ambos; as vezes que
poupou a vida a muçulmanos por pensar nela, foram uma constante na sua forma de
estar na guerra; o preço que pagou por a manter hospedada no quartel-general
sérvio foi elevado (embora ela estivesse mais desprotegida), como arrojada e
generosa foi a visita clandestina à galeria de arte de Sarajevo, para lhe dar
gosto a ela, uma apaixonada por pintura; a rendição dele – auto-assumindo-se
como war criminal – reportava-se
inteiramente a ela! Resumia o que mais fracassara na sua vida…
E, no entanto, tudo era tão mais complexo, porque a
extrema dependência dela relativamente a ele (subjugação!) perturbava toda a
relação, tornando-a doentia e frágil. Claro que o problema decorria, sobretudo,
da situação de conflito. Só que não é a
faca que mata, mas o coração do homem, como alertava João Paulo II. E o
excesso de poder sobre os outros, tende a perverter qualquer relação, até mesmo
as afeições mais profundas.
O filme faz-nos viver a aridez repugnante da guerra, sem
momentos de alívio. Banda sonora reduzida aos mínimos, a irromper no fim com um
fundo musical que enquadra a mensagem de alerta ético, de justiça histórica, em
texto sóbrio sobre fundo negro, num luto profundo.
A presença forte de uma pintora na trama dá pretexto para
imagens excelentes, com retratos em sanguínea, de uma expressividade incrível, além
de uma pintura mural gigantesca, a concluir o enredo – auto-retrato de Ajla. Ressalta
nele o olhar envolto numa sombra espessa, de um azul triste, a evocar as muitas
lágrimas choradas e mais ainda por chorar. Funde-se também com o tom dos olhos
dele, desgostosos e perdidos, já sem conseguir vislumbrar um futuro em
conjunto. Representa ainda a dor d’alma, bem mais aguda e indizível do que ferida aberta,
por onde jorra sangue.
Um filme intenso, pesado, que nos faz ter pena de não ter
sabido parar tanta carnificina. A realizadora lamentava-se por não ter aliviado
o sofrimento infligido na Bósnia. Mas, em diferido, a sua narrativa ajudará a
fazer jus a tanta crueldade escusada, pelo menos contra a população muçulmana(3) .
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
_____________
(1)
FICHA TÉCNICA
Título original:
|
IN THE LAND OF BLOOD AND HONEY
|
Título traduzido
em Portugal:
|
NA TERRA DE SANGUE E MEL
|
Realização:
|
Angelina Jolie
|
Argumento:
|
Angelina
Jolie
|
Produzido por:
|
Graham King, Angelina
Jolie, Tim Headington e Tim Moore
|
Fotografia:
|
Dean Semler
|
Banda Sonora:
|
Pelo compositor libanês, Gabriel Yared
|
Duração:
|
127 min.
|
Montagem:
|
Patrícia Rommel
|
Ano:
|
2011
|
País:
|
EUA
|
Elenco:
|
Zana Marjanovic (Ajla
- a muçulmana bósnia)
Goran Kostic (Danijel
- o oficial sérvio)
Rade Servedzija (o
general - pai de Danijel, Nebojša Vukojević )
Dzana injo (a irmã de Ajla),
etc.
|
Local das filmagens:
|
Bósnia-Herzegovina e Hungria (Budapeste)
|
Site oficial:
|
www.inthelandofbloodandhoney.com
|
Premiado
|
Globo de Ouro do Melhor Filme Estrangeiro
Menção Honrosa no Festival de Sarajevo
Stanley Kramer Award
|
(2) Compreensivelmente, a escolha do elenco foi feita sem revelar
o nome da realizadora, só desvendado depois de a selecção estar terminada.
(3) O filme está a levantar celeuma junto da facção
sérvia, que se sente injustiçada por esta visão do conflito. No entanto, o
desbaste da população muçulmana na Bósnia foi e continua a ser uma evidência
estatística.
Acerca de mim
- JdB
- Estoril, Portugal