19 agosto 2012

20º Domingo do Tempo Comum

Hoje é Domingo e eu não esqueço a minha condição de católico.

O "ato gratuito" é um gesto que nos salva. Uma das mais belas orações que conheço foi aquela encontrada entre os pertences pessoais de um judeu, morto num campo de concentração. Diz o seguinte: «Senhor, quando vieres na Tua glória, não Te lembres somente dos homens de boa vontade; lembra-Te também dos homens de má vontade. E, no dia do Julgamento, não Te lembres apenas das crueldades e violências que eles praticaram: lembra-Te também dos frutos que produzimos por causa daquilo que eles nos fizeram. Lembra-Te da paciência, da coragem, da confraternização, da humildade, da grandeza de alma e da fidelidade que os nossos carrascos acabaram por despertar em cada um de nós. Permite então, Senhor, que os frutos em nós despertados  possam servir também para salvar esses homens».

Recebi este texto do Padre Tolentino Mendonça (que vale a pena ser lido na totalidade aqui) no remanso do Castelo de Bode, com uma vista deslumbrante sobre a vastidão da barragem e com um silêncio entrecortado, apenas, pelas conversas e pelo ruído longínquo de um ou outro barco a motor. Há muito que acho o silêncio reconfortante e propício, não a neuroses, mas a introspecções ou laboração de ideias.

A oração de que fala o Padre Tolentino é particularmente bonita e tocante. Fala de perdão - que força interior tem de ter quem quer perdoar o carrasco! - e revela a capacidade do autor em olhar além do desfocado, das coisas óbvias e imediatas. Somos o que somos e a nossa circunstância. Mas também somos o que os outros fazem da nossa pessoa. O bem que há dentro de nós e que fazem ressaltar, mas também o desafio de sermos bons perante a maldade

Temos todos muito (vou eu presumir) para agradecer aos outros. Às vezes é bom lembrarmo-nos disto, mesmo que não consigamos verbalizar o agradecimento. Eu, pessoalmente, teria um ror de gente a quem dizer obrigado: gente que permitiu ou lutou para que viessem ao de cima as qualidades que tenho; gente que me ouviu pacientemente nos tempos difíceis e que nunca faltou com uma palavra de sossego ou de confiança; gente que leu, tantas e tantas vezes, aquilo que eu tinha a dizer a mim próprio; gente que me fez perceber que somos mais, mas muito mais, do que a evidência mais básica dos nossos comportamentos; gente que me disse o que eu não queria, mas que precisava de ouvir; gente que me disse não, mas ofereceu um abraço de compaixão; gente que...

Bom Domingo para todos.

JdB


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EVANGELHO – Jo 6,51-58

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
disse Jesus à multidão:
«Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.
Quem comer deste pão viverá eternamente.
E o pão que Eu hei-de dar é minha carne,
que Eu darei pela vida do mundo».
Os judeus discutiam entre si:
«Como pode ele dar-nos a sua carne a comer?»
E Jesus disse-lhes:
«Em verdade, em verdade vos digo:
Se não comerdes a carne do Filho do homem
e não beberdes o seu sangue,
não tereis a vida em vós.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
tem a vida eterna;
e Eu o ressuscitarei no último dia.
A minha carne é verdadeira comida
e o meu sangue é verdadeira bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em Mim e eu nele.
Assim como o Pai, que vive, Me enviou
e eu vivo pelo Pai,
também aquele que Me come viverá por Mim.
Este é o pão que desceu do Céu;
não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram:
quem comer deste pão viverá eternamente».

1 comentário:

  1. Obrigada João pelo texto lindo do p Tolentino e sobretudo pelas suas meditações.
    Beijinhos

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