Hoje é domingo e eu não me esqueço da minha condição de católico.
Socorro-me da sabedoria popular para dar início ao meu post: não há mais cego do que aquele que não quer ver. Mas também me socorro (de novo) de Proust para servir de muleta ao mau raciocínio: A verdadeira viagem da descoberta consiste, não em procurar novos lugares, mas em adquirir um novo olhar. Cada um à sua/nossa maneira, todos somos cegos - ou não queremos ver, ou insistimos em novos lugares.
Sabemos lá em que categoria se enquadra o cego de que fala o evangelho. O que sabemos é que ele pediu para ver. Também sabemos que ele atirou fora a capa, como quem rejeita, no pano onde recolhia as esmolas, uma vida que já não lhe servia, porque precisava de mais. Bartimeu quis ver, e sabia a quem se devia dirigir. Quando recuperou a vista (e recuperar é reaver algo perdido) não voltou a pegar no pano, porque o pano era a evidência de um tempo passado. Quando recuperou a vista, seguiu Jesus, porque para ele (e para todos os cristãos) Cristo era a Verdade. E é a verdade que devemos seguir.
Ainda 6ªfeira, por motivos de uma conversa sobre os dias de hoje, citei a frase de Proust, embora o contexto não fosse religioso. Acredito que o nosso desafio é o de adquirir um novo olhar. Acredito que foi isso que Cristo deu a Bartimeu, como nos dá a todos nós, nos nossos momentos de cegueira. Pedir para ver é pedir para olhar para o mundo que nos rodeia com um olhar diferente, mais atento, mais solidário, menos orgulhoso, menos rancoroso, com mais espírito de serviço e maior disponibilidade.
Roubo a frase à minha amiga MAF: se formos à missa hoje, peçamos para ver. Peçamos para ter um novo olhar.
Bom domingo para todos.
JdB
***
EVANGELHO - Me 10,46-52
Naquele tempo,
quando Jesus ia a sair de Jericó
com os discípulos e uma grande multidão,
estava um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola à beira do caminho.
Ao ouvir dizer que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar:
«Jesus, Filho de David, tem piedade de mim». Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais:
«Filho de David, tem piedade de mim».
Jesus parou e disse: «Chamai-O».
Chamaram então o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te».
O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe:
«Que queres que Eu te faça?» O cego respondeu-Lhe: «Mestre, que eu veja».
Jesus disse-lhe:
«Vai: a tua fé te salvou». Logo ele recuperou a vista
e seguiu Jesus pelo caminho.
quando Jesus ia a sair de Jericó
com os discípulos e uma grande multidão,
estava um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola à beira do caminho.
Ao ouvir dizer que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar:
«Jesus, Filho de David, tem piedade de mim». Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais:
«Filho de David, tem piedade de mim».
Jesus parou e disse: «Chamai-O».
Chamaram então o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te».
O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe:
«Que queres que Eu te faça?» O cego respondeu-Lhe: «Mestre, que eu veja».
Jesus disse-lhe:
«Vai: a tua fé te salvou». Logo ele recuperou a vista
e seguiu Jesus pelo caminho.
2 comentários:
Belissimo comentário!
Abr
fq
Obrigado JdB por este comentário tão sábio e tão claro. De facto, às vezes andamos mais cegos do que os próprios cegos; esses, têm a capacidade de desenvolver a visão para além da escuridão; nós, que vemos, andamos tantas vezes à escuras .....
Excelente comentário. Boa semana.
Maf
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