Vivemos num tempo em que, sobretudo na gestão da “cousa
pública”, as promessas são as mais das vezes vãs e despudoradas. Há aquelas que
até poderiam ser cumpridas, não fora a manifesta incompetência, inépcia ou
algum desvario de quem as profere e há aquelas que são manifestamente
impossíveis de cumprir/honrar, feitas portanto de má fé e intenção enganosa, em
busca de um voto a mais aqui ou de uma qualquer vantagem ali.
Não sei se foi sempre assim, mas tenho a convicção de
que pelo menos nunca foi tanto assim. No caso dos eleitos e dos por estes
escolhidos, sucede com inusitada frequência que, acossados como nunca pelo tempo
ou pela falta dele (pensam eles), pelos implacáveis media que têm uma
actividade que não conhece limites ou por entidades cinzentonas mas com mando
efectivo, prometem mundos e fundos, quimeras e mais quimeras, e depois é o que
sabemos. Desrespeitando em absoluto os destinatários e descredibilizando-se a
eles e ao país.
Não lhes ensinaram, ou então esqueceram-no convenientemente,
que só devemos prometer o que podemos honrar, porque de alguma forma
conseguimos controlar ou no mínimo influenciar. A frase que muitas vezes ouvi a
meu pai de que “ é um privilégio raro servirmos um chefe que admiramos” tem
também aqui pleno sentido. Pois só se admira quem, entre outras qualidades,
cumpre a palavra dada! Ainda existem algumas pessoas desse quilate, daquelas
que cumprem com o prometido, porém e infelizmente poucas.
E assistir a tantas promessas incumpridas por certo que
não fará muito bem à esfera privada dos nossos compromissos e, pior ainda, não
deixará de influenciar negativamente os mais novos, que tenderão a achar tudo
isso normal, sobretudo se essas situações, e são muitas, não forem
convenientemente explicadas e conversadas.
Hoje trago duas músicas de Rui Veloso. Uma sobre mais
uma promessa que não passou disso mesmo, a outra porque é uma música dele que
me vai a gosto.
Espero que também apreciem.
fq
Por que é que as promessas se quebram com tanya facilidade? Porque o prometido é de vidro.
ResponderEliminarSdB(I)
Belíssimo desabafo. Temos que tentar repensar os exemplos que somos e damos.
ResponderEliminarPromessa ou compromisso?
Durante uns anos achámos que era a mesma coisa. Hoje em dia são conceitos tão distantes que os decisores e nossa classe política ficaram-se pela ligeireza do
- Jorge Manuel, prometes que não voltas a dar um estalo ao Ruben, prometes?
Assim só conhecem a promessa, feita a correr entre um autocarro e um beijo apressado à porta da escola C+S de um qualquer subúrbio, que era quebrada à primeira oportunidade, porque afinal, o irmão que se preze dá sempre um estalo.
Grande escolha musical! Sou fã do Rui Veloso. A propósito, espectáculo no Coliseu com ele no dia 10 de Novembro! pcp
ResponderEliminarQuis comentar longamente a tua excelente dissertação mas acanhei-me face ao comentário que começa por "belíssimo desabafo". Há a redundância, sabes?, e a noção da importância relativa das pessoas...
ResponderEliminarAbraço, porque gosto muito do Veloso, a acompanhar magníficas palavras do bloguista de serviço.
Excelente texto, fq .... excelente escolha musical.
ResponderEliminarDe facto, já lá vai o tempo em que a simples palavra, acompanhada de um aperto de mão, tinha mais força que um carimbo ou chancela. Na politica, assusta a facilidade com que os n/ dirigentes dizem e "desdizem", desculpabilizam-se e descomprometem-se. Quando essa facilidade atingir a sociedade civil e, em última instância, o núcleo familiar, estaremos perdidos....
Reitero a expressão da ALA : belissimo desabafo, fq.
Maf