Como aperitivo de um
próximo gin sobre a exposição de pintura na Gulbenkian, dedicada aos oceanos (As Idades do Mar), dois filmes bem
diferentes correspondem ao elo vital que os portugueses mantêm com o azul do
Atlântico, que banha a sua costa. Não por acaso, o tema da Expo’98 (Lisboa) foi
a água em todas as versões, da paisagem marítima aos recursos hídricos, em
geral. Lançou-se assim um diálogo internacional para explorar uma temática que
nos é tão familiar e querida e, simultaneamente, universal, embora marcada por
experiências bem diversas, conforme a geografia específica de cada um dos
variadíssimos países participantes.
Como desabafava Sophia de
Mello Breyner Andresen:
«Mar, metade da
minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto
clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem
me satisfez. (…)»
Ainda outro poema lindo
de Sophia, a confirmar quanto o mar marca o horizonte interior da portugalidade:
«Quando eu morrer,
voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto ao mar.»
Os instantes que não vivi junto ao mar.»
O HUMOR DA ARISTON(1)
Através do olhar
espantado e espantoso de uma criança – numa idade onde quase tudo está ainda
por estrear e quase tudo fascina – partilhamos a aventura sugerida pelos
movimentos intensos que o óculo da máquina de lavar vai desvendando:
VIAGEM A OUTRO PLANETA, NAS PROFUNDEZAS DA TERRA
Se há experiência que se
assemelha a uma viagem a outro planeta é a descida
ao mundo subaquático, povoado por uma fauna e uma flora diferentes das
terrestres, como uma variante Avatar.
Toda a beleza inebriante e
tão escondida daquele universo amplia a impressão de estranheza da presença
humana num habitat que não lhe pertence. Ali vagueia com a dificuldade e as enormes
limitações de um ser alheio àquele espaço. Só à custa de equipamento
especialíssimo pode penetrá-lo, reconhecendo-se diminuído e até desarmado em
termos de percepção natural. Os cinco sentidos ficam notoriamente afectados,
embora a visão e o tacto em menor grau.
Claro que a viagem
virtual aqui postada não consegue transmitir em pleno esta sensação inédita que
o scuba diving ou o simples snorkling proporcionam. Ainda assim, a
riqueza de cor e de formas que pululam nos fundos marinhos dos recifes do hemisfério Sul deixam antever, ao
de leve, o alcance maior da descoberta de um mundo incrivelmente desconhecido,
no seio da terra. Como é possível haver uma paisagem longínqua aqui tão perto(2):
Talvez resulte numa
combinação inusitada fazer mergulho, nesta altura do ano… embora só no ecrã, junto
a um aquecedor ou a uma lareira, enquanto lá fora caem bátegas de água pesadas.
Mas nada como um mergulho para depois saborear melhor um duche quente e o
aconchego das casas aquecidas, ou ganhar balanço para continuar a explorar o
mar nas telas lindas das salas de exposição da Gulbenkian, iluminadas num
lusco-fusco onde só os quadros merecem holofotes. Fica para outro gin…
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) Filme publicitário premiado em Cannes.
(2) Filmado no Dakuwaqa’s Garden – recife das ilhas Fiji,
realizado por Nick Hope.
2 comentários:
Como bem sabes, se há coisa que abomino é scuba diving, snorkling, etc. Demasiada estranheza para meu gosto. Mas gosto imenso de ver tudo isso na televisão, bem sequinha e confortável no meu sofá. Todo o teu texto me fez pensar em azul ... como é óbvio, claro. Mas parece que a cor azul saiu do écran e invadiu o espaço à minha volta... o que foi óptimo! Bjs. pcp
Lovely video, nice music. I tried scuba diving one day in Australia, on a terrible grey day with rough seas. I haven't yet tried again! Thanks, PO
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