O homem em Bogotá
e as quadraturas Úrano - Plutão
Recentemente
li um conto da escritora americana Amy Hempel chamado “O Homem em Bogotá”. Aqui
está a tradução da parte que mais me impressionou como astróloga:
“Ele era um homem rico, um industrial que foi
raptado e pedido um resgate... A sua
mulher não podia ligar para o banco e, em vinte e quatro horas, não conseguiu um
milhão de dólares. Demorou meses. O homem tinha um problema no coração, e os sequestradores
tinham de manter o homem vivo… Os seus captores fizeram-no parar de fumar. Mudaram a sua dieta e obrigaram-no a fazer exercício todos os dias. Mantiveram-no dessa
forma durante três meses. Quando o resgate foi pago e o homem foi libertado, o
médico examinou-o. Encontrou o homem de excelente saúde. … O médico disse que o
rapto foi a melhor coisa que aconteceu ao homem em Bogotá. Ele pergunta-se como sabemos nós que o que nos acontece
não é bom?”
O panorama astrológico
de longo prazo tem sido dominado pelo quadratura entre Úrano e Plutão. Estes
dois planetas encontraram-se pela terceira vez anteontem, precisamente a 90° um
do outro. Por questões de mecânica
celeste, este encontro angular ainda se repete mais quatro vezes, sendo a última
quadratura em Março de 2015. Estes dois personagens estiveram muito próximos em
Agosto de 2011 e voltarão a avizinhar-se a 1° de distância no princípio de
2016. Por isso, podemos considerar um espaço de 6 anos em que este aspecto está
operativo.
Sabemos que
estamos a viver uma época tensa da história da humanidade a nível político e económico:
Urano em Carneiro aponta para uma mudança activa,
para a capacidade de lutar por um mundo mais justo, igualitário, onde as pessoas têm maior
possibilidade de viver livremente. Plutão em Capricórnio aponta para completa
transformações dos sistemas económicos, políticos, sobretudo aqueles que não
nos são úteis, que já não servem. Com a quadratura, estas duas
energias entram em conflito e os governos e o grande capital agarram-se ao
poder e o povo sofre e revolta-se.
Este
acontecimento astronómico
excepcionalmente longo vai afectando durante seis anos os graus 5 a 17
dos Carneiro e Capricórnio, signos onde se encontram Urano e Plutão. Por oposição, toca também os mesmos graus de Balança e Caranguejo. A nível colectivo muitos países
estão a ser afectados, mas deixo esses comentários para os meus colegas da
astrologia politica.
A nível
pessoal, a quadratura de Urano e Plutão afecta sobretudo quem tem o Sol, Lua ou
ascendente na zona do Zodíaco onde estes dois planetas se cruzam. De uma forma
menor, mas em certos casos não menos intensa, afecta também as pessoas que têm outros
planetas do seu tema nestes graus e signos críticos.
É muita gente
a sentir o tsunami de mudança (Urano) e transformação
(Plutão) na sua vida emocional, relacional, laboral. Muita gente está a sofrer
com o estado da economia, com as medidas de austeridade, com o desemprego.
Mudança e transformação, como palavras, podem meter medo, ou fazer prever uma vida
melhor mas, enquanto vivemos os processos de mudança e, sobretudo, de transformação, descemos ao inferno.
Na mitologia, Plutão
rapta Perséfone e arrasta-a para o seu submundo. Não foi com certeza uma
experiência agradável, nem para Perséfone, nem para o homem em Bogotá quando foi
raptado. Ambos voltaram à superfície, livres mas mudados, transformados.
O rapto de Perséfone (pormenor) de Bernini (1598 – 1680) Galleria Borghese,
Roma
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Tal como os
raptores do homem em Bogotá o obrigaram a deixar de fumar, a mudar a dieta, a
fazer exercício, a energia da quadratura de Urano / Plutão está a obrigar-nos a
viver de forma diferente.
Não tenho
palavras de alívio, somente tenho simpatia e empatia pelos que passam mal
devido aos efeitos desta quadratura. Sei que vão sofrer perdas, ficar despojados
de muitas coisas que julgavam essenciais, nalguns casos passar as penas do
inferno, mas com alguma esperança pergunto: como sabemos nós que o que nos
acontece não é bom?
Luiza Azancot
3 comentários:
A tua escrita e energia mostram que há sempre uma janela aberta quando sabemos que se nos fechou uma porta.
No entanto, regatada pelos impostos e pela crise em que estamos afundados, só me resta recomeçar a fumar, sentar no sofá e desatar a comer para engordar. Quem sabe assim fico mais roliça e pachorrenta como um belíssimo s. bernardo!
Belíssima reflexão, pois é disto mesmo que estamos todos a precisar.
Bom dia Luiza: hoje fui matutinamente à Missa, como vou todas as 4ªs feiras. A 1ª leitura falava de sabedoria. Depois lembrei-me de uma história que repeti muito, talvez porque numa dada altura ela tivesse feito um sentido especial.
Por causa da minha história pessoal, há largos anos pediram-me para rezar por uma criança (que eu não conhecia) que poderia ter cancro. As suspeitas vieram a ser infundadas, mas não me esqueço da frase que a avó terá dito na altura, e que fez um clic na minha cabeça: "às vezes não devemos perguntar porquê, mas para quê."
Obviamente que poucos serão os que se despojam de muito do que têm em nome do que quer que seja. Mas quando somos "forçados" à perda de qualidade de vida, quando somos atirados para uma existência em cativeiro, quando somos confrontados com um qualquer drama, percebemos que há sempre uma janela que se abre. O grande desafio é encontrá-la, sobretudo neste tempo em que tantos vêem portas a fechar.
O desafio é grande, mas a recompensa pode ser maior.
Boa tarde JdB, li agora o teu post de ontem e parece-me que estavamos numa onde semelhante... coincidencias ou nao!
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