11 julho 2013

Da(s) felicidade(s)

Fotografia de JMAC

Através de um blogue que frequento chego a um artigo da revista The Atlantic, que publica o resultado de um estudo feito pela Universidade de Chicago segundo o qual o autodomínio nos torna mais felizes a longo prazo. O artigo é interessante, fluido, e lê-se com a leveza dos textos não científicos. O título e o subtítulo (que traduzo livremente) são elucidativos: As pessoas com muito autodomínio são mais felizes. Estranhamente, as pessoas que melhor sabem resistir aos impulsos referem estar mais satisfeitas com as suas vidas. 

Uma pesquisa medianamente aturada pela internet dirá tudo isto e o seu contrário: que os livres são mais felizes, que viver-se o dia a dia é um factor determinante para a alegria terrena, que os histrionicamente francos e transparentes passam ao lado das doenças do século, que as tentações só existem para que lhes cedamos com alegria e despudor. Há uma profusão de teorias sobre a felicidade. Não precisamos vasculhar o que em cada universidade se perorou sobre o assunto, basta-nos ouvir quem faz parte do nosso círculo de amizades. Todos queremos ser felizes e parece haver sempre correntes dominantes. Numa certa altura da minha vida temi mesmo que houvesse um modelo de seguimento obrigatório. Seria bastante mais do que a tendência da moda, algo mais ou menos orientativo. Neste caso da felicidade, era uma espécie de ditame que, a não respeitar-se, nos condenaria a uma peregrinação acabrunhada. Os tempos livres, as férias, os fins de semana tinham de ser vividos nessa conformidade.

O estudo valerá tanto como outro que se publique em sentido contrário. O mais desafiante da nossa caminhada de felicidade não estará no modo como conduzimos a nossa vida, mas na forma como afectamos a vida do próximo. Dentro de certos limites, o autodomínio é tão bom como a sua inversa, desde que não suscite desequilíbrios nefastos. Vi o suficiente para sustentar esta evidência. Assumindo que não vivemos sozinhos e que fazemos parte de uma aldeia mais global - mesmo que a globalidade se limite ao nosso lar e adjacências - tudo é aceitável desde que não esmaguemos o próximo e a nós mesmos. Talvez por isso o desafio do homem bom seja este: somos felizes quando fazemos os outros felizes. E isso consegue-se resistindo às tentações, como se consegue vivendo hoje na miragem de que não há amanhã.

JdB       


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