Istambul, Junho de 2014 |
Istambul, Junho de 2014 |
Como já referi neste estabelecimento, estive há cerca de um mês em Istambul. Sendo um país fortemente muçulmano, é natural que tenha visto pessoas com a cabeça tapada por um véu - e vi muitas, quase uma esmagadora maioria. Também vi muitas com o rosto todo tapado, só deixando os olhos a descoberto - algo que, mesmo de certa forma agressivo - é mais leve do que a burca. Para efeitos desta paupérrima dissertação, assumamos que estas indumentárias assentam numa vontade própria e não numa obrigação. A assunção não é disparatada, porque na Turquia é mesmo assim.
Em Istambul entrei na Mesquita Azul, um templo activo, isto é, onde se reza a horas certas durante as quais os turistas não entram. No Cairo, onde estive há sete anos, assim como em Amesterdão, antes, tinha entrado em sinagogas. A comparação com os templos cristãos - sobretudo católicos - que conheço há mais de 50 anos foi imediata. Não me refiro à estética, à imponência, à estatuária ou à liturgia.
Nenhuma religião monoteísta fez tanto pela igualdade da mulher como a cristã. Nas sinagogas - e espero não me enganar - a mulher não tem lugar de igualdade. Na do Cairo, e não sei se serão todas assim, a mulher está num plano secundário - neste caso no "andar" de cima, como os antigos cinemas que tinham plateia e 1º balcão. Nas mesquitas (pelo menos na Azul), os homens têm 90% do recinto para eles. As mulheres ficam atrás, quase escondidas por trás de uma grade, como se fossem freiras em clausura num espaço diminuto.
De facto, nenhuma religião fez tanto pela igualdade entre mulheres e homens como a cristã. Podemos falar no impedimento de acederem ao sacerdócio mas isso, não obstante a sua importância e fonte de frustração, é um pormenor. A mulher é igual ao homem em termos do lugar onde quer sentar-se, e isso é revelador do estatuto que não tem noutras religiões. Ainda há dias o Papa Francisco dizia que eram a obra mais bonita da criação. Não serve este texto para enaltecer a igreja católica - que não é monopolista da devoção cristã - mas reconhecer a ousadia de Jesus Cristo, seguramente o seu carácter revolucionário, nos seus ensinamentos de há dois mil anos.
Muito mais haveria a dizer sobre a desigualdade entre homens e mulheres nas religiões muçulmana e judaica. Para efeitos deste raciocínio, basta-nos entrar num templo para que muito fique explicado. Com todos os seus defeitos e erros históricos, muito pouco haverá a ensinar às confissões cristãs relativamente ao respeito pela vida humana. A Europa é o que é por causa disso, mesmo que o pretenda esquecer.
JdB
Bem analisado!
ResponderEliminarAbr
fq
A diferença de tratamento dado às mulheres (assim como a todos os outros elementos mais fracos da nossa sociedade, crianças, idosos, etc. etc, etc.) acabará apenas se e quando, num futuro que infelizmente pode ser ainda muito longínquo, o ser humano se libertar daquela inata e visceral insegurança que é a mesma que o leva a conceber religiões, credos, tradições e superstições de todo o tipo.
ResponderEliminarO dia que a humanidade conseguir olhar para um céu estrelado e apenas e só maravilhar-se com a maravilha da natureza sem inventar, o além, o aquém and everything in between, será o dia que todos os seres humanos serão iguais uns perante os outros.
A insegurança gera violência e a violência encarrega-se de gerar o resto.
O caminho é longo mas penso que o ser humano conseguirá fazê-lo. A prová-lo está o facto de há coisa de 600 (?) anos atrás isto que estou a dizer dar direito à fogueira.
Mee too, I have a dream ....
Gosto de pensar e sentir a igualdade entre homens e mulheres, independentemente das suas convicções. Sejam elas religiosas, ou outras.
ResponderEliminarGosto do que une, não do que separa.
Gosto do que nos liga.
Gosto do que nos motiva e inspira, independentemente do género.
Gosto...
E muito nos liga dentro da biodiversidade humana que somos.
Desde a visceral e natural insegurança ao natural encantamento pelo natural.
Há imensas pontes. Tantas ou mais (sim, i'm a believer)do que bifurcações que terminam em becos sem saída. E há muita gente a utiliza-las.
E há pontes vazias, esquecidas, proscritas, 'malditas'.
Porque há muita gente que em nome das tais crenças/religiões/culturas e em nome da ausência delas, se recusa a atravessa-las. Se recusa a cruzar/aceitar com quem não partilha e escreve a mesma cartilha. Seja ela qual for.
Porquê? Medo. Muito medo: do Outro, do desconhecido, do diferente, e de Si mesmo.
Seja qual for a era, haverá sempre (?), ou por muito tempo ainda, de 'uns' e de 'outros'.
Eu vou torcendo e rejubilando, sempre que vejo 'outros' a aproximarem-se e tornarem-se cristalinos, mais 'uns'.
Manias ... ;)
a.