10 outubro 2014

Crónicas de um mestrando tardio

Paredão, um destes dias, por volta das 7.30 da manhã (iphone)

Conclui-se hoje a 2ª etapa (embora haja actividades paralelas importantes) desta caminhada até à elaboração da tese de mestrado. Todos os mestrandos e doutorandos que frequentam este seminário de orientação tiveram de fazer perguntas sobre os trabalhos dos outros. Assim, recebi dos meus colegas perguntas sobre a escrita confessional numa certa poesia de fado, cujo texto publiquei há alguns dias. Para os que têm alguma curiosidade, eis aquilo a que tive de responder:

Interessa-lhe a distinção entre o que é um fado em si e o que é a interpretação desse mesmo fado (estou a pensar sobretudo se será tão clara como no caso de um Lied de Schubert)?
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O Confessio Amoris de “Nem às paredes confesso” é vítima de um peculiar boicote, ou seja, é sujeito ao anonimato, ao não-dito. Será essa a especial diferença entre poemas/poetas menores ou populares e maiores, isto é, a recusa da confissão explícita e de índole mais castiça e, por isso, menos elegível para as Balis deste mundo (e isto apesar de o seu autor, Maximiano, poder ser arrumado na gaveta dos populares)? Por curiosidade, e pegando em outro “Confesso”, será Frederico Valério um poeta fadista menor? 
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Frequentemente, intérpretes musicais identificam como elemento fundamental da performance algo que se descreve (variavelmente) como “sentir a obra interpretada”, ou “interpretar com alma”, por exemplo. Até que ponto podemos considerar que esta forma de identificação ou de sinceridade com que se encara a obra constitui um momento de “expressão da intimidade de um indivíduo” (p.1)?
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'O estilo confessional refere-se, na literatura, a textos cujo centro é a expressão da intimidade de um indivíduo'. É  preciso verificar a autenticidade da intimidade de um indivíduo? Porque às vezes encontra-se a circunstância como Fernando Pessoa refere na Autopsicografia: E os que lêem o que escreve/Na dor lida sentem bem/Não as duas que ele teve/ Mas só a que eles não têm
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O João diz que a Amália Rodrigues 'matou' um tipo de fado mais popular e confessional ao cantar poetas mais 'eruditos'. Diz, também, que a Amália começou a levar o fado às "salas de espectáculo do mundo". O que lhe pergunto é se acha que há uma relação entre o que se canta e os lugares onde se canta; no fundo, pergunto-lhe se há salas próprias para o poeta chofer e salas próprias para Camões.
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É possível ser-se sincero através das palavras dos outros? Se sim, é este uso das palavras dos outros uma citação?
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Da leitura do ensaio resulta a ideia de que a natureza genuína do fado seria mais facilmente encontrada no fado praticado antes de Amália. Queria tentar compreender se, nesta argumentação, o estilo confessional é invocado como marca distintiva dessa genuinidade. Sobretudo porque me parece que esse mesmo estilo é facilmente detetável em muitos fados de Amália, nomeadamente em fados cujas letras são de poetas conhecidos (estou a pensar concretamente em Primavera de David Mourão Ferreira).
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JdB 

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