09 outubro 2014

Ubi Sunt?

Hora mágica, fotografia de JMAC, o homem de Azeitão

para o Manuel de Freitas


nunca pensei chegar aqui, aos quarentas, agarrado
a venenos editados por associações obscuras, em
séries de duzentos e cinquenta e cinco exemplares.

há drogas pesadas, leves - todos as conhecemos bem -.
o álcool, uma certa maneira de olhar as mulheres, jogos
vários, até essa última droga pós-moderna, o sucesso,

com todo o seu cortejo de tenebrosos efeitos colaterais,
de vidas devotadas a um deus faz-de-conta, a miséria
moral, indigências várias - mas quem quer moralismos?

a minha desgraça é de outra raça: escritos clandestinos,
palavras que competem entre si pela bizarra honraria
de se acharem "o livro mais triste do mundo e arredores".

todos falam do mesmo: da ferrugem do tempo, numa
espécie de diálogo dilacerante e dilacerado, entre os que
vão morrer (nós) e os que já morreram (nós, outra vez).

ubi sunt? rio-me.. e sai mais um candidato ao título 
de mais triste entre os tristes, categoria de pesos-pluma.

o sangue corre já num torvelinho de quem sabe ter agora
mais do que a maldita dose diária recomendada nas veias.

uma forma, concedo, de nos afogarmos, na vã esperança 
de levarmos connosco todas as mágoas do mundo.


gi.

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