07 dezembro 2015

Das diferenças

Ontem ao fim do dia com um iphone nas mãos


Cruzei-me com o exercício nos meus tempos de funcionário fabril de uma multinacional. Chamava-se, penso eu, Avaliação 360º. Em que consistia? Entregava-se ao chefe de um departamento um questionário para ele fazer uma espécie de auto-análise. Entregava-se um questionário semelhante - ou talvez fosse igual, não sei - aos seus colaboradores e aos seus pares para eles analisarem o seu chefe e colega. Depois comparavam-se as respostas, para avaliar quão diferentes eram. 

Lembro-me de um colega meu, homem maduro, chefe do departamento mais importante da fábrica, totalmente aparvalhado com a diferença brutal entre a opinião que ele tinha de si próprio e a opinião que os colaboradores tinham dele. Para fazer uma graça, era como se à pergunta "como avalia a sua altura?" a resposta dele fosse "acima da média" e a dos colaboradores fosse "pouco mais do que anão". A desilusão era brutal. Ele achava-se merecedor da simpatia / admiração / respeito de quem com ele trabalhava e percebeu que não era bem assim. E percebeu tarde de mais, que estava à beira da reforma. 

O exercício, em havendo total transparência, é interessante, mas potencialmente agreste. Salvam-se os que têm um conhecimento muito bom de si próprios ou aqueles que, por estratégia ou baixa auto-estima, se avaliam por baixo e são surpreendidos (ou não...) pela positiva. Os outros, como este meu colega, ficam como quem leva com um tijolo pelas ventas...

Como funciona isto na vida real, na qual não respondemos nem entregamos questionários aos nossos amigos? A forma como nos vemos corresponde à forma como nos vêem? Se sim, o que contribui para isso? É a nossa transparência? No sentido positivo, é uma certeza absoluta na correcção das nossas acções / palavras que não dá margem a interpretações erradas? E se não, o que contribui também para isso? São aspectos escondidos da nossa vida que só alguns sabem? É o desajuste entre as nossas motivações e a percepção dos outros?

O mundo seria bem mais feliz se a coincidência da auto-análise e a análise dos outros fosse quase absoluta. Mas talvez o mundo fosse menos interessante. Tudo depende do que queremos...

JdB   

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