08 abril 2017

Textos dos dias que correm

Falar de silêncio pode parecer (ou talvez seja) contraditório. Mas se se pensar que o silêncio é o contrário do ruído, do estrondo, da conversa e do desperdício de palavras, da comunicação compulsiva e ininterrupta, das músicas a tocar sempre e em todo o lado, então tem-se a impressão que só ao pronunciar a palavra "silêncio" o coração se distende e a mente se abre.

Direi por isso que se do silêncio já não se fala, se é temido, se é excluído, se é exorcizado, então no nosso mundo de viver e pensar talvez haja alguma coisa que não está bem e alguma coisa se perdeu.

Prestar atenção exclusiva e prolongada a qualquer coisa fá-la existir, torna mais real a realidade, submersa pelo ruído de fundo da nossa imparável tendência para a distração múltipla interativa.

Os artistas, os filósofos, os cientistas, quem acredita em Deus ou simplesmente quer pensar, todos, para focalizarem uma ideia ou uma imagem mental, têm de calar, pelo menos algum tempo, a fastidiosa e devorante tentação de pensar ao mesmo tempo noutra, ou em duas ou três ou dez outras coisas. Desligar, "silenciar", por exemplo, os telemóveis e dispositivos informáticos comunicativos cria um contacto inédito consigo próprio.

Sobre tudo isto o norueguês Erling Kagge, editor, viajante, explorador (Polo Sul, cabo Horn, Ásia Central, etc.), escreveu um pequeno, útil e estimulante livro cujo título é precisamente "O silêncio", e o subtítulo, na edição em italiano, abre um mundo que se está a tornar inexplorado: "Um espaço da alma".

«Em média perdemos a concentração a cada oito segundos: a distração é atualmente um estilo de vida, o entretenimento perpétuo um hábito. E quanto encontramos o silêncio, vivemo-lo como uma anomalia; em vez de o apreciar, ficamos incomodados. Erling Kagge, ao contrário, do silêncio fez uma escolha», lê-se no resumo da obra.

Em lugares isolados do planeta «aprendeu a tornar seus os espaços e os ritmos da natureza, e a imergir num silêncio interior, mais do que exterior: um imenso tesouro e uma fonte de regeneração que todos possuímos mas que é difícil atingir, imersos como estamos no barulho da vida diária».

Desde as primeiras linhas o tema é assim enunciado: «Só quando percebi que tenho uma íntima necessidade de silêncio, pude colocar-me à sua procura: nos meus mais íntimos recantos, sob a cacofonia do ruído do trânsito e dos pensamentos, da música e das máquinas, dos iPhone e dos limpa-neves, esperava-me o silêncio».

Uma vez que lhe tinha sido pedida uma conferência, decidiu escolher o silêncio como tema, mas percebeu que defini-lo requeria algum trabalho. Trinta e três capítulos oferecem outras tantas definições, histórias e recordações pessoais. A conclusão é esta: «É possível encontrar o silêncio em todo o lado. Trata-se de proceder por subtração». A experiência será surpreendente. O silêncio obtém-se omitindo e evitando tudo o que não o é.


Alfonso Berardinelli
In "Avvenire"
Trad. / edição: SNPC
Publicado em 07.04.2017

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