04 setembro 2017

O que posso fazer?

Vou presumir que o Whatsapp não é considerado uma rede social, apenas uma ferramenta (plataforma? funcionalidade?) de comunicação, como o Skype, mesmo considerando as eventuais diferenças. Não sou activo nas redes sociais (sou pouco mais do que um cadáver no Linkedin) mas uso o Whatspp, fazendo parte de alguns grupos. 

Volta e meia, como é normal, um elemento do grupo difunde qualquer coisa: uma imagem, uma fotografia, uma anedota, um video, um texto. Rimo-nos, usamos e abusamos do imojis, fazemos um ou outro comentário. Volta e meia surge qualquer coisa séria sobre política - Trump, Coreia do Norte, racismo, xenofobia, islamismo ou o horror ao islamismo, as perseguições a esta ou àquela minoria. Os comentário mudam então de tom: há mais silêncio, mas há frases que me parecem mais curiosas. Por exemplo, alguém que, face a um princípio de crise internacional, diz, "há muito tempo que digo [não sei o quê], mas ninguém me ouve...". Ou de alguém que, mais alertado, afirma com cautela e temor: "é preciso que tomemos atenção, porque houve o Hitler, o Stalin...". Outros ainda, mais sabedores, redigem meia dúzia de linhas sobre geo-estratégia, porque é preciso ensinar os ignorantes. 

O que significa "há muito tempo que digo [não sei o quê] mas ninguém me ouve."? Sobre que assunto é que alguém tem pretensões de ter qualquer coisa para dizer a um mundo que, de forma seguramente injusta, o ignora? Temos alguma veleidade nessa matéria? E o que significam os alertas para a existência de extremismos, de potenciais ditadores, de ódios a estes ou aqueles? Quando Trump ameaça destruir a Coreia do Norte, usando a linguagem que sabe, a que devemos estar atentos? E o que fazemos com a certeza de que Putin é um imperialista que quer ressuscitar a Santa Mãe Rússia?

Sou tradutor freelancer; trabalho em casa, satisfeito com essa opção. Vou à missa aos domingos, faço um pouco de voluntariado, convivo com família e amigos em doses decididamente inferiores ao que devia, entrego-me sofridamente à ginástica duas vezes por semana. Leio, estudo, tento ser boa pessoa e interessar-me por aquilo que me interessa. Usando a trilogia da Sophia, tento estar atento à poesia, ao amor e à santidade. Em que dimensão é que o mundo, face aos potenciais hitlers ou stalines, conta comigo? Aonde querem que me dirija, para fazer o quê? E como posso dar voz aos que, da sua casa com vista para um beco, falam o que ninguém ouve?

JdB        

2 comentários:

  1. Caro JdB. Só nos resta fazer a nossa parte, tentando que a nossa atitude se replique... Assim, é suposto que cada atitude que assumimos se multiplique e atinja o maior número de pessoas possível; estas, em simultâneo, fariam o mesmo e o mundo seria francamente melhor... Nem sempre conseguimos, mas tentamos fazer a nossa parte. Como diz a minha melhor amiga, não vale a pena pensarmos em atitudes a muitos quilómetros de distância, quando à nossa volta podemos fazer um mundo melhor, junto das pessoas que nos rodeiam. Quanto aos facínoras que por aí andam, é um problema eterno da humanidade... Sempre existiram...

    Um abraço
    LN

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  2. Meu caro Laurus Nobilis,
    Obrigado pela sua visita.
    Ainda hoje dizia a um amigo que, vencido pela tecnologia à qual sou alheio não conseguiu postar um comentário, que um gesto bom, junto do nosso próximo, vale mais pelo bem do mundo do que palavras inflamadas e de alerta no remanso de um sofá ou de volta de um copo de vinho tinto bom. O nosso próximo é sempre o mais próximo, e temos de nos preocupar com o que está ao alcance da nossa mão, junto daqueles, como disse bem, que nos rodeiam. Se fizermos isso talvez possamos sonhar com os favores em cadeia...
    Um abraço,
    JdB

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