09 abril 2019

Textos dos dias que correm

Escrever à mão na era digital

Na aparência poderiam parecer apenas pequenos sinais, letras que formam palavras e depois frases, pensamentos construídos e definidos que hoje estamos habituados a ver suceder-se no ecrã do computador, “tablet” e telemóvel; rapidamente compostos pelos dedos no teclado, trabalhando ou estudando, utilizando equipamentos tecnológicos dos quais seria impensável renunciar.

E no entanto as propriedades formativas e terapêuticas da escrita à mão estão no centro de estudos que atestam os seus benefícios, especialmente na infância, durante a formação e o desenvolvimento, enquanto que um cada vez maior número de adultos e pessoas idosas que frequentam cursos de caligrafia consideram que essa é uma prática exigente mas relaxante; útil para estimular a concentração, abrandar os tempos, levando a pessoa a estar mais presente a si própria, à sua mente e ao seu corpo.

Uma vasta literatura científica explica como a interação com o teclado é completamente diferente, não oferecendo qualquer tipo de benefício em relação à escrita à mão quando, na sequência desta, são solicitadas determinadas áreas do cérebro que, de outra maneira, não o seriam. E existe, ainda, uma associação funcional que associa a composição manual das letras com as regiões sensitivo-motoras.

É verdade que quando se fala de escrita à mão, o passo seguinte é o de aplicar a um estilo caligráfico, com as suas regras e proporções, mas é o estádio inicial do trabalho sobre o qual os investigadores se detêm, e do qual provêm as descobertas mais interessantes. A escrita à mão é considerada uma disciplina obsoleta, e até inútil, num tempo em que existem os teclados dos computadores, agora usados com mestria pelas crianças, cada vez mais pequenas, na escola e em casa, para escrever, assistir a vídeos, comunicar; mas sobre este aspeto, poder-se-ia abrir um abismo entre a hiperconexão e a cada vez mais escassa propensão a dialogar com o outro.

Durante mais de um século, a caligrafia foi ensinada na escola, ainda que sem seguir um método, favorecendo a disciplina e sem completar o gesto motor com a tradução linguística do pensamento, como se a estética e os ditames de uma escrita bela vivessem em dicotomia com a própria linguagem. Nos nossos dias, a escrita à mão deveria tornar-se matéria obrigatória nas escolas primárias, para contrariar o empobrecimento linguístico gerado pelo excessivo uso dos computadores e da internet, que por si já prevê composições limitadas nas frases e termos menos polidos, em todo o caso brutalmente contraídos.

Alguns especialistas em diagnóstico e recuperação de crianças e adolescentes com dificuldade de leitura e escrita referem como atualmente nas escolas secundárias e superiores são cada vez menos os jovens que sabem escrever em cursivo, tornado desusado em favor de um “endireitamento” das letras, mais próximas na sua composição visual àquilo que se está habituado a ver na publicidade e no grafismo. Provavelmente porque a escrita foi entendida sempre subdividida de acordo com as profissões a ela referentes: amanuenses, tipógrafos, calígrafos, designers, grafólogos e gráficos.

A ciência ilumina-nos, evidenciando que as crianças habituadas a escrever à mão sabem reconhecer e discriminar antes dos outros as letras, em relação aos colegas acostumados ao teclado, o que é muito útil quando, ao aprenderem a ler, devem saber associar o signo da letra com uma correspondência vocal e de pensamento. Quem usa a caneta aprende com mais rapidez a distinguir as letras do alfabeto, compõe melhor os textos, sabe desenvencilhar-se no uso dos vocabulários, aprende a gostar da leitura desde pequeno, e até avançará melhor na aritmética. Para os adultos, as vantagens são outras; por exemplo, conseguir mais rapidamente aprender línguas estrangeiras e códices; em resumo, nunca é demasiado tarde.


Susanna Paparatti
In L'Osservatore Romano
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado pelo SNPC em 03.04.2019

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