22 abril 2020

Vai um gin do Peter’s ?

LIXO RECICLADO A DESAGUAR EM ARTE & ALERTA DOS MAIS NOVOS

O norte-americano Thomas Deininger (1) é um apaixonado na arte ocidental clássica, pura e dura. Já o lixo surgiu como desafio para reutilizar os trapos e as velharias que perdem validade num prazo  curtíssimo, segundo o ritmo frenético e insaciável de uma sociedade viciada em consumir-e-deitar-fora. A colecção de brinquedos fora de uso é só uma das montanhas de desperdícios que o artista apanha na rua. Porque as ruas e avenidas das grandes cidades transbordam de matéria-prima para as suas obras. Pudesse ele aproveitar tudo…

A segunda paixão da sua infância, logo depois do desenho, era o surf. E só não enveredou pelo desporto para não desgostar os pais, que lhe queriam proporcionar estudos universitários. Tinham poupado para isso, pois as propinas das universidades americanas são altíssimas, pelo que exigem poupanças acumuladas desde que a criança nasce, para uma família da classe média. Concluídos os estudos, Tom optou pelas artes plásticas. E, em 1994, já tinha lugar nos museus de arte moderna e em colecções privadas:



Outros artistas, com semelhantes preocupações ambientais, lançaram mão da mesma ideia, produzindo peças interessantes a partir dos sobejos de botões, tecidos, utensílios domésticos, bibelots, etc. A norte-americana Angela Pozzi (2) recriou um zoo paralelo com o lixo resgatado aos oceanos, num alerta claro contra a poluição marítima crescente nas águas do planeta. A quantidade gigantesca de detritos que apanhou permitiu-lhe construir feras aquáticas (a maioria) colossais, que fazem as delícias das crianças:






Retratistas exímios não se furtaram ao esforço de reproduzir rostos expressivos, recorrendo a materiais sumamente pobres, daqueles em que mais ninguém repara:



Até jornais velhos puderam ganhar sentido decorativo e artístico. Dificilmente algum jornalista se teria atrevido a antecipar o resultado final:


Há dois anos, precisamente no mês de Abril, abriu na capital checa o primeiro museu de arte ilusionista, junto ao celebérrimo relógio astronómico – o «Orloj» -- situado na icónica Old Town Square de Praga. Nesse «Illusion Art Museum Prague» (IAM Prague) muitas das ilusões ópticas provêm de obras feitas com sobras, numa aplicação oportuna e original da badalada ‘economia-circular’. Percebe-se por que Deininger tem lugar de honra no acervo do divertido jogo de aparências exibido no IAM, com possibilidade de visita virtual:




Num aviso também com ressonâncias ecológicas, Michael Jackson dedicou às crianças do mundo a sua célebre composição «Heal the World». Calha que uma das melhores interpretações da música é feita por crianças, que cantam com a autoridade de serem a geração que será mais afectada pelo que for hoje decidido e feito. Somam ainda a ternura da sua pouca idade e um incrível talento musical, como ressalta na curta-metragem montada pelo indiano Maati-Baani, onde desfilam pequenos cantores e mini-instrumentistas, desde os 5 anos de idade e de diferentes pontos do planeta! Verdadeiros prodígios:


As potencialidades incríveis da mente humana também contam com esta capacidade apaixonante de devolver interesse a realidades descartáveis para a maioria. Quando se junta sentido artístico recriam uma nova realidade, revalorizada e linda, ainda por cima!  Mas não tenhamos ilusões de que qualquer recauchutagem ao lado menos atraente da vida parte sempre e depende sempre do interior de cada um. Madeleine Albright (braço direito de Bill Clinton na Casa Branca, de origem judia, nascida na Checoslováquia) deu uma dica gira, numa entrevista a Fareed Zakaria no programa da CNN «GPS». Estava a explicar o que aprendera em situação limite -- durante os bombardeamentos de Londres, onde viveu durante a Segunda Guerra, depois de deixar o seu país para fugir aos nazis— não hesitou numa saída simples, mas exigentíssima: Bom, como estava à mercê da pontaria da Luftwaffe, só estava ao meu alcance ter controle sobre o que pensava e fazia. Descobri que isso era, afinal, o mais importante e serviu-me para a vida!… Poderá ser uma pista para encarar este tempo estranho sob o efeito de um surto pandémico, inédito para quase todos os habitantes do planeta.

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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 (1) http://www.tomdeiningerart.com/works.html.
 (2) https://washedashore.org/


3 comentários:

  1. Que interessante!
    Obrigada MZ

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  2. Muito mal vai esta civilização quando tem de usar o lixo para fazer o que chamam arte.
    ao

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  3. Se não crê, veja como foram buscar «a leiteira» de Johannes Vermeer [uma obra de Arte] para copiá-la com lixo.
    ao

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