08 setembro 2020

Da cidadania

 

Paredão do Estoril, um destes dias de manhã cedo

Tenho acompanhado com atenção a saga da disciplina Cidadania e Desenvolvimento. Segui a posição dos pais, acompanhei as notícias relativas à petição contra a obrigatoriedade, vou lendo o que se diz contra essa mesma petição (na maior parte dos casos alarvidades que eliminariam qualquer conversa minimamente civilizada).

Confesso que não assinei (ainda) a petição contra a obrigatoriedade da disciplina; nunca assinaria, contudo, a petição a favor da obrigatoriedade da disciplina (ou contra a possibilidade da objecção de consciência, não sei). A minha posição é clara: não sou (por princípio) contra uma disciplina semelhante; o que sou, de forma clara, é contra parte do conteúdo programático desta disciplina. Educação sexual ou ideologia de género não são, parece-me, questões de cidadania, mas áreas educativas que competem exclusivamente aos Pais.

Concordo que haverá um défice grande de cidadania no País; constato que há um grande défice de civismo (nas suas mais variadas formas) no País; tenho dúvidas se muitos Pais - com vidas difíceis ou com prioridades educativas diferentes - abraçam essa responsabilidade. Se assim for, como se educam as crianças naquilo que podem ser regras básicas de participação na vida civil, no respeito pelo próximo, ou no conhecimento da Constituição? Deve competir isso ao Estado? Não sei, porque não sei se o Estado (o que quer que isso seja, neste caso) tem competência suficiente para ensinar. O Estado a ensinar ética?

Como se ensinam a História de Portugal às crianças? Fomos um país de gente intrépida ou um país de esclavagistas? Vasco da Gama foi um herói ou um impiedoso perverso? Que mensagem passam os professores às crianças? (e lembro-me que um professor universitário quis encontrar uma dimensão homossexual nos Lusíadas...) E, se acharmos que a mensagem vai contra aquilo em que acreditamos, devemos exercer a nossa objecção de consciência? E onde paramos?

Não tenho certezas, mas também não me apetece entrar na conversa de que a disciplina de Religião e Moral era ou não voluntária no Estado Novo, que a educação sexual no antigo regime blábláblá. Já não dou para o peditório da comparação entre esta senhora e a outra senhora. Tendo a convicção firme de que alguma matéria deveria ser retirada da Cidadania para o Desenvolvimento (ou pelo menos apresentada de forma substancialmente diferente), não tenho ainda certezas quanto ao resto.

JdB

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