Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!» E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia.
O mundo da pandemia vive das videochamadas / teleconferências em directo. Nas minhas funções de voluntárias internacionais não fujo a essa regra: nos últimos 10 meses instalei 5 aplicações semelhantes: BlueJeans, Zoom, Teams, Cisco Webex Systems, GoToMeeting; para além do Skype e do FaceTime, é claro. Por vezes confundo aplicações, não me lembro das passwords nem da mecânica de funcionamento.
Não obstante o fascínio destas aplicações, não é isso que me traz aqui, mas algo de que já aqui falei: o que está por trás dos meus interlocutores ou dos meus colegas de reunião. Em Portugal, não há ninguém que fale em videochamada para um canal de televisão que não tenha livros por trás. Mais do que uma opção estética ou decorativa, parece ser uma espécie de novo-riquismo intelectual; afinal, a existência de um renque de livros é demonstração de pertença a uma clique instruída.
Voltei às aulas de doutoramento, porque passaram a ser não presenciais, o que me permite "assistir". Na aula de 3ª feira, 34 alunos, talvez. Uma colega, rapariga próxima da minha idade, com uma estante por trás; todos os outros, juventude académica, com um bocado de janela, uma parede vazia, uma viga ou um poster.
Tenho reuniões com estrangeiros: médicos, profissionais de ONG's, voluntários, pais. Estão em casa, em escritórios, em gabinetes médicos, talvez. Estão em Beirute, em Inglaterra, nas Filipinas ou na Malásia, no Chile ou na Áustria. Ninguém tem um livro: ou não leem, ou não mostram, porque o livro é, par estas pessoas, o que um tacho é para nós: uma utilidade que proporciona momentos de satisfação. O fundo mais interessante que vi? Uma carteira de senhora pendurada num cabide de parede. A mais absoluta ausência de estética decorativa, numa pessoa cuja vida é tratar de crianças com cancro.
Visto que tudo passa e as épicas memorias Dos fortes, dos heroes, se vão cada vez mais, Que tudo é luto e pó! ó vós que triumphaes Não turbeis a razão nos vinhos das vãas glorias!
Não ergais alto a taça, á hora dos gemidos, Esquecidos talvez nos gosos, nos regallos; E não façaes jámais pastar vossos cavallos Na herva que cobrir os ossos dos vencidos!
Não celebreis jámais as festas dos noivados, Não encontreis na volta os lugubres cortejos! - E se amardes, olhae que ao som dos vossos beijos Não respondam da praça os ais dos fusilados!
Sim! - se venceste emfim, folgae todas as horas, Mas deixae lastimar-se os orphãos, as amantes, Nem façaes, junto a nós, altivos, triumphantes, Pelas ruas demais tinir vossas esporas!
Pois toda a gloria é pó! toda a fortuna vã! - - E nós lassos emfim dos prantos dolorosos, Regámos já demais a terra--ó gloriosos Vencedores! talvez, - vencidos d'amanhã!
Dei-me ao trabalho de ler a letra; e dei-me ao trabalho de tentar perceber o que significa "Lamia" e quem era "Rael". Descobri pouco, confesso. A wikipedia diz que "na mitologia grega, Lâmia (em grego, Λάμια) era uma rainha da Líbia que se tornou um demônio devorador de crianças". Rael parece ser um nome hebraico que significa "senhor da luz". Podemos cantar a letra sem perceber o que dizemos, claro. E podemos tentar perceber o que cantamos. Foi o que eu fiz, sem chegar a conclusão nenhuma...
JdB
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The Lamia
The scent grows richer, he knows he must be near,
He finds a long passageway lit by chandelier.
Each step he takes, the perfumes change
From familiar fragrance to flavours strange.
A magnificent chamber meets his eye.
Inside, a long rose-water pool is shrouded by fine mist.
Stepping in the moist silence, with a warm breeze he's gently kissed.
Thinking he is quite alone,
He enters the room, as if it were his own
But ripples on the sweet pink water
Reveal some company unthought of -
Rael stands astonished doubting his sight,
Struck by beauty, gripped in fright;
Three vermilion snakes of female face
The smallest motion, filled with grace.
Muted melodies fill the echoing hall,
But there is no sign of warning in the siren's call:
"Rael welcome, we are the Lamia of the pool.
We have been waiting for our waters to bring you cool."
Putting fear beside him, he trusts in beauty blind,
He slips into the nectar, leaving his shredded clothes behind.
"With their tongues, they test, taste and judge all that is mine.
They move in a series of caresses
That glide up and down my spine.
As they nibble the fruit of my flesh, I feel no pain,
Only a magic that a name would stain.
With the first drop of my blood in their veins
Their faces are convulsed in mortal pains.
The fairest cries, 'We all have loved you Rael'."
Each empty snakelike body floats,
Silent sorrow in empty boats.
A sickly sourness fills the room,
The bitter harvest of a dying bloom.
Looking for motion I know I will not find,
I stroke the curls now turning pale, in which I'd lain entwined
"O Lamia, your flesh that remains I will take as my food"
It is the scent of garlic that lingers on my chocolate fingers.
Looking behind me, the water turns icy blue,
The lights are dimmed and once again the stage is set for you.
Se fôssemos contabilizar as paixões desta vida, os ódios e os amores, os grandes sobressaltos, as comoções, os transtornos, os arrebatamentos e os arroubos, os momentos de terror e de esperança, os ataques de ansiedade e de ternura, a violência dos desejos, os acessos de saudade e as elevações religiosas e se as somássemos todas numa só sensação, não seria nada comparada com o peso bruto da irritação. Passamos mais tempo e gastamos mais coração a sermos irritados do que em qualquer outro estado de espírito. Apaixonamo-nos uma vez na vida, odiamos duas, sofremos três, mas somos irritados pelo menos vinte vezes por dia. Mais que o divórcio, mais que o despedimento, mais que ser traído por um amigo, a irritação é a principal causa de «stress» — e logo de mortalidade — da nossa existência. É a torneira que pinga e o colega que funga, a criança que bate com o garfinho no rebordo do prato, a empregada que se esquece sempre de comprar maionnaise, a namorada que não enche o tabuleiro de gelo, o namorado que se esquece de tapar a pasta dentrífica, a nossa própria incompetência ao tentar programar o vídeo, o homem que mete um conto de gasolina e pede para verificar a pressão dos pneus, a mania de pôr o pacotinho vazio de açúcar debaixo da chávena de café, a esferográfica de Mário Crespo... é por estas e por outras que as pessoas se suicidam. E têm toda a razão. É nos engarrafamentos, na bicha do supermercado ou do multibanco, no cinema atrás do cabeçudo que não nos deixa ver, no autocarro cheio de gente, que somos diariamente irritados. Há-de reparar-se que as pessoas que mais nos irritam são as que estão à nossa frente. São estas as pessoas que demoram, que levam horas a tirar o porta-moedas para pagar o táxi, que insistem em passar um cheque para comprar um quilo de cebolas e uma embalagem de Super-Pop, que se mexem na cadeira e desembrulham rebuçados durante a cena mais dramática do filme, que têm um tempo de reacção ao semáforo verde de aproximadamente 360 segundos, que pagam as contas da água, da luz e do telefone ao Multibanco, que se esquecem de tomar banho antes de usar um transporte público e depois insistem em esfregar-se contra quem tomou.
POEMA ESCREVINHADO SOBRE PAPEL PARDO CHEGOU AO EVERESTE
Começara agreste e perigosa a década de 30 do séc. XX. E evoluiu num crescendo de agressividade e abusos de poder até culminar na Segunda Guerra Mundial. Em 1932, nos EUA, multidões sofriam a extrema pobreza provocada pela Grande Depressão; em Itália, Mussolini impunha uma ditadura beligerante; na Alemanha, o Partido nazi ganhava as eleições com uma maioria tangencial, mas suficiente para Hitler tomar o poder, que só deixaria no fim de Abril de 1945, por suicídio, para não assistir à conquista de Berlim pelo exército do arquirrival Estaline.
Nesse início de década, na cidade portuária de Baltimore, um jovem casal acolhera uma judia alemã de 22 anos – Margaret Schwarzkopf – que fugira para não ser presa, deixando a mãe doente. Impedida de a visitar, por motivos políticos e étnicos, a alemã ficou dilacerada ao receber a notícia da sua morte. Martirizava-a não ter, sequer, conseguido despedir-se: «stand by my mother’s grave and shed a tear», como explicou à senhora da casa, Mary Elizabeth Frye (MEF), de 28 anos. Esta, que era órfã desde os 3 anos, sentira-se solidária com aquela perda. Para consolar Margaret, escrevinhou-lhe um poema num saco de papel pardo que tinha à mão, possivelmente dos que usaria para embrulhar os ramos na sua loja de flores.
Logo na altura, o bom efeito do poema sobre a alemã foi conhecido por muitos, em Baltimore, pelo que a americana circulou cópias manuscritas por inúmeras pessoas, pensando que terminava ali a história de «DO NOT STAND AT MY GRAVE AND WEEP», escrito de um jacto, como contou anos depois. Assim, MEF seguiu uma vida de mãe de família e gestora de um pequeno negócio com as flores que cultivava.
Porém, décadas mais tarde, apercebeu-se da prodigiosa disseminação da sua mensagem de 1932, que galgara fronteiras para consolar os que perdiam os mais próximos. O horizonte invulgarmente positivo que a composição tivera a coragem de rasgar, na hora de maior escuridão e dor, continuava a oferecer um sopro de esperança e de sentido à violência anti-natura da perda humana mais derradeira, aos nossos olhos. O segredo residiria na frescura poética e deliciosamente ecológica (na nomenclatura actual) com que anunciava uma vida para lá do aguilhão da morte. Ousou (e ousa) mesmo lançar-se, com incrível confiança, num movimento de renovação e ressurreição, que suscitou afinidades, até em latitudes longínquas, de culturas e credos muito diversos.
Nos anos 70, Hollywood já adoptara a composição. John Wayne leu-o nas exéquias do realizador Howard Hawks, a 29 de Dezembro de 1977, referindo ter «autoria desconhecida». John Carpenter, que participara no mesmo funeral, citou-o na série que realizou para a televisão: «Better late than never» (1979). Gradualmente, o poema consagrava-se leitura assídua nas exéquias.
Em 1995, foi a oração escolhida pelo pai de um soldado vítima de um atentado à bomba, na Irlanda do Norte, para ecoar por todo o Reino Unido aos microfones da BBC. Dera com o texto num envelope endereçado pelo filho a: «To all my loved ones».
Em 1996, já era eleito o poema preferido dos britânicos, numa sondagem conduzida pela BBC, embora o resultado escapasse aos cânones, por se desconhecer a proveniência.
Depois de se ter disseminado pelo Ocidente, como um rastilho, cruzou o Pacífico e chegou aos contrafortes dos Himalayas, onde está gravado nas pedras do Memorial do Evereste (de Chukpi Lhara, no Vale do Khumbu), junto ao Campo Base do pico mais alto do um mundo. Ali permanecem as primeiras quatro linhas de «Do Not Stand at My Grave» em homenagem a quantos pereceram em escaladas e trekkings na célebre Cordilheira. A 5182m de altitude – já em plena «zona de morte» – a força de uma mensagem que confia numa existência post mortem, adquire um alcance especial. De facto, experimentei naquelas paragens a misteriosa sensação de estar mais perto do céu, sob múltiplos aspectos, para além do óbvio.
Campo Base do Evereste
Do Not Stand At My Grave And Weep
Do not stand at my grave and weep
I am not there; I do not sleep.
I am a thousand winds that blow,
I am the diamond glints on snow,
I am the sun on ripened grain,
I am the gentle autumn rain.
When you awaken in the morning's hush
I am the swift uplifting rush
Of quiet birds in circled flight.
I am the soft stars that shine at night.
Do not stand at my grave and cry,
I am not there; I did not die.
Mary Elizabeth Frye (MEF)
Nos anos 90, MEF resolveu assumir publicamente a autoria daquelas linhas. A confusão instalou-se, porque outros também reclamavam a propriedade. Coube à prestigiada colunista norte-americana Abigail Van Buren investigar o caso e confirmar, em 1998, na sua coluna «Dear Abby», que a cultivadora de flores era a autora do poema já de escala interplanetária.
Mary Elizabeth Frye (1905-2004).
Em 2004, o periódico «The Times» declarava que: «The verse demonstrated a remarkable power to soothe loss. It became popular, crossing national boundaries for use on bereavement cards and at funerals regardless of race, religion or social status».
Até versões musicadas mereceu, aqui nas vozes do coro infantil britânico LIBERA:
Margaret não pudera prever que das suas lágrimas viesse a jorrar uma onda consoladora para os que iriam ver partir os mais queridos, ao inspirar uma mensagem de emancipação da perda irreversível. Tão pouco Elizabeth antecipara a universalidade simples e profunda das suas imagens poéticas, capazes de suplantar a barreira da morte e sugerir uma pujança de vida nova sob inúmeras configurações. Claro que subsiste a liberdade de o leitor tomar (ou não) o poema pelo seu fulgor metafórico, acima da camada superficial (presa fácil de interpretações imanentistas) mais limitativa e empobrecedora da linguagem poética. Talvez sumamente poético seja a imortalização, junto ao Evereste, deste poema sobre a existência para além da morte, como vela acesa pelos que ali encontraram a hora da Partida e repetidamente testemunhada pelos viajantes daqueles lugares de neves eternas. Dos píncaros do planeta também permanece como símbolo aberto à humanidade, reverberando por todos os recantos da Terra… e nenhuma lágrima de saudade se perderá.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
Sou um revivalista. Talvez seja, no fundo, um pragmático - e um revivalista é, num certo sentido, um pragmático, porque se atém àquilo que existe - o passado - olhando menos para o que não se sabe se existe, isto é, o futuro.
Por razões que não interessam, dei por mim, neste fim de semana, numa certa zona de S. Pedro do Estoril. Quando tentei orientar-me, já que ali vivi alguns anos enquanto jovem, percebi que estava a 500 metros da rua da minha infância, mais precisamente entre os 11 e os 16 anos - há 50 anos, mais ano menos ano. Naquele troço de rua desenvolvi dotes tardios de ciclista (descer uma rua e fazer uma curva sem mãos foi a minha proeza), ajudei a fabricar um carrinho de rolamentos que levava três rapazes, joguei futebol, saltei à fogueira e aprendi as delícias das batatas assadas na brasa. No fim da rua - a minha casa era a penúltima - no descampado onde agora são os Jardins da Parede, fumei e beijei clandestinamente.
Passado meio século nada tem a mesma dimensão - e normalmente tudo é mais pequeno. Curiosamente - e não ia àquela rua há mais de 45 anos - as casas têm a mesma dimensão face ao que era a minha memória. Algumas estão retocadas, outras pintadas de outra cor, uma ou outra meia abandonada. O que me surpreendeu foi o tamanho da rua, que está muito mais pequena. 50 anos afectaram a minha visão da estrada, não das casas.
Já aqui postei o título deste livro - e foi por causa do título que o li. Parte substantiva do meu mundo é aquela rua da minha infância. Ali fui imensamente feliz: vivi na rua, ganhei amigos novos, tive sentimentos de pertença a um grupo, namorei e alarguei horizontes. Tenho memórias frescas: nomes completos, cheiros, ambientes, vozes, hábitos.
Nos 5 minutos em que deambulei por aquele troço de 6 ou 7 casas da minha infância cruzei-me com um homem que, dizem-me no momento, era o irmão do meio de uns vizinhos com quem convivi. Hesitei se o cumprimentaria; não o fiz porque temi ser detentor de um revivalismo deslocado e não recíproco. Afinal, há gente que encontra mais encanto em olhar para o futuro imaginado do que para o passado vivido.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, estava João Baptista com dois dos seus discípulos e, vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus». Os dois discípulos ouviram-no dizer aquelas palavras e seguiram Jesus. Entretanto, Jesus voltou-Se; e, ao ver que O seguiam, disse-lhes: «Que procurais?» Eles responderam: «Rabi - que quer dizer 'Mestre' - onde moras?» Disse-lhes Jesus: «Vinde ver». Eles foram ver onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, foi um dos que ouviram João e seguiram Jesus. Foi procurar primeiro seu irmão Simão e disse-lhe: «Encontrámos o Messias» - que quer dizer 'Cristo' –; e levou-o a Jesus. Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» - que quer dizer 'Pedro'.
O silêncio é um «estado de alerta» que predispõe «para um encontro»: as palavras são do monge e abade cisterciense Erik Varden, nascido na Noruega, onde é bispo, e autor espiritual lido em meia Europa. O religioso, que antes de se tornar católico não acreditava em Deus, recorda que encontrou «pela primeira vez» o silêncio através da música, «porque a verdadeira música é, na realidade, a articulação do silêncio».
«Desde jovem escutei muita música. Ao mesmo tempo, cultivava um grande desejo de silêncio. Em criança, quando a minha família estava ausente e ficava sozinho em casa, queria estar tranquilo e experimentar o silêncio. O meu coração, penso, estava a preparar-se para aquilo que conheceria mais tarde, a oração.»
Num dos seus livros, afirma que o mundo contemporâneo perdeu o primado da interioridade. Mas hoje vemos a proliferação de práticas “espirituais”, como o “mindfulness”, o ioga e semelhantes. Que diferença existe entre o silêncio do cristianismo e o silêncio que não tem Deus?
Penso que o mundo contemporâneo perdeu muito do vocabulário requerido para falar da interioridade. Mas isto não significa que a inquietação por uma vida interior seja menos forte. Sob certos aspetos, esta pode inclusive ser mais intensa, mas resulta frustrada e não tem modalidades de expressão adequadas. Toda a prática que permite a redescoberta desta dimensão do ser é potencialmente abençoada; ainda que, fora de uma moldura de fé, há sempre o risco de confundir os meios com o fim. O silêncio sem Deus é uma função da ausência, onde o confronto radical consigo próprio aumenta um sentido de solidão. Para um crente, o silêncio é um estado de alerta para estar pronto para um encontro, como o profeta Elias sobre o monte Horeb. O silêncio do monge não é autoisolante, mas o ambiente pressuposto para esta busca de comunhão.
Dag Hammarskjöld, o desaparecido secretário-geral da ONU, quis uma sala do silêncio no Palácio de Vidro de Nova Iorque, porque a meditação, sustentava, era importante antes de tomar decisões políticas. Hoje, os políticos “twittam” continuamente, enfurecem-se nos “talk-shows”, e não parecem conhecer muito a arte da meditação. Como voltar a trazer o silêncio para a sociedade atual?
Decidindo fazê-lo. Cada um pode fazê-lo, quer tendo ou não tendo espaços destinados a isso. Isso requer coragem, força de vontade e prática, mas não está para além das possibilidades de cada pessoa.
Cita o teólogo e Beato John Henry Newman: «Estar confortável significa não estar seguro». O nosso tempo – era a tese do filósofo Roger Scruton – tem a mania de tornar segura cada coisa: a vida, o trabalho, o amor… Mas sem perigo não há risco. Estar em silêncio significa estar abertos ao que pode acontecer na escuta. Significa não ter todas as respostas.
Um dos paradoxos do nosso tempo, no qual a nossa fragilidade é tão patente, não só na crise Covid com as suas consequências, é que fazemos tudo aquilo que podemos para calcular e eliminar o risco. Mas viver é arriscar. O que torna o ensinamento de Jesus tão fresco e, em sentido literal, provocatório, é a sua insistência neste ponto. Ele di-lo em muitos momentos: seguir-me é perigoso, mas correr este risco é a maneira de se ser livre e, em definitivo, alcançar a alegria. Parece-me, por isso, legítimo perguntarmo-nos: a nossa coletiva e obsessiva busca de segurança, por absurdo, não nos conduzirá sobretudo a sentirmo-nos ansiosos, fechados e tristes?
O tema do desejo regressa muitas vezes às suas páginas: «O nosso tempo é desconfiado para com as palavras e dogmas. Todavia, conhece o significado do desejo. Deseja confusamente, sem saber o quê, a não ser a sensação de ter em si um vazio que precisa de ser preenchido». De que maneira o silêncio e a prática do silêncio podem ajudar-nos a entrar numa perspetiva religiosa que pode preencher o nosso desejo?
Acredito profundamente que o que disse é verdadeiro. Penso que muita da dor interior pode ser inscrita na insatisfação e no desejo não satisfeito. Reconhecer o desejo é, de qualquer modo, potencialmente humilhante e perigoso (voltamos ao ponto de partida, o risco) quanto mais me faz compreender que não tenho tudo o que quero, que não sou tudo aquilo que gostaria de me tornar ou ter dentro de mim. Isto é contrário ao espírito do nosso tempo, que nos pede para proteger uma nossa imagem de sucesso, triunfo e plenitude. Quantos de nós têm verdadeiramente vidas assim? O stress de projetar uma imagem de nós próprios que não corresponde à nossa verdade mais profunda pode quebrar uma pessoa na sua vitalidade, ao ponto de ameaçar o inteiro sentido de si. Ao contrário, quanto é belo encontrar homens e mulheres que estão em paz com a sua incompletude, o que lhes permite estar num estado de maturação, recebendo esse crescimento como um dom, em vez de o reclamar como uma conquista. Se os crentes pudessem, cultivando o silêncio, crescer na coragem de viver desta maneira, seriam, mesmo só com a sua existência, uma inspiração para os outros, uma espécie de pioneiros na autenticidade.
Música e silêncio parecem estar em oposição. Ou não?
A música brota do silêncio e volta ao silêncio. O que há de mais comovente no silêncio que se segue a uma grande performance musical, quando o conteúdo espiritual de uma obra excelsa ressoa como uma espécie de silêncio substancial entre os músicos e o auditório, criando ao mesmo tempo um sentido de plenitude e um sentido de ulterior desejo, tanto mais que a música se dirige fora de si para uma profundidade que só o silêncio pode preencher? Penso numa imagem que me é querida: o incomparável Claudio Abbado, após a sua direção da “Terceira Sinfonia” de Beethoven, em Lucerna, a 17 de agosto de 2013, uma das suas últimas antes de morrer. Foi arrebatado num profundo recolhimento, totalmente rendido à música que orientou, visivelmente exausto pela própria música, e ao mesmo tempo radiante de plenitude e de presença. Uma magnífica imagem do potencial humano!
Disclaimer: este post não é sobretudo sobre política.
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Alcácer do Sal, Janeiro de 2021
Sou um espectador televisivo relativamente típico: vejo televisão para me instruir e para me distrair. Entre ambos os extremos do intervalo cabe muita coisa: a pandemia no mundo, arte, o protocolo na corte inglesa, música clássica, algum desporto, programas culturais, série televisivas, informações sobre o setter inglês, bocados de novela ou programas de cozinha. Por isso - porque me interessa a instrução e a distracção tenho visto pouco, e com menor interesse ainda, os debates para Presidente d(est)a República. Na verdade, aprende-se pouco, e o nível de entretenimento anda pela mesma medida.
Parte substantiva dos meus amigos (mais eles do que elas) votará André Ventura, depois de terem votado Marcelo Rebelo de Sousa (ou, não o tendo feito, estando politicamente mais próximo dele). Querem dar um sinal claro: não votam Marcelo por aquilo que ele não disse; e votam Ventura por aquilo que ele diz. Até agora nada disto causa muito espanto; o voto útil ou de protesto sempre existiu; nem sempre se vota naqueles de quem se gosta, mas naqueles que passam uma mensagem que nos é importante num dado momento.
Ora eu, que tenho um apego verdadeiramente lamentável por aquilo que não interessa a ninguém, ou que olho para onde ninguém olha, acho curioso este facto. Na verdade, nunca as sondagens tiveram uma importância tão grande: é com base no que se pensa estatisticamente que vai acontecer que os meus amigos votam em André Ventura: não votam em Marcelo mas contam que ele ganhe; votam em Ventura mas contam que ele não ganhe. Querem que Marcelo ganhe, mas que tenha poucos votos; e querem que Ventura perca, mas que tenha muito votos.
Em bom rigor, ninguém dos meus amigos quer ver Ventura como presidente, limitando-se a agradecer o que ele diz sobre a esquerda, os ciganos, os corruptos. Alguns dos meus amigos fazem um apelo claro ao voto no ex-comentador de futebol; confiam, no entanto, que a sua capacidade de persuasão seja limitada. E confiam no bom senso do povo português - de que eles não fazem parte. Afinal, se toda a gente pensasse como os meus amigos, o Ventura seria o próximo Presidente d(est)a República. Os ciganos não gostariam, mas os meus amigos também não.
Por último, leio que o CDS vai processar as empresas de sondagens, que vaticina ao partido centrista uma existência efémera; não devem fazê-lo, porque são elas que garantem que Marcelo ganha, mas por poucos votos e que Ventura perde, mas com muitos votos. No fundo no fundo, são estas empresas que nos garantem um certo futuro.
Felicidade, Glória, Imaginação, Inteligência e Inspiração
Numa vida profundamente atormentada seria possível muitas vezes encontrar-se felicidade para várias outras existências. Da felicidade que um homem malbarata, sem lhe suspeitar o valor, outros homens tirariam alegria para toda a vida, assim como as sobras da mesa do rico dariam para sustento de mais de um pobre.
A glória é um processo de apuramento que nunca pára. À medida que a humanidade envelhece e que as suas recordações se vão amontoando, tornam-se necessárias novas selecções. Séculos inteiros são depurados nesses escrutínios, sem que sobreviva um nome sequer. Um dia os imortais irão unir-se aos anónimos no esquecimento final.
É a imaginação, tocha divina apensa ao espírito do homem, que lhe permite mover-se nas trevas da criação. Assim os peixes das profundezas oceânicas trazem um facho que os ilumina na noite eterna. Sem isto para que lhes serviriam os olhos? Sem imaginação, que utilidade teria para o homem a inteligência?
O homem de letras tem falhas pronunciadas de inteligência, a ponto de parecer estúpido ao homem de negócios. Não deixa porém por isso de se considerar, onde quer que se encontre, o mais inteligente da roda. Nada é mais absurdo do que essa superioridade, afectada pelo artista ou poeta de qualquer categoria diante de, por exemplo, um matemático cujos cálculos ele seria incapaz de acompanhar.
A arte dramática é, realmente, pura estereotipia. O actor fixou o seu papel de uma vez, e limita-se, em cada representação, a tirar nova prova. Em arte alguma pode o artista anunciar uma demonstração de génio e de inspiração, diariamente, à hora do cartaz. O que ele faz é reproduzir a sua criação, como o impressor reproduz uma gravura.
Joaquim Nabuco, in 'Pensées Détachées et Souvenirs'
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, João começou a pregar, dizendo: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu baptizo na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo».
Sucedeu que, naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no rio Jordão. Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer sobre ele. E dos céus ouviu-se uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência».
Como bom italiano, Veronese (1528-1588) foi um pintor festivo, talentoso e ousado, que se aventurou em telas e murais gigantes para os inúmeros palácios e Igrejas de Veneza. Nascido em Verona (daí a alcunha ‘Veronese’), fez a formação artística e passou a viver na cidade dos canais, pelo que rapidamente incorporou a forte influência oriental da metrópole mais asiática de Itália.
A sua «Adoração dos Magos» – na colecção do mítico Hermitage – era um modelo de tamanho portátil para entusiasmar algum mecenas a escolher aquela pintura opulenta para ser replicada em grandes dimensões. A cena decorre à luz do dia e o horizonte abre-se a uma enorme faixa de céu em azuis suaves, nas tonalidades românticas que poderiam corresponder a um nascer-do-sol. O ambiente é majestoso e sereno, com as ruínas de um portentoso templo de colunas coríntias a dar solenidade ao conjunto. A representação do céu é uma das acrobacias de Veronese, que não se esquivava a proezas pictóricas, como as que se acumulam nesta «Adoração». Todos os tecidos, nas cores e na textura, são magistrais. O véu que S.José levanta para mostrar o Menino aos três sábios é de uma transparência cristalina. Significativamente, é na figura de José que o pintor se auto-retratou, numa metáfora perfeita da sua função de mensageiro! Aos Magos, como a nós, empenha-se em revelar o protagonista daquele episódio memorável. E logo este novo ano de 2021 foi dedicado pelo Papa Francisco a S.José (até 8.Dez.2021), pelo que a importância da sua mediação é mais uma coincidência com o nosso tempo.
Outro aspecto invulgar da obra é a diversidade das personagens que ali contracenam, marcadas por traços físicos e atitudes diferentes, uns enternecidos, outros curiosos, outros distraídos, qual galeria de retratos de um bom romance. Em compensação, as montadas inclinam-se em vénia sobre o Pequenino, seguindo os Magos e a maioria dos pajens: os camelos à esquerda e um puro sangue à direita.
Em vez de uma disposição ao centro, o italiano preferiu colocar a Sagrada Família no extremo esquerdo, onde se inicia a leitura (na matriz ocidental). Na variedade cromática da palete do pintor, os tons mais luminosos foram reservados para a Mãe e para o Bebé, cujo rosto sobressai emoldurado pela bordadura cintilante da organza branca que S.José segura para revelar ao mundo o rosto humano de Deus.
Se a pintura é um veículo magnífico do Belo, a música é para muitos a primeira das Artes, a ponto de um escritor latino do século VI – Cassiodoro – considerar a sua ausência o pior castigo: «Se continuarmos a cometer injustiças, Deus deixar-nos-á sem a música». Também um escritor ateu do século XX –Emil Cioran– descobriu nesta forma artística a marca do Deus vivo:
«Quando escutardes Bach, vereis nascer Deus... E pensar que tantos teólogos e filósofos desperdiçaram noites e dias a procurar provas da existência de Deus, esquecendo a única!».
(in «Lágrimas e santos», 1937)
A Beleza em que Dostoievski confiava para salvar o mundo cumpre-se plenamente, quando permite intuir – inclusive, aos mais cépticos– a possibilidade de o mundo ter Pai, apesar de o mal que vemos diariamente (incluindo dentro de nós…) poder antes sugerir uma orfandade irremediável. No fundo, mil anos antes de Cioran, Cassiodoro baseara-se na mesma prova da existência do Deus vivo, ao formular a maior perda causada pelo mal humano.
Recuamos ao primeiro século d.C. e outro escrito revela que Deus é o Verbo. Porém, sem despiques entre formas de Arte, é numa pobre gruta de Belém que o Filho aceitou assumir carne-e-osso para habitar na humanidade e inspirar incansavelmente Bach, Händel, Tchaikovsky, também os U2, Bruce Springsteen, Leonard Cohen, Bob Dylan, Eric Clapton e tantos outros, cujos acordes reavivam essa Presença, que faz História connosco. De certo modo, acordam o mistério do Natal, como se tivessem ouvido o Céu em festa, que foi mostrado aos pastores párias, há dois mil anos.
Hoje, Dia de Reis, há comemorações maiores em Espanha, começadas na véspera com a ‘cabalgata de los Reyes Magos’, a quem as crianças entregaram a carta com o que gostariam de receber no sapatinho. É um enorme frisson, que se completa com a iniciativa da Fundação La Caixa, onde as paredes milenares da basílica de Santa Maria del Mar, no centro histórico de Barcelona, transbordaram de música (há mais tempo). O repertório escolhido foi o Aleluia do «Messias» de Georg Friedrich Händel, que se passou a ouvir de pé – reza a lenda – depois de o monarca britânico presente na estreia da ária em Londres, se ter erguido, impressionado com aquela apoteose. O remate da actuação no templo medieval catalão resulta na melhor súmula da visita dos Magos ao Bebé, quando uma enorme forma estelar paira ao nível dos vitrais, composta pelos focos de luz evocativos dos 350 cantores, que acompanharam a Orquestra Barroca Catalana. Depois de as suas caras darem vida e voz à pedra gótica, tornam-se pontos reluzentes e unem-se em estrela, trazendo para dentro de Santa Maria del Mar um pedaço da abóbada celeste:
Possa o Novo Ano desvendar-nos o mesmo Céu em festa que inspirou Bach, Händel e... porque não, a nós? Feliz Dia de Reis e Bom Ano de 2021!
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
Derivado à pandemia e ao recolher obrigatório assisti à missa, durante algumas semanas, no auditório da minha paróquia. Como o nome indica, é um espaço concebido para conferências, para sessões musicais, para teatro. Não foi concebido para um cerimónia religiosa, pese embora a dignidade com que é realizada. Como diria o Alfredo Marceneiro quando entrou num sítio de que não me lembro (ou num palacete ou num estúdio de gravação) não gosto do recinto. Isso não me impede de olhar em volta e observar.
Vou à mesma missa (hora e local) há mais de 40 anos. Hoje, neste preciso instante em que escrevo este texto, poderia haver algumas dezenas de pessoas a afirmarem o mesmo - mais especificamente, que vão à mesma missa que eu há mais de 40 anos. Significa isto que há pessoas que vejo nesta missa específica há muitos anos, outras há menos tempo. O que têm em comum, para além da condição de católicos? O facto de se sentarem no mesmo lugar. Isto é de tal maneira óbvio que, se me disserem que me conhecem da "minha" missa, eu pergunto imediatamente: onde se costuma sentar? Este hábito não se adquire com anos: no auditório as pessoas sentam-se no mesmo lugar onde se sentaram na semana anterior, quando lá foram pela primeira vez.
Há uns anos chamaram-me a atenção para este hábito. Sim, sou um homem dado a rotinas, a constâncias, a regularidades, e isto era visto como algo menos positivo. Ora, percebi que sou eu e mais umas dezenas de pessoas - só para falar num microcosmos. O que significa isto? Há algo de geracional nesta atitude? A rotina implica uma repetição de práticas: sentar no mesmo sítio, comer às mesmas horas, repetir refeições ou vestuário. Há, num certo sentido, algo de estável ou de permanente que não é consentâneo com a efemeridade dos dias de hoje em que a novidade é privilegiada e o transitório é visto com bons olhos (ou pelo menos sem um olhar crítico).
Repetir uma tarefa é aproximarmos o que somos de uma máquina: rasgamos o pacote de açúcar da mesma forma, mexemos o café no mesmo sentido, fazemos bacalhau com broa segundo a mesma receita. Repetimos porque funciona bem, e a repetição torna-se quase inconsciente. A rotina dá-nos segurança porque elimina o imprevisto. Falar de rotinas ou de hábitos é falar de coisas totalmente diferentes? Se há pontos de intersecção, que imprevisto há num banco de Igreja ou num auditório transformado temporariamente numa igreja?
Leitura de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está - perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l'O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo profeta: 'Tu, Belém, terra de Jusá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo'». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l'O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d'Ele, adoraram-n'O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.