24 março 2021

Porque gostamos do que gostamos?

 



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Esta espécie de sanduíche mal amanhada de obras de arte e poesia (ou versos, sei lá eu...) tem uma lógica por trás. Antes de me deitar à lógica queria informar que deixei de fora desta escolha a música, por ser um capítulo à parte e não se enquadrar totalmente no devaneio em causa.

Ora então, de cima para baixo:

1. Santa Cecília, Stefano Maderno, 1600;
2. Excerto do poema Fado Português, da autoria de José Régio;
3. Ronda da noite, Rembrandt, 1642;
4. Excerto do fado Há Festa na Mouraria, da autoria de Gabriel de Oliveira

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Temos, portanto, um quadro, uma escultura, um poema (que foi cantado) e uns versos que talvez tenham sido compostos para serem cantados. Um escultor, um pintor, um poeta / escritor e um poeta popular. O que os une? O facto de eu gostar muito de tudo o que aqui apresentei.

Porque gostamos do que gostamos? É apenas uma aspecto estético? É natural que não gostemos daquilo que nos repugna, nos assusta, nos deprime ou que achamos muito feio. Porém, no meio de tantas esculturas fantásticas, tantos quadros fantásticos, tantos poemas fantásticos, por que motivo escolhi eu estes? E, no caso dos poemas, porque escolhi estes excertos específicos e não outros? O que tem a expressão lindeza tamanha, ou olhar ceguinho de choro que não tem  O Fado nasceu um dia / quando o vento mal bulia com que abre o poema? 

Não tenho resposta. E já não tinha resposta quando, há exactamente quatro anos, aqui escrevi sobre os fascínios inexplicados. Em quatro anos, o ciclo de uns Jogos Olímpicos, nada aprendi. 

Será o punctum de que falava o Barthes? Será uma "energia do incidente" essa pulsão que nos leva a olhar para uma sessão de pancadaria na rua, movidos por um fascínio inexplicável? A estética das coisas é apenas sensorial, isto é, gostamos ou não gostamos, ou há pormenores que nos remetem para algo? Se sim, para que me remete a Ronda da Noite ou os três versos de Gabriel de Oliveira?

Se eu tivesse aqui posto música o raciocínio não oferecia dúvidas. Grande parte da música pop que oiço remete-me para um momento, para uma memória, para uma fase da minha vida, para uma emoção: o primeiro beijo, o escurinho do cinema, uma mão dada, a adolescência feliz. Na música clássica são os movimentos lentos, porque os acho centrípetos, como o Outono ou o cair da noite.

Talvez daqui a quatro anos já saiba as respostas às minhas dúvidas. Não percamos a esperança.

JdB

1 comentário:

  1. ahahahahahahaah. Genial.

    Mas essa sua ligação é muito interessante porque me veio à cabeça, a propósito de uma série que estamos a ver, que nem as alucinações dos esquizofrénicos são desgarradas da estética (aisthesis - apreensão pelos sentidos, "percepção".

    Há sempre um fio que liga a um nó que puxa um fio que liga a um nó que puxa um fio que está ligado ao nó do fio que estamos a puxar.
    Adoro estas suas associações!!!!!

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