02 dezembro 2021

Textos e poemas dos dias que correm

Queridos irmãos, que o tempo do Advento seja um tempo para interromper, interromper, interromper. Isto é: suspender as nossas questões, suspender as nossas amarguras, suspender os nossos longos percursos, suspender a nossa inquirição àquilo que não tem resposta, ou então aquilo cuja resposta não nos cabe colher. Interromper. E preparar o nosso coração para o encontro com a vida, com a vida estreme, com a vida que começa, com a vida que é nova, com essa vida encarnada que nos mostra na nossa carne, na nossa história, o próprio Deus.

Queridos irmãos, este tempo de Advento é um tempo necessário. Precisamos de caminhar. O Natal não é uma coisa automática, não é uma coisa que se tira das nossas caixas e coloca de novo e ele acontece automaticamente, imprevistamente. Não, o Natal prepara-se. Este encontro tem de ser, de facto, um encontro com a nossa vida. Deus interrompe o que eu sei, o que eu digo, o que eu falo e mostra-se, e dá-se-me, e enche o meu coração da fome de Deus, da fome de sentido que só Ele pode saciar.

Cardeal D. José Tolentino Mendonça.

(Homilia)

***

Último Natal

Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção,
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça.
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.

Miguel Torga, Gaia, 24 de Dezembro de 1990 (in Poesia Completa vol. II, Lisboa 2007)


1 comentário:

Anónimo disse...

Bão dou um chavo para o tolo sem tino

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