September
The sounds of laughter
The birds swoop down upon
The crosses of old grey churches
We say that we're in love
While secretly wishing for rain
Sipping coke and playing games
September's here again
Em Julho de 2016 escrevi um texto para a Raquel, mulher do JdC, texto esse que girava à volta de uma história passada com ela em Moçambique: os miúdos apareciam-lhe em casa e, quando lhes era perguntado o que queriam, respondiam kungokhala (uma palavra que em Chichewa quer dizer só ficar) .
Fui repescar uma parte desse texto (quem quiser ler o post completo pode fazê-lo aqui) porque fala dos Setembros da minha juventude, e a lembrança desses tempo é uma espécie de regresso a casa. É um texto saudosista, eu sei, mas, como digo sempre, o passado é certo, o futuro não existe até prova em contrário.
Dino Meira compôs uma música a que chamou O meu querido mês de Agosto, Ruy Belo escreveu um poema que intitulou Como se estivesse em Agosto. Para mim, e roubando o título de uma crónica antiga de João Bénard da Costa, os dias de Agosto são dúbios. Certos, certos, como o são as minhas memórias, são os meses de Setembro. Eis, pois, o excerto que fala dos Setembros da minha juventude. Para algumas pessoas, a juventude é um local imaterial de refúgio para momentos atribulados.
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Penso que já terei escrito algo sobre este aspecto das minhas férias de juventude: durante alguns anos, talvez dos 13 até aos 24 ou 25 passei férias regulares em casa de amigos e primos no Alentejo. Era Setembro, e a casa enchia-se de gente, do cheiro a petróleo que substituía a electricidade, da emoção dos cigarros fumados às escondidas, do odor a sopa de cação ou de beldroegas, da música ouvida num pick-up a pilhas ou dos devaneios adolescentes de uma ida a Badajoz. Lembro-me de me perguntarem o que fazíamos lá durante um mês. A minha resposta repetia-se com a monotonia que advém das convicções: nada! E é por isso que é tão bom.
De facto, não havia grandes actividades, para além do pingue-pongue, dos jogos de gamão ou das idas à terra local ver a novela ou passear um bocado, das excursões a Vila Viçosa pendurados na boleia que substituía os carros inexistentes. Usando uma conjugação verbal já aplicada neste estabelecimento, estava-se. No fundo, ficávamos, e nada havia de mais feliz nessa dimensão de aparente inactividade. Não estávamos obrigados à agitação, não queríamos agitação para além daquela que já tínhamos. Queríamos algo que não se ligasse obrigatoriamente ao frenesim, à necessidade de programas diários, à agitação do corpo ou da mente. Estávamos, e isso dava-nos - ou dava-me, pelo menos - uma tranquilidade enorme e uma felicidade cujas razões só tarde percebi. Queríamos estar, porque encontrávamos nessa realidade aquilo que cada um precisava, ditado pela ingenuidade ou pela necessidade do subconsciente. Aquela casa era o nosso mundo. Ou era o meu mundo.
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Já no final do poema referido, e referindo-se ao seu Agosto, diz Ruy Belo:
onde cada uma dessas coisas anualmente se encontra comigo
Agosto são talvez estas palavras todas onde me perco onde procuro pôr os meus passos
onde afinal penso que permaneço um pouco mais do que no frágil edifício dos dias
Subscrevo tudo, se o poeta, lá na eternidade onde vive, me deixar substituir Agosto por Setembro.
Setembro começou, para mim, em 1971. Se à chegada àquele meu Alentejo me tivessem perguntado o que é que eu queria, a resposta seria óbvia: kungokhala. Bom Setembro para todos.
JdB
Pois para mim é o agosto (já não se escreve com maiúscula, insiste o corretor) . Agosto é também o meu mês referência. O mês em que me sinto mais solta porque permaneço, quanto a este tema, na idade escolar em que agosto, o mês do meio , simbolizava o meio das férias . Já tinha gozado um tempo de ócio mas ainda tinha outro tanto para gastar. Isto, acrescido de outras coisas que tornariam o comentário demasiado longo...
ResponderEliminarFrancisca,
ResponderEliminarObrigado pela visita setembrina.
É sempre curioso ver o que as pessoas fixam dos seus verões passados. Para mim há o Verão, como "entidade" meteorológica difusa que permitia idas à praia, namoros mais contínuos, saídas à noite. Mas depois havia Setembro - e Setembro era uma "entidade" diferente, autónoma, como uma existência própria. E nem a proximidade das aulas lhe retirava o encanto (que me era muito próprio).
Ontem, andei pelo seu Blog. Fiz alguns comentários. Houve um texto que partilhei com o meu filho Pedro, ao jeito de quizz. Percebeu logo quem era o autor...foi aquele da "ideia da felicidade"
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