25 setembro 2024

Vai um gin do Peter’s ? 

 “CUNHA” DAS CRIANÇAS PARA A PAZ

Partiu do Papa da Primeira Guerra Mundial, Bento XV, a ideia de recorrer à intercessão das crianças para implorar pela paz. Assim lhes confiava a missão mais premente naquela época de enorme aflição em toda a Europa e noutras partes do mundo, devastados por uma guerra cruenta, que parecia interminável. A 30 de Julho de 1916, um grupo vasto de crianças rezou com o Sumo Pontífice, no Vaticano, pedindo a paz universal, pois já só o clamor dos mais novos poderia mudar o mundo louco dos adultos. Para se perceber a consternação do Papa e também o seu vanguardismo, é bom lembrar que só uma década depois se reconhecia a santidade de Teresinha do Menino Jesus, precursora da infância espiritual e do valor incalculável dos simples e igualmente dos gestos insignificantes do dia-a-dia.

A sequência de eventos após o encontro das crianças na Santa Sé foi curiosa: ano e meio depois (NOV.1918), a Grande Guerra terminava com o armistício assinado pelas forças beligerantes. Volvido um ano, a Rússia dos Czares abandonava o conflito ajudando a reduzir o nível de beligerância, embora se encapsulasse numa guerra civil sanguinária, de onde saiu vitoriosa a facção mais extremista e violenta dos bolcheviques, capitaneados por um déspota cruel – Lenine.  

Logo em 1917, alertando para a urgência de pedir pela paz e para os riscos que continuavam a pender sobre o futuro tão incerto da humanidade, outrem replicava a ideia do Papa e incumbia três imberbes pobres de rezar pelo fim da Guerra. Tornaram-se nos videntes mais novos da história, respectivamente com 7, 8 e 10 anos. Em boa verdade, as Aparições marianas aos três Pastorinhos em Fátima, tinham sido precedidas e preparadas pelo Anjo de Portugal, ao longo do ano de 1916, em simultâneo com a cadeia de oração infantil lançada pelo Papa. 

Na Mensagem de Fátima transmitida por Lúcia, a Pastorinha mais velha: «Nestes tempos em que vivemos, a Santíssima Virgem deu ao Rosário uma nova eficácia. Portanto, não há um único problema, por mais sério que seja, que não possamos resolver rezando o Rosário»

Todos estes passos foram deixando rasto, pelo que no ano 2000 nasceu uma primeira iniciativa de terço conduzido pelas crianças e rezado com o Papa João Paulo II, na visita pontifícia ao Santuário de Fátima, nos dias 12 e 13 de Maio. Mais tarde, na capital venezuelana, um grupo de crianças juntou-se para rezar o terço e inspirou um grupo de mães a levar a iniciativa a todos os pontos do globo. Assim surgiu a campanha «Um milhão de crianças rezam o Terço pela Paz» (https://acninternational.org/millionchildrenpraying/pt-pt/), sob a coordenação internacional da AIS (Ajuda à Igreja que Sofre) e fixou-se o dia 18 de Outubro para o terço universal dos pequeninos, com a simultaneidade possível entre os diferentes países. Em Portugal, o terço será transmitido a partir da Capelinha das Aparições, às 18h30. 

Lema deste ano: "Reze o Rosário e haverá paz"

«Um milhão de crianças rezam o Terço pela Paz»

Outra voz famosa do século XX tinha já bramado aos quatro ventos que «Quando um milhão de crianças rezarem o Terço, o mundo mudará» (P. Pio). Promessa audaciosa, repetida por João Paulo II, pela Madre Teresa e por várias outras figuras de referência na fé.

Basta ir a um hospital, a uma prisão ou a algum lado onde se sofre para testemunhar quanto a oração simplicíssima que é o terço, até pela repetição, corresponde à expressão que resta a quem está afogado em dor, no limite das forças ou apenas desconcentrado e desinspirado. A facilidade em ser ‘entoada’ como uma cadência musical ondulante, dispensa esforços de concentração intelectual, sendo dos poucos actos capaz de fluir, mesmo em estado semi-inconsciente. No imediato, tem um efeito apaziguador incrível (é sintomático ajudar tantas pessoas a adormecer) e a prazo transmite uma paz profunda, cósmica. Pela extrema simplicidade, permite o multitasking a par de outras tarefas, à maneira daquele instrumento de suporte das actuações de jazz, que oferece o fundo musical estável e propício à improvisação do instrumento que protagoniza a novidade. 

Vivemos tempos perigosos. Hoje, volta a ser precisa uma voz que ajude a trazer paz a tantos lugares da terra atingidos por guerras ferozes, como todas, por definição, embora algumas sejam denominadas, quase ironicamente, “de baixa intensidade”, enquanto não se propagam aos poucos locais considerados prioritários, onde a vida humana é devidamente valorizada. Já é um sinal extraordinário, do Brasil a Mianmar, as gerações mais jovens, do futuro, unirem-se em volta do Terço para o mundo mudar, melhorar.   

Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas) 

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