tag:blogger.com,1999:blog-27591844879080846882024-03-18T19:59:45.794+00:00Adeus, até ao meu regressoAs melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antesJdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.comBlogger6002125tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-47694523513286565362024-03-18T07:00:00.001+00:002024-03-18T07:00:00.138+00:00Do quotidiano *<p> <span style="text-align: justify;">Formava-se a primeira comunidade de seres humanos na Terra. Só algum tempo depois, já esta comunidade dominava o vocabulário, a construção das frases e a técnica do neologismo, é que surgiu a palavra</span><span style="text-align: justify;"> </span><i style="text-align: justify;">quotidiano</i><span style="text-align: justify;">. Até então as actividades eram ocasionais, avulsas, impulsivas: a caça, o cumprimento das necessidades fisiológicas ou a satisfação das pulsões sexuais, a atenção ao céu como lugar geométrico de todos os mistérios. Só algum tempo depois, repete-se, é que o</span><span style="text-align: justify;"> </span><i style="text-align: justify;">avulso</i><span style="text-align: justify;"> </span><span style="text-align: justify;">se tornou em</span><span style="text-align: justify;"> </span><i style="text-align: justify;">quotidiano</i><span style="text-align: justify;">, e se definiram momentos certos e regulares para as coisas. </span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há actividades quotidianas que nos acompanham desde o homem das cavernas, ou desde os homens que começaram por dar sons identificadores às coisas, sons esses que redundaram em palavras que, alinhadas, formaram um todo inteligível que permitiu a comunicação, a troca comercial, o primórdio do afecto. Com o tempo, e com aquilo que pensamos ser a evolução da espécie, o quotidiano foi-se alterando: já não caçamos, mas mantemos o desejo sexual; temos mais hábitos de higiene, mas o céu pode ser apenas, e só, a folha de papel onde plasmamos mistérios: projecções matemáticas, tendências probabilísticas, caracterização das núvens.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;">***</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A tecnologia relativamente barata e ao alcance de um dedo gerou milhões infindos de fotografias nos últimos 20 ou 30 anos. Fotografaram-se as crianças na praia, no banho, na primeira festa, no primeiro jogo de futebol; fotografou-se a namorada, o primo, o almoço de sardinhas assadas numa mesa gordurosa, o desafio do Sporting, a festa de Carnaval, ou ainda Chicago, esse espectáculo de amor e traição que alguns colégios fantasiaram pelo Natal; fotografou-se uma fralda cheia de cocó que se mandou à mãe de férias, a boca suja da primeira sopa de legumes, a viagem de comboio pela Europa com aromas de suor, má comida e desejos de jovem adulto; fotografou-se o grupo de amigos bêbedos, as amigas com ar provocante, as roupas práticas e ligeiras que mataram uma certa elegância feminina. Por último, cada um fotografou-se a si próprio: num grupo a rir, mascarado de fantasia, com adornos de photoshop, em frente de uma cascata tropical, de uma igreja rococó ou de um prato pejado de calorias e triglicéridos. Tudo se fotografou, ninguém deixou de ser fotografado. Milhões e milhões de fotografias sem direito ao esquecimento a circular no éter, a revelar um quotidiano moderno, semi-líquido, volátil, prático, existente. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por motivos que não vêm ao caso, andei de roda de fotografias relativamente antigas, com 50 ou 60 anos, talvez - muitas antes ainda de eu existir. São de uma época em que a tecnologia se revestia de uma máquina cara, usada em momentos específicos, porque o resto não interessava ser fotografado - havia o custo da fotografia, mas havia, também, uma certa sensação resguardada das coisas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Imaginemos que o tempo passado só poderia ser decifrado por meio de escritos e de imagens da época e que, munido desses artefactos, decifrávamos um estilo de vida. Olho para aquelas fotografias que fui retirando avulsas de uma caixa e o que encontro? Elegância, cuidado, pouco improviso; mas também encontro uma certa <i>gravitas</i>, uma adultez precoce face aos nossos tempos. Não são fotografias do quotidiano, mas fotografias de festas, de jantares, de comemorações, de encontros. São fotografias que permitem recordar uma certa estética, mais do que uma certa realidade. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Entre o <i>quotidiano</i> do homem das cavernas e o <i>quotidiano</i> do século XX a diferença está, essencialmente, no pudor. Mantêm-se os desejos, as pulsões, as necessidades de sustento, o céu como interrogação, o projecto de amor. Mudou a forma e, nalguns casos, o espaço desse mesmo <i>quotidiano</i>. O que mudou para o século XXI? A tecnologia que permite revelar tudo, a vontade humana que pretende mostrar tudo. As fotografias que eu vi não eliminavam a existência do quotidiano - o bebé de boca suja, o cocó na fralda, a sardinhada gordurosa, o desejo carnal, a informalidade de uma noite mais excessiva. As fotografias que eu vi revelavam, acima de tudo, a <i>importância</i> das coisas, não a <i>existência</i> das coisas. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JdB </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">* publicado originalmente a 4 de Dezembro de 2017</div><div><br /></div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-20502213752639380152024-03-17T07:00:00.001+00:002024-03-17T07:00:00.135+00:00V Domingo do tempo da Quaresma<p> <span style="background-color: white; font-weight: 700;"><span style="font-family: inherit;">EVANGELHO – João 12, 20-33</span></span></p><p style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; line-height: 1.62; margin: 0px 0px 20px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: inherit;">Naquele tempo,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />para adorar nos dias da festa,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e fizeram-lhe este pedido:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Senhor, nós queríamos ver Jesus».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Filipe foi dizê-lo a André;<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Jesus respondeu-lhes:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Em verdade, em verdade vos digo:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só;<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />mas se morrer, dará muito fruto.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Quem ama a sua vida, perdê-la-á,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e quem despreza a sua vida neste mundo<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />conservá-la-á para a vida eterna.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Se alguém Me quiser servir, que Me siga,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />E se alguém Me servir, meu Pai o honrará.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Agora a minha alma está perturbada.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora?<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Pai, glorifica o teu nome».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Veio então uma voz do céu que dizia:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l’O».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />A multidão que estava presente e ouvira<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />dizia ter sido um trovão.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Disse Jesus:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir;<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />foi por vossa causa.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />E quando Eu for elevado da terra,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />atrairei todos a Mim».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Falava deste modo,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />para indicar de que morte ia morrer.</span></p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-90760772434594787432024-03-15T07:00:00.001+00:002024-03-15T07:00:00.346+00:00Comparações dos dias que correm<p> <iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/YBcdt6DsLQA?si=IlvUQ66na47HVfOL" title="YouTube video player" width="560"></iframe></p><p>
<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/4InSuadZzIU?si=Bx5H3BBhUmrDMk4t" title="YouTube video player" width="560"></iframe></p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-64290523024930424812024-03-14T07:00:00.003+00:002024-03-14T07:00:00.137+00:00Poemas dos dias que correm<p><span style="color: #c01111;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDZ3el-CKGqo_hUnDx0L3Z3Q7CV4EFCOVeVgxMKoeNYJpZ9Hq7HPx8w33Sl3kKGIiwJrDa-hJwUwOsIF4AJB9s2Qiz-SWeo2KykjDHSImLc2Aq-rBPxn2A4qCt7TG_HDzubC1QA_mYfIOuKcuhTfoUTRWG73H_1WXJdT76EDfSmZqxHYg_nluKcNdMXQw/s2016/IMG_3560.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2016" data-original-width="1512" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDZ3el-CKGqo_hUnDx0L3Z3Q7CV4EFCOVeVgxMKoeNYJpZ9Hq7HPx8w33Sl3kKGIiwJrDa-hJwUwOsIF4AJB9s2Qiz-SWeo2KykjDHSImLc2Aq-rBPxn2A4qCt7TG_HDzubC1QA_mYfIOuKcuhTfoUTRWG73H_1WXJdT76EDfSmZqxHYg_nluKcNdMXQw/w480-h640/IMG_3560.jpg" width="480" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mosteiro da Batalha, Fevereiro de 2024</td></tr></tbody></table><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></p><p><span style="color: #c01111;"><span style="font-family: inherit;">Tenho uma grande constipação,</span></span></p><div class="texto-poesia" style="line-height: 1.2em; margin: 1.2em 0em 2.4em;"><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Tenho uma grande constipação,</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">E toda a gente sabe como as grandes constipações</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Alteram todo o sistema do universo,</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Zangam-nos contra a vida,</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">E fazem espirrar até à metafísica.</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Tenho o dia perdido cheio de me assoar.</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Dói-me a cabeça indistintamente.</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Triste condição para um poeta menor!</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Adeus para sempre, rainha das fadas!</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Não estarei bem se não me deitar na cama.</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Nunca estive bem senão deitando-me no universo.</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;"><i>Excusez un peu...</i> Que grande constipação física!</span></p><p style="height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; padding-left: 8em; text-indent: -8em;"><span style="font-family: inherit;">Preciso de verdade e da aspirina.</span></p></div><div class="data" style="color: #666666; margin: 0.6em 0em;"><span style="font-family: inherit;">14-3-1931</span></div><div class="biblio" style="color: #666666; margin: 0.6em 0em;"><span style="font-family: inherit;"><p style="display: inline; height: auto !important; margin-bottom: 0em; margin-top: 0em; min-height: 1.2em; text-indent: 0em;"><b>Poesias de Álvaro de Campos</b>. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).</p> - 48.</span></div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-49813164865006324832024-03-13T07:00:00.003+00:002024-03-13T07:00:00.336+00:00Vai um gin do Peter’s ? <p>EDUCAR COM E PELA ARTE</p><p><span style="text-align: justify;">Uma reflexão magnífica, partilhada por mão amiga, interpela-nos sobre o papel que a arte deveria ter no currículo escolar, sendo quase omissa. Com a autoridade de quem está associado a colégios de renome, desde há vários séculos, saberá avaliar como poucos o real impacto destas interrogações e recomendações. </span></p><p style="text-align: justify;">No <i>argumentário</i> apresentado, a arte surge como meio para se atingir um conjunto amplo de objectivos pedagógicos, em geral, de natureza mais subtil e profunda do que a transmissão pura e dura de novos conhecimentos. </p><p style="text-align: justify;">Para vários dos objectivos visados poder-se-iam acrescentar outros métodos complementares como, por exemplo, uma maior interacção com a natureza. É eloquente a tradição (hoje, em desuso) em países germânicos e nórdicos de incumbir crianças de tenra idade do cultivo de plantas ou do cuidado de animais domésticos. Tratava-se de uma tarefa responsabilizante e não de um hobby ligeiro e inconsequente. Aliás, era frequente exigirem-se resultados, havendo relatos autobiográficos sobre os castigos aplicados aos pobres filhos, quando uma planta, por exemplo, não medrava capazmente. Em muitos dos reinos e Estados que vieram a integrar a Alemanha, no século XIX, assim como na Áustria, era comum haver gaiolas de madeira decorativas penduradas nas janelas dos quartos das crianças, bem visíveis da rua, para exibir os pássaros que estavam ao cuidado dos seus pequenos donos. Quem tinha jardins costumava consagrar um canteiro à responsabilidade da miudagem. Ressalvando os exageros, os perfeccionismos ou, pior ainda, os pretextos para a agressividade paterna/materna com os mais novos, percebe-se que persistem inúmeros aspectos onde a educação escolar e familiar tem enorme potencial de enriquecimento. Mas para lá das melhores receitas didácticas, o principal factor-chave de sucesso na educação continuará a residir e depender das pessoas envolvidas – educandos e educadores – como a História confirma com clareza meridiana. </p><p style="text-align: center;"><i><span style="color: #38761d;">«A arte é urgente</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">O que andamos a perder por relegarmos a arte para segundos e terceiros planos (ou para plano nenhum)? Ou, pela positiva, o que é que poderíamos ganhar se déssemos espaço à arte?</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Não sou um entendido de arte, estou longe de o ser. Nem sequer me parece que tenha uma sensibilidade particular ou mais apurada do que a média das pessoas que pisam este mundo. No entanto, considero que a arte é urgente. Tão urgente como a matemática e a engenharia.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Pergunto-me muitas vezes porque razão no nosso sistema educativo não é dada a mesma importância à educação visual, à literatura, à pintura, à música, que é dada à matemática, ao português, à ciência, à fisico-química. Porque razão consideramos a arte como matéria secundária? O que é que isto diz da forma como olhamos para nós próprios, para a vida e para o mundo? Não significará que o nosso olhar se tornou demasiado técnico e que as nossas preocupações se prendem sobretudo com questões de eficácia e de produtividade? É assim queremos viver?</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">E ainda mais importante: o que é que andamos a perder por relegarmos a arte para segundos e terceiros planos (ou para plano nenhum)? Ou, pela positiva, o que é que poderíamos ganhar se déssemos espaço à arte?</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #274e13;">A atenção e o tempo</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">A atenção é um bem preciosíssimo, porque é aquilo capaz de nos ancorar ao presente. Nestes tempos que vivemos, a nossa atenção é alvo de uma competição feroz e, geralmente, muito bem sucedida. Vivemos muitas vezes atentos ao que não interessa, que é o mesmo que dizer: vivemos desatentos.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><u><i><span style="color: #38761d;">A arte é, sobretudo, atenção. É a capacidade de olhar com intenção, é a capacidade de o olhar se demorar. É uma rebelião contra a voracidade. A arte ensina a atenção.</span></i></u></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Mas desaprendemos a demorar-nos. Tornámos a espera numa fraqueza nossa, como se fosse necessariamente algo a combater.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Temos publicado no instagram da @provocasj uns vídeos com umas canções originais e é assustador ver as estatísticas das visualizações: a percentagem de pessoas que chega aos seis segundos de vídeo ronda os 50%. Independentemente da qualidade da canção, aguentar apenas seis segundos é nem sequer dar hipótese! Não me parece nada sustentável viver com um spam de atenção de seis segundos.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #274e13;">A profundidade</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Sem tempo não existe profundidade. A profundidade precisa de tempo. Não são precisos mais do que uns segundos para nos darmos conta da vastidão do nosso mundo interior, do nosso avesso, mas são precisos muitos anos (provavelmente a vida toda) para entrarmos nessa vastidão.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">A arte é uma porta de entrada na profundidade, é uma linguagem que procura decifrar o avesso das coisas. A arte dá-nos vocabulários e gramáticas para lermos a vastíssima experiência humana que não fica à superfície e para olharmos as coisas a partir da profundidade.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #274e13;">A tensão das perguntas não respondidas</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Temos dificuldade em conviver com o inacabamento e com a incerteza. Preferiríamos banir da nossa vida tudo o que é fonte de dúvida. Gostaríamos de poder controlar a existência e ter as respostas certas de antemão, sem corrermos o risco de falhar. Inevitavelmente vivemos na tensão das perguntas não respondidas e estas perguntas não serão respondidas da mesma forma que se resolve uma conta matemática.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">A arte não tem medo de habitar esta tensão. Não tem a pretensão de resolver a vida de uma forma simples e mágica, mas cria espaço para que a incerteza e a dúvida sejam acolhidas como companheiras de caminho. A arte sabe ver a beleza da imperfeição das coisas e das perguntas por responder.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #274e13;">O silêncio</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">A ausência de silêncio é, talvez, das maiores perdas dos tempos recentes. Existe hoje uma incapacidade muito maior para enfrentar o silêncio e o que de bom e de duro o silêncio traz. Tenho medo que vivamos enterrados em analgésicos que contornam o silêncio e a possibilidade de escutar o lado de dentro da vida.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">A arte ensina o silêncio, de alguma forma, convoca-o e exige-o. É evidente que posso ir ao Louvre e tirar uma selfie com a Monalisa, mas para ver bem e para ouvir bem é preciso silêncio. De outro modo, eu estarei a tapar a vista do que vejo e a gritar-me ao ouvido do que ouço. Com o seu silêncio, a arte ajuda-me a tirar-me da frente e a escutar verdadeiramente o que me está a ser dito.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #274e13;">A imaginação e a criatividade</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Sustento a tese de que, por vivermos inundados de imagens e de estímulos, a nossa imaginação empobreceu-se e a nossa criatividade está entorpecida. Sermos bombardeados continuamente de imagens e ruído ocupa muito espaço. Dá a sensação de que estamos a ser constantemente entretidos e que já não há espaço para o tédio e para o aborrecimento.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Acredito que uma parte da arte nasça do tédio, deste espaço que se abre, que não está ocupado, onde há lugar para o novo. Parece-me que todos precisamos deste espaço desocupado: não é um lugar fácil para os nossos olhos habituados a tanto espetáculo, mas é um lugar importante para não nos deixarmos viver meramente entretidos.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Não acho que a arte seja entretenimento, diria que é muito mais uma provocação, um confronto, um grito, e, por isso, pode ser incómoda e desconcertante. Mas é exatamente isso que nos diz que a vida é demasiado preciosa para a perdermos em passatempos.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #274e13;">A paixão</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Lembro-me bem da paixão que sentia quando, há uns anos, conseguia comprar ou me ofereciam um álbum novo ou quando apanhava na rádio alguma música de que gostava verdadeiramente. Estou bastante certo de que nesse tempo, em que não estava tudo simplesmente disponível ou que não tinha constantemente todas as possibilidades à mão, a minha paixão pela música era incomparavelmente maior. De alguma forma, parece-me que ter tudo disponível e garantido, sempre e em todo o lado, tira valor às coisas e rouba-nos a paixão, torna-nos apáticos, no sentido etimológico da palavra: sem paixão.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Esta “tirania das possibilidades” também nos chega aos olhos e sinto que é hoje muito mais difícil maravilhar-nos com alguma coisa. Porque se estamos em overdose de informação e entretenimento, dificilmente nos conseguiremos deter para saborear o que quer que seja. Tornámo-nos extremamente impacientes.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Ao dar-nos atenção, a arte devolve-nos o olhar das crianças que se deixam assombrar por tudo, para quem tudo é novidade. Devolve-nos gosto pelas coisas simples e vulgares que, para os olhares desimpedidos, ganham a carga de milagres. A arte pode-nos sacudir e acordar-nos de uma vida desapaixonada.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Curiosamente, quase tudo aquilo que foi dito acima poderia ter sido dito em relação à fé e às dificuldades que encontramos hoje para a viver e a transmitir. Tenho a impressão de que o problema não está tanto nos conteúdos nem na forma como evangelizamos. Está no passo anterior: no terreno em que queremos semear, que tem pouco espaço para acolher. Sinto que, muitas vezes, a nossa ação deveria situar-se em criar espaço e disponibilidade nos outros (e em nós): abrir à sensibilidade e ao silêncio, cultivar a atenção e a profundidade, ajudar a ver e a escutar, desenvolver a imaginação e a criatividade para acolher o novo.</span></i></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #38761d;">Portanto, considero que a arte é urgente, não apenas como forma de expressar a fé, mas também como antecâmara, como preparação do terreno, como lugar de fecundidade.»</span></i></p><div style="text-align: left;"><div style="text-align: right;"><span style="color: #38761d;">P. Duarte Rosado, sj</span></div><span style="color: #38761d;"><div style="text-align: right;">1 Março 2024 – no portal Ponto SJ.PT</div></span></div><p style="text-align: justify;">Uma experiência cheia de humor e ironia, levada a cabo há década e meia, expos as incongruências de muitos especialistas em arte, suscitando perguntas sobre aquele conceito e o mundo infindo que lá cabe. Tudo começou pelo convite a 12 crianças de 2 e 3 anos para colorirem, com as mãos, uma tela em branco. Cumprida a primeira tarefa, o quadro preenchido a manchas policromáticas foi sorrateiramente pendurado numa parede da célebre feira de arte contemporânea europeia – a ARCO de Madrid. Depois, gravaram-se os comentários estarrecedores (para dizer o menos) do público erudito, entre artistas e galeristas, q.b. reveladores dos equívocos a que a pintura dita abstracta se presta: </p>
<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/vUghQ19JMfU?si=XeznWPj3MnvMvwzF" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div><div>Maria Zarco</div><div><span style="color: #38761d;">(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)</span></div></div><div><br /></div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-50079579876956220332024-03-12T07:00:00.002+00:002024-03-12T11:39:59.154+00:00Da mentira como inexactidão<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh36PwNGR-fAHlXLNtqKYz1SC3_yUebOlovK7EL8GZcEzApXrOPsG1dCLykvFw1C881ddxj_zgDUhW_sMMrWPyWKwgqbLiZUO5XPyuYjB6a3fyjUJLruH7Ox1xJpT6X4r-5_NrnEb3yVZ7J2TmI_Ojh3j-6yFVNXim0_PYnEIl6kiLzY1eDuy98QXgasbI/s2016/IMG_3724.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2016" data-original-width="1512" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh36PwNGR-fAHlXLNtqKYz1SC3_yUebOlovK7EL8GZcEzApXrOPsG1dCLykvFw1C881ddxj_zgDUhW_sMMrWPyWKwgqbLiZUO5XPyuYjB6a3fyjUJLruH7Ox1xJpT6X4r-5_NrnEb3yVZ7J2TmI_Ojh3j-6yFVNXim0_PYnEIl6kiLzY1eDuy98QXgasbI/w480-h640/IMG_3724.jpg" width="480" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Convento de Cristo (Tomar), Fevereiro de 2024</td></tr></tbody></table><p>Em <i>Notas para a Recordação do meu Mestre Caeiro (algumas delas)</i> diz Fernando Pessoa, pela boca de Álvaro de Campos:<i> </i></p><p><i><span style="color: #38761d;">Há frases repentinas, profundas porque vêm do profundo, que definem um homem, ou, antes, com que um homem se define, sem definição. Não me esquece aquela em que Ricardo Reis uma vez se me definiu. Falava-se de mentir, e ele disse: «Abomino a mentira, porque é uma inexactidão». Todo o Ricardo Reis — passado, presente e futuro — está nisto.</span></i></p><p style="text-align: justify;">Talvez não fizesse mal aos políticos com um certo sentido de humor lerem Álvaro de Campos. Nada me cansa mais do que ouvir pessoas a dizerem que são optimistas, que acreditam no próximo, que são pela verdade ou que são muito francos. Nada me cansa mais do que ouvir pessoas falarem sempre bem de si próprias, não porque, em bom rigor, se sintam muito boas, mas porque sentem que ninguém acredita nelas se elas disserem <i>quem? Eu? Eu sou um pessimista... </i>A mim levava-me às urnas alguém que dissesse com transparência: <i>abomino a mentira, porque é uma inexactidão. </i>Não abomina a mentira porque não está certo, mas porque é uma inexactidão. A cereja em cima do bolo seria a invectiva contra as histórias de crianças: não gosto da Cinderela; <i>há ali uma inexactidão que me incomoda</i>. </p><p style="text-align: justify;">JdB</p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-81059344998089074172024-03-11T07:00:00.001+00:002024-03-11T07:00:00.135+00:00Músicas dos dias que correm *<p> </p>
<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/hbZfNP3bb0o?si=ONy9HI9kr95OHgRN" title="YouTube video player" width="560"></iframe><div><br /></div><div>* apresentada por mão amiga</div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-60435624975437345702024-03-10T07:00:00.001+00:002024-03-10T07:00:00.129+00:00IV Domingo do tempo da Quaresma<p> <span style="background-color: white; color: #4b4f58; font-family: -apple-system, "system-ui", "Segoe UI", Roboto, Oxygen-Sans, Ubuntu, Cantarell, "Helvetica Neue", sans-serif; font-size: 15px; font-weight: 700;">E</span><span style="background-color: white; color: #4b4f58; font-weight: 700;"><span style="font-family: inherit;">VANGELHO: João 3, 14-21</span></span></p><p style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #4b4f58; line-height: 1.62; margin: 0px 0px 20px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: inherit;">Naquele tempo,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />disse Jesus a Nicodemos:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Assim como Moisés elevou a serpente no deserto,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />também o Filho do homem será elevado,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />para que todo aquele que acredita<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />tenha n’Ele a vida eterna.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />para que todo o homem que acredita n’Ele<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />não pereça, mas tenha a vida eterna.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Porque Deus não enviou o Filho ao mundo<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />para condenar o mundo,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />mas para que o mundo seja salvo por Ele.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Quem acredita n’Ele não é condenado,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />mas quem não acredita já está condenado,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />E a causa da condenação é esta:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />a luz veio ao mundo<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e os homens amaram mais as trevas do que a luz,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />porque eram más as suas obras.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Todo aquele que pratica más ações<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />odeia a luz e não se aproxima dela,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />para que as suas obras não sejam denunciadas.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />para que as suas obras sejam manifestas,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />pois são feitas em Deus.</span></p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-53309867436970395412024-03-08T07:00:00.003+00:002024-03-08T07:00:00.130+00:00Poemas dos dias que correm<p style="background-color: white; margin-top: 0px; text-align: left;"><span style="font-family: inherit;">Poemas Canhotos</span></p><div class="xdj266r x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs x126k92a" style="background-color: white;"><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">em boa verdade houve tempo em que tive uma</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">ou duas artes poéticas,</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">agora não tenho nada:</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">sento-me, abro um caderno, pego numa esferográfica</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">e traço meia dúzia de linhas:</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">às <a style="color: #7198c8;" tabindex="-1"></a>vezes apenas duas ou três linhas;</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">outras, vinte ou trinta:</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">houve momentos em que fui apanhado neste jogo e cheguei</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">a encher umas quantas páginas do caderno</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">aconteceu também por vezes que o papel pareceu</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">estremecer,</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">mas o mundo, não: nunca senti que o mundo estremecesse</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">sob as minhas palavras escritas,</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">o que já senti, e é de facto um pouco estranho, foi isto:</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">enquanto escrevia, o mundo parecia deslocar-se,</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">e quando eu chegava ao fim das linhas escritas,</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">sabia que estava tudo feito,</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">sentia que devia morrer</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">mas, como se vê, nunca o mais simples atingiu em mim a</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">sua própria profundidade</span></div><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="background-color: white;"><div dir="auto"><span style="font-family: inherit;">Herberto Helder</span></div></div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-90442300833801938162024-03-07T07:00:00.001+00:002024-03-07T07:00:00.140+00:00De uma ida a Olivença<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJBhuOLHjzqbDAR7nvV_0KdK7WAMd6q50JXjg0o8JXAaOeQUbK9L9FcLODHxx97yN_h-mGT4kcgStzefuAVXpKyAZxKyVTLXb1wcwwYru2iV6fRHISX2Mhx9Zhw-6Uvl1p054xIKQJEwvdVtTHHYX9wg0BJ04-yoCqZuDrSgMpLBWNUMYiSwarQJRjyv0/s2016/IMG_3751.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1512" data-original-width="2016" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJBhuOLHjzqbDAR7nvV_0KdK7WAMd6q50JXjg0o8JXAaOeQUbK9L9FcLODHxx97yN_h-mGT4kcgStzefuAVXpKyAZxKyVTLXb1wcwwYru2iV6fRHISX2Mhx9Zhw-6Uvl1p054xIKQJEwvdVtTHHYX9wg0BJ04-yoCqZuDrSgMpLBWNUMYiSwarQJRjyv0/w640-h480/IMG_3751.jpg" width="640" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;">A convite de pessoas que me são próximas, voltei a Olivença este ano, desta vez para assistir a 3 corridas - uma das quais uma novilhada, de cujo cartel fazia parte um português chamado Tomás Bastos. </p><p style="text-align: justify;">Ir aos toiros a Olivença é fazer uma espécie de peregrinação sem promessas, mas com desconforto. Começo pelo desconforto. </p><p style="text-align: justify;">Na verdade, só lá vai quem gosta muito: a praça é acanhada, num bocado de pedra (onde nos assentamos) onde nem um rabo cabe, tem de caber um rabo mais os pés da pessoas que está a trás de nós. A estática e os movimentos - os nossos, os dos que estão à nossa frente e os dos que estão atrás de nós - têm de ser síncronos, isto é, temos de abrir as pernas para que o vizinho da frente se encaixe, temos de confiar que a pessoa atrás de nós abra as pernas, para que nós próprios nos encaixemos. Quando nos levantamos, convém que todos o façam em simultâneo, para não haver desequilíbrios. </p><p style="text-align: justify;">Uma corrida de toiros é um espectáculo a que se deve assistir em silêncio, para permitir a concentração de toiro e toureiro. No entanto, há pessoas que falam, que gritam, que desconcentram os intervenientes. Há os que o fazem por ignorância, há os que o fazem por excesso de álcool no sangue.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA_ot-nj17hyphenhyphenQr58GRgikRy-K4VTDwm6OVpah-LHiL5k25aL2qRq1c-5tH3T97ylAd83AUY2K9-o4n7hAFNF7oMK5jp97KYChkuAz7ilen7eSrpqK_boQ9V6sJ9Zq7iNCKcrnL_ro6Fnu8DGk87Qz9SDJrfnEI_fC9oHqNYFTiBqYD2uG9q6vUv5Ojvk0/s2016/IMG_3758.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2016" data-original-width="1512" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA_ot-nj17hyphenhyphenQr58GRgikRy-K4VTDwm6OVpah-LHiL5k25aL2qRq1c-5tH3T97ylAd83AUY2K9-o4n7hAFNF7oMK5jp97KYChkuAz7ilen7eSrpqK_boQ9V6sJ9Zq7iNCKcrnL_ro6Fnu8DGk87Qz9SDJrfnEI_fC9oHqNYFTiBqYD2uG9q6vUv5Ojvk0/w480-h640/IMG_3758.jpg" width="480" /></a></div><p style="text-align: justify;">O reverso da medalha deste desconforto é a convivência com uma certa tribo, como se fossemos todos iguais nesta peregrinação a um local de devoção. As pessoas perguntam-se de onde são (metade dos espectadores são portugueses) fazem graça com isso. Um local à nossa frente ofereceu-nos vinho, queijo e chouriço, o outro disponibiliza um chapéu de chuva. Fazemos todos parte de uma certa irmandade que suporta o frio, a chuva e o desconforto em nome de um espectáculo que faz parte de uma cultura, seguramente, mas que está longe de ser popular. Quem lá vai é aficionado, companheiro da mesma peregrinação.</p><p style="text-align: justify;">Para mim, o reverso da medalha do desconforto (dois conhecidos portugueses compraram três bilhetes para ficarem mais à vontade) é, também, o ritual inerente a uma corrida de toiros: a superstição, a forma de andar ou de colocar o queixo, a maneira de atravessar a arena arrastando um capote, um sem número de pormenores que faz parte daquela festa, que empresta à coreografia que há em tudo um pormenor que nem sempre é percebido - ou valorizado.</p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRoA7kTp_ynL-j6XGjF0uxxELRE4ia7LrQ8X6YpiqflVRTUtnlm0Bx27tgXpWNhKWKpYPY7Ay-aAU9w810cF2UTuqk0m7tBgptg0C3A9dS-7CM_o8IlkXwjjyP4Cso24nGCooBAECR5CMhXn9Xgx0tJDqES0f-v5Wmo16gYPw0l51SrM4AaAut4BvdMkk/s2016/IMG_3754.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2016" data-original-width="1512" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRoA7kTp_ynL-j6XGjF0uxxELRE4ia7LrQ8X6YpiqflVRTUtnlm0Bx27tgXpWNhKWKpYPY7Ay-aAU9w810cF2UTuqk0m7tBgptg0C3A9dS-7CM_o8IlkXwjjyP4Cso24nGCooBAECR5CMhXn9Xgx0tJDqES0f-v5Wmo16gYPw0l51SrM4AaAut4BvdMkk/w480-h640/IMG_3754.jpg" width="480" /></a> </div><p style="clear: both; text-align: justify;">Tal como referi acima, uma das corridas a que assisti era uma novilhada; isto é, não se tourearam toiros com 4 ou 5 anos, mas novilhos com 3 anos, com tudo o que isso representa de diferença em termos de peso e bravura. Falamos, no entanto, de animais com 400 e muitos quilos. Em Portugal um novilheiro tem de ter pelo menos 16 anos. Tomás Bastos, o novilheiro português que se estreou em Olivença com picadores, deverá ter 17 anos, a mesma idade dos seus colegas de cartel. </p><p style="clear: both; text-align: justify;">Na fotografia, um deles a executar uma sorte de gaiola, que consiste em receber o novilho (ou toiro) assim que ele sai dos curros. </p><p style="clear: both; text-align: justify;">JdB</p><p></p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-83872622895194794542024-03-06T07:00:00.001+00:002024-03-06T07:00:00.131+00:00Poemas dos dias que correm<p style="background-color: white; color: #333333; margin: 1em 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><span style="color: var(--primary-text); white-space-collapse: preserve;"><span style="font-family: inherit;">O CIDADÃO DESCONHECIDO </span></span></p><div style="background-color: white; color: #333333; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-align: justify;"><div class="" dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><div class="x1iorvi4 x1pi30zi x1l90r2v x1swvt13" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id=":r18:" style="margin: 0px; outline: none; padding: 4px 16px 16px;"><div class="x78zum5 xdt5ytf xz62fqu x16ldp7u" style="display: flex; flex-direction: column; margin: -5px 0px; outline: none; padding: 0px;"><div class="xu06os2 x1ok221b" style="margin: 5px 0px; outline: none; padding: 0px;"><span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x1f6kntn xvq8zen xo1l8bm xzsf02u x1yc453h" dir="auto" style="color: var(--primary-text); display: block; line-height: 1.3333; max-width: 100%; min-width: 0px; overflow-wrap: break-word; word-break: break-word;"><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="margin: 0.5em 0px 0px; outline: none; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Segundo apurou o Instituto de Estatística,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Contra ele nunca <a style="color: #385898; cursor: pointer; display: inline; outline: none; transition: color 0.3s ease 0s;" tabindex="-1"></a>existiu qualquer queixa oficial,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">E todos os relatórios sobre a sua conduta confirmaram:</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">No moderno sentido de uma palavra velha, ele era um santo,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Pois em tudo o que fez serviu a Grande Comunidade.</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Com excepção da Guerra e até ao dia da reforma,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Trabalhou numa fábrica e nunca foi despedido ;sempre satisfez os seus patrões, Máquinas Fraude, Ltda.</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Mas não era fura-greves nem tinha opiniões estranhas,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Pois o Sindicato informa que sempre pagou as quotas</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">(E o seu Sindicato tem a nossa confiança),</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">E o nosso pessoal de Psicologia Social descobriu</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Que ele era popular entre os colegas e gostava de um copo.</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">A Imprensa não duvida de que comprava um jornal por dia</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">E que as reacções à publicidade eram cem por cento normais.</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Apólices tiradas em seu nome provam que tinha todos os seguros,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Eo Boletim de Saúde mostra que esteve uma vez no hospital e saiu curado.</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Tanto o Gabinete de Estudos dos Produtores como o da Qualidade de Vida declaram</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Que estava plenamente sensibilizado para as vantagens da Compra a Prestações</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">E tinha tudo o que é preciso ao Homem Moderno:</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Um gira-discos, um rádio, um carro e um frigorífico.</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Os nossos inquiridores da Opinião Pública alegraram-se</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Por ter as opiniões certas para a época do ano;</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Quando havia paz, era pela paz, quando havia guerra, ele ia,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Era casado e aumentou com cinco filhos a população,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">O que, diz o nosso Eugenista, era o número certo para um pai da sua geração,</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">E os nossos professores informam que nunca interferiu com a sua educação.</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Era livre? Era feliz? A pergunta é absurda:</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Se algo estivesse errado, com certeza teríamos sabido.</span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="margin: 0.5em 0px 0px; outline: none; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div></div><div class="x11i5rnm xat24cr x1mh8g0r x1vvkbs xtlvy1s x126k92a" style="margin: 0.5em 0px 0px; outline: none; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; white-space-collapse: preserve;"><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">Wystan Hugh Auden</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">(1907 - 1973)</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">In "Leituras, Poemas do Inglês"</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;">(Tradução de João Ferreira Duarte)</span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div dir="auto" style="margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><a href="https://ajudameaverealer.blogspot.com/2024/03/o-cidadao-desconhecido-segundo-apurou-o.html">Retirado daqui</a></div></div></span></div></div></div></div></div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-30052419447503967212024-03-05T07:00:00.002+00:002024-03-05T17:12:37.066+00:00A menina dos Correios *<p style="text-align: justify;">São as <em>meninas dos Correios</em>, como numa dada altura eram as <em>meninas dos Telefones</em>. Sei do que falo, porque me dirijo amiúde ao posto mais próximo que tem um quadro de pessoal exclusivamente feminino. Compro selos, peço estampilhas de correio azul, levanto cartas registadas, atento nas últimas publicações. A menina lá está, fardada, com uns óculos tristes, um cabelo aloirado e desinteressante, um olhar irrequieto e envergonhado. Recebe simpatias com uma cara que ruboresce, enfrenta uma observação com desculpas que tendem para infinito. </p><p style="text-align: justify;"><em>Esta</em> menina dos Correios é uma rapariga nova, pintada de forma displicente, que poderia usar um letreiro em forma de súplica: não olhem para mim, finjam que eu não existo. Chama-se Clotilde e é filha de uma professora primária e viúva precoce de um motorista da Câmara Municipal. Convicta da irreversibilidade do estado civil, a senhora devotou-se por inteiro aos meninos, a quem transmitiu valores que formam as mentes e salvam as almas. Clotilde cresceu entre um aviso de recepção e um luto permanente, com uma Mãe que assumiu um pensamento constante: para onde caminhas tu, com esse feitio tímido e invisível? </p><p style="text-align: justify;">Um destes dias levaram-me a um <em>recinto</em> no lado oriental da cidade, recuperado para uma <em>malta</em> mais alternativa, desta que não se revê em lado nenhum da noite – ou que quer tudo em simultâneo. Celebrava-se o dia de África, pelo que o estabelecimento era o continente negro copiado e colado na União Europeia. </p><p style="text-align: justify;">Numa das salas dançava-se o <em>kizomba</em>: pernas que cruzam, ancas que roçam lateralmente para depois encaixarem de frente; a sensualidade, os cheiros, o ambiente, os sotaques, as saudades das noites africanas, do pôr-do-sol e do espaço sem fim. À minha frente, uma mancha negra movimentava-se ao som de uma toada ritmada e lasciva. No meio da pista, com um menear irrepreensível do corpo, uns cabelos loiros a revelarem cuidado, e uma saia curta que mal tapava umas pernas esguias, vi a Clotilde, esquecida dos carimbos e das encomendas, da franquia e do registo, a descobrir uma África que só conhece da TV Cabo. Com ela, um jovem negro com mais de 1,90 que lhe percorre o corpo como um alfaiate afaga uma peça de caxemira: com um vagar sensorial, de mão aberta e a toda a extensão do pano. </p><p style="text-align: justify;">Quando saí, ainda a vi beijando o Valter, empregado de uma oficina na margem sul - um beijo longo, húmido, carregado de desejo e erotismo, de fluidos trocados e cor de pele contrastante. O rapaz sente no corpo da Clotilde a geografia africana e mata as saudades com o tacto, porque a lonjura é uma cegueira, e mão que não toca é alma que não sente. Para ela, que tem o horizonte visual de um balcão ao nível dos olhos, o mecânico é um canal de viagens com interacção erótica.</p><p style="text-align: left;"></p><p style="text-align: justify;">No dia seguinte a jovem voltará a ser a mesma menina do Correio, tímida, envergonhada, com uma farda estilizada e um cabelo démodé. Almoçará jardineira de vitela com uma Mãe que fala de Deus às crianças – sendo que a inversa também é verdadeira. Engolirá, nostálgica, um pedaço de carne, porque é, também, de nostalgia que se faz a pergunta guardada num coração dividido: <em>sabes fazer moamba, mamã</em>? </p><p style="text-align: justify;">Conheço-a bem. No fundo, no fundo, somos todos do mesmo bairro.</p><p></p><div align="justify"></div><div align="justify"><br />JdB</div><div><br /></div><div>* publicado originalmente a 7 de Setembro de 2009</div><div align="justify"></div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-21438206468102588022024-03-04T07:00:00.001+00:002024-03-04T07:00:00.147+00:00Músicas dos dias que correm<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/w46bWxS9IjY?si=zF0pnS6DbEMjHrO4" title="YouTube video player" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen></iframe>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-79690805700031281812024-03-03T07:00:00.001+00:002024-03-03T07:00:00.182+00:00III Domingo do Tempo da Quaresma<p> <span style="background-color: white; color: #4b4f58;"><span style="font-family: inherit;">EVANGELHO – João 2, 13-25</span></span></p><p style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #4b4f58; line-height: 1.62; margin: 0px 0px 20px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: inherit;">Estava próxima a Páscoa dos judeus<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e Jesus subiu a Jerusalém.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Encontrou no templo<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e os cambistas sentados às bancas.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Fez então um chicote de cordas<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois;<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />deitou por terra o dinheiro dos cambistas<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e derrubou-lhes as mesas;<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e disse aos que vendiam pombas:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Tirai tudo isto daqui;<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />não façais da casa de meu Pai casa de comércio».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Os discípulos recordaram-se do que estava escrito:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Devora-me o zelo pela tua casa».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?»<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Jesus respondeu-lhes:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Destruí este templo e em três dias o levantarei».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Disseram os judeus:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />«Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e Tu vais levantá-lo em três dias?»<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Jesus, porém, falava do templo do seu corpo.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />os discípulos lembraram-se do que tinha dito<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />muitos, ao verem os milagres que fazia,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />acreditaram no seu nome.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" />Ele bem sabia o que há no homem.</span></p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-5151192172958065142024-03-01T07:00:00.001+00:002024-03-01T07:00:00.246+00:00Músicas dos dias que correm<p> </p>
<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/vsZk-RrYXjU?si=z74dOucZ2ZAnFlUf" title="YouTube video player" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen></iframe>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-67887599073076604232024-02-29T07:00:00.001+00:002024-02-29T07:00:00.342+00:00Da censura<p style="text-align: left;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0_ft7_yJ4gnZhyphenhyphenlKP8ipcyAxDBZKB8uJan91NPC2B7nXdIlh9Eg8T3-qoNdZx1TP-omTyjag78h60tTCYilbXPt-0V2iY5JMZAsNMnqkdEURmI9JODxGCXbLI7Ybyvt0o8M5VCA0QE0mbfr2KIOtOpkpVNXhHTYOIctD30H49WoUWx2mgHcb1TWODbbU/s1600/WhatsApp%20Image%202024-02-16%20at%2019.47.27.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0_ft7_yJ4gnZhyphenhyphenlKP8ipcyAxDBZKB8uJan91NPC2B7nXdIlh9Eg8T3-qoNdZx1TP-omTyjag78h60tTCYilbXPt-0V2iY5JMZAsNMnqkdEURmI9JODxGCXbLI7Ybyvt0o8M5VCA0QE0mbfr2KIOtOpkpVNXhHTYOIctD30H49WoUWx2mgHcb1TWODbbU/w480-h640/WhatsApp%20Image%202024-02-16%20at%2019.47.27.jpeg" width="480" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhV9DfTim_pfjLW_K2KsE2kCK4_V41TdM2YGFwSFN8aEnRkxJAkwHVkDC7G-6B9HxpuNwGON_mnYkNPUfKxj3idG-eZV-CmpZI1fRwY_FDUZWRsu3d63mAX9MY7vKwIEwwWq1K9S2oE23jvrt_xiuOKh1VOWJHt41LeVxFHgn-jPps18LR8Vqcc9N-Q_BI/s2016/IMG_3675.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2016" data-original-width="1512" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhV9DfTim_pfjLW_K2KsE2kCK4_V41TdM2YGFwSFN8aEnRkxJAkwHVkDC7G-6B9HxpuNwGON_mnYkNPUfKxj3idG-eZV-CmpZI1fRwY_FDUZWRsu3d63mAX9MY7vKwIEwwWq1K9S2oE23jvrt_xiuOKh1VOWJHt41LeVxFHgn-jPps18LR8Vqcc9N-Q_BI/w480-h640/IMG_3675.jpg" width="480" /></a></div><p style="clear: both; text-align: justify;">Encontrei estes dois documentos (são fotocópias) na Fábrica do Braço de Prata, onde estive há algumas semanas. Infelizmente não li o <i>Vagão J</i>, de Vergílio Ferreira, nem a <i>Apresentação do Rosto</i>, de Herberto Helder, que foi apreendido na sua quase totalidade pela PIDE em 1968 e só viria a ser reeditado em 2020, tornando-se um objecto de culto. Por isso, não consigo sequer imaginar o que seriam estas duas obras à luz da realidade social e política de 1947 e 1968. </p><p style="clear: both; text-align: justify;">Por motivos que se prendem com a minha idade, e pelo meio não intelectual por onde a minha família e amigos circulava, a Censura disse-me pouco. É, para mim, um episódio histórico, mais do que uma manifestação da ditadura. Assim sendo, entretive-me a ler o que o Sr. Joaquim Palhares, leitor, e o Sr. Borges Ferreira, capitão, tinham a dizer sobre o assunto, e por que razão os livros não deveriam ser publicados. </p><p style="clear: both; text-align: justify;">Confesso que estas notas da Censura me despertaram a curiosidade. Que o Herberto Helder é hermético não é novidade - e pelos vistos esta característica já tinha sido identificada pelo censor em 1948. Já Vergílio Ferreira, não sendo surrealista, privilegiava o asqueroso. </p><p style="clear: both; text-align: justify;">JdB </p><br /><p></p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-78825514556484931072024-02-28T08:10:00.001+00:002024-02-28T08:10:56.541+00:00 Vai um gin do Peter’s ? <p>RECEITAS QUARESMAIS</p><p style="text-align: justify;">Do divertido e muito talentoso Chefe italiano Federico Fusca circulou, há um par de dias, uma receita rápida e simples como convém para as nossas agendas atafulhadas de afazeres: uma massa cremosa recheada de amêijoas com raspas de limão e ovas de tainha, mesmo a calhar nesta época do ano, que convida a menus minimalistas e a privilegiar o peixe. A própria coreografia de ingredientes frescos a aterrarem certeiros em tachos e frigideiras dá logo vontade de correr para a cozinha: </p><p style="text-align: center;"><a href="https://www.instagram.com/reel/C22jtF8IUUC/?igsh=bmdvM2swY3JrOHNq">https://www.instagram.com/reel/C22jtF8IUUC/?igsh=bmdvM2swY3JrOHNq</a></p><p style="text-align: justify;">De D. Tolentino Mendonça a receita é mais primaveril e espiritual, mas igualmente adaptada à quadra: </p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #38761d;"><i>«REZAR A PRIMAVERA INTERIOR</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #38761d;"><i>Ensina-me, Senhor, a fazer desta quaresma uma primavera. É fundamental que o degelo aconteça não apenas na natureza, mas nas nossas vidas. Que os dias se ampliem, mas não apenas na sua extensão externa. Que o calor avance não simplesmente como uma questão da meteorologia, mas como expressão da nossa humanidade recentrada, transfigurada em Ti.</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #38761d;"><i>Ensina-me, Senhor, a lição das coisas simples em meu redor. A lição das flores bravias, que não colocam condições para o seu florescer, nem escolhem os terrenos </i></span><i style="color: #38761d;">que nós pensaríamos mais apropriados: onde elas estão acendem simplesmente o seu pequeno sol, seja à beira das estradas secundárias ou num qualquer baldio que </i><i style="color: #38761d;">tem todo o ar de ser inútil. Enquanto para nós é tão fácil perder o melhor da vida por falta de comparência!</i></p><p style="text-align: justify;"><i style="color: #38761d;">Ensina-me, Senhor, a lição das árvores, pois nos mostram quanto o renascimento começa por dentro. De facto, o renascimento principia por ser uma questão da seiva e não mero assunto de folhagem. As árvores testemunham que as grandes revitalizações nos pedem uma confiança paciente, nos desafiam a aprender a linguagem do silêncio e a crer naquele dom que vem de Deus e que já está em nós, mesmo se por muito tempo permanece invisível aos olhos.»</i></p><p style="text-align: right;"><span style="color: #38761d;">P. Tolentino</span></p><p style="text-align: right;"><span style="color: #38761d;">2.03.2021</span></p><p style="text-align: justify;">Um tempo de Quaresma bom, que nos ajude a recentrar no principal e “destralhar” de tudo o que está a mais na nossa vida. </p><p style="text-align: justify;">Maria Zarco</p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #38761d;">(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)</span> </p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-38954402783638743152024-02-27T07:00:00.001+00:002024-02-27T07:00:00.244+00:00Pensamentos dos dias que correm<h2 style="box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 30px; font-weight: 500; line-height: 1.1; margin-bottom: 10px; margin-top: 20px;">Somos Uma Surpresa Para Nós Próprios</h2><div style="box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: georgia; font-size: 16px; line-height: 30px;">Como serão em privado as pessoas que conhecemos? Quanta surpresa se o soubéssemos. Porque nós, instintivamente, tendemos a julgá-las idênticas dentro e fora de si. Mas o que somos por fora é o que aceitamos que o seja e é o que os outros estabeleceram. Tal fanfarrão na praça pública pode ser um chilro piegas quando lá não está ou um medricas quando a coisa é a sério (Não dizia Aristóteles que os grandes atletas eram maus soldados?). Ou inversamente. O que aceita para si a imagem exterior de um mole, de um tíbio, de um encolhido de comportamento - no interior de si, e quando for caso disso, pode ser um obstinado de dente rilhado. Há um estilo de se ser que se adopta por convenção generalizada, orientação de uma época, obrigação protocolar no modo de nos manifestarmos.<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" />(...) As regras de comportamento em grandezas chegam só à porta da rua ou ao menos da do quarto ou seguramente à da casa de banho. E daí para dentro, vale tudo, ou seja a regra somos nós. E é então que sabemos quem somos ou quem é aquele que consentimos que seja ou em que medida respeitamos em nós o que respeitamos nos outros. Mas nem é preciso talvez entrarmos na nossa intimidade. Quanta farófia se não desfaz em caca quando entra a polícia? Como se aguentaria ela, frente a um pelotão de fuzilamento? Mas o mesmo tipo revelado em fraqueza e enrolado de timidez poderia revelar-se em coragem quando a coisa fosse a doer. Tudo é tão casual. Somos tanto a invenção de nós em cada momento. Tudo é tão em nós uma fortuita conjugação de astros. Somos tão surpresa para nós próprios. Para a coragem ou o amor ou a verdade ou mesmo a inteligência. Ou o simples estar vivo.<br style="box-sizing: border-box;" /><br style="box-sizing: border-box;" /><i style="box-sizing: border-box;">Vergílio Ferreira, in 'Pensar'</i></div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-18245474483900143582024-02-26T07:00:00.001+00:002024-02-26T07:00:00.130+00:00Músicas dos dias que correm<p> </p>
<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Bfgu31KtKZE?si=-GnZFpvMWb5Yisrd" title="YouTube video player" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen></iframe>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-67718832589745625732024-02-25T07:00:00.001+00:002024-02-25T07:00:00.595+00:00II Domingo do Tempo da Quaresma<p> <span style="background-color: white; color: #4b4f58;"><span style="font-family: inherit;">EVANGELHO – Marcos 9,2-10</span></span></p><p style="background: rgb(255, 255, 255); border: 0px; box-sizing: border-box; color: #4b4f58; line-height: 1.62; margin: 0px 0px 20px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><span style="font-family: inherit;"><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Naquele tempo,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">e subiu só com eles<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">para um lugar retirado num alto monte<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">e transfigurou-Se diante deles.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">As suas vestes tornaram-se resplandecentes,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">as poderia assim branquear.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Pedro tomou a palavra e disse a Jesus:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">«Mestre, como é bom estarmos aqui!<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Façamos três tendas:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">e da nuvem fez-se ouvir uma voz:<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">De repente, olhando em redor,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">não viram mais ninguém,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">a não ser Jesus, sozinho com eles.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Ao descerem do monte,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">o que tinham visto,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos.<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">Eles guardaram a recomendação,<br style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;" /></span><span style="box-sizing: border-box; line-height: 1.62;">mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.</span></span></p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-10901186144476927332024-02-23T07:00:00.002+00:002024-02-23T07:00:00.141+00:00Do que é "ter cara de..." *<p> <span style="text-align: justify;">Ontem, por volta das oito da manhã, paredão do Estoril. </span></p><div style="text-align: justify;">Duas senhoras, por volta dos sessenta anos, pouco mais, equipadas com fato de treino vermelho, abordam um cavalheiro que, de auscultadores nos ouvidos, vem em sentido contrário. Pelo ar dele - enfim, podia ser da hora matutina - percebe-se que não se conhecem. Ele pára, esboça um sorriso matutino e esforçado, e cede o equipamento a uma delas. Esta põe-no na cabeça e, passados dois segundos, agita-se mansamente ao som de uma música cujo ritmo só posso imaginar. Três segundos depois a devolução ao legítimo dono e a continuação da passeata. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta cena oferece vários ângulos de observação. Em primeiro lugar, o à-vontade com que alguém aborda outro alguém no meio da rua para lhe solicitar algo. Não falamos de esmola, de um isqueiro, de um telefonema numa emergência ou da indagação das horas. Não. As senhoras invejaram os auscultadores de um transeunte (destes auscultadores à antiga, que cobrem a totalidade dos ouvidos) e decidiram avaliá-lo. Não lhes ocorreu que o legítimo dono pudesse não achar graça a ser parado, a ser interrompido, a engolir uma repugnância de ver os seus auscultadores colocados sobre os ouvidos de alguém desconhecido. Conheço boa gente para quem isso constituiria um certo nojo. Por outro lado, ninguém nos diz que o cavalheiro se sentisse à vontade em partilhar o que estava a ouvir com pessoas estranhas ao serviço dele. Para algumas pessoas, a música de um ipod pode inscrever-se numa certa dimensão de privacidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando ando no paredão gosto de olhar para as pessoas e imaginar-lhes histórias. Em particular, quando têm auriculares ou auscultadores, gosto de lhes imaginar a música que ouvem, e encontrar uma certa coerência entre ocupação imaginada e música imaginada. Por exemplo, durante muito tempo cruzei-me com um casal dos seus sessenta e poucos anos. Ele tinha cara de ter sido maquinista da CP; ela, talvez operária numa fábrica de malhas. O que ouviria ele, que andava sempre de auricular nos ouvidos? Por outro lado, o que é <i>ter cara de</i>? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">(A esse propósito, lembro-me de uma história que me contaram há mais de 30 anos: fulano, jovem, à mesa da refeição em casa dos pais referiu-se a alguém como tendo "cara de criada". Ora, a empregada da casa, vigilante ao canto da sala de jantar para retirar atempadamente os pratos da sopa, que o empadão de batata ficava frio, questionou: "oh menino, e as criadas têm uma cara especial?").</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que é t<i>er cara de</i>? E o que nos diz isso da música que essas pessoas ouvem? O que ouve alguém que tem cara de maquinista reformado da CP? Tony Carreira? O pequeno Saúl? Ou pode ir surpreendentemente a um Freddy Mercury ou, ainda mais surpreendentemente, a um Mozart? Numa camada mais jovem, a imaginação estará mais próxima da realidade: ser filho/a de um maquinista reformado da CP ou de um gigante da nossa indústria não constitui diferença assinalável: todos/as têm um equipamento electrónico onde, com poucas excepções (talvez a comunidade africana) ouvem o mesmo género de música. Mas sobe-se uma ou duas gerações e o acesso à música, com excepção da telefonia, não estava generalizado. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há 40 anos, o maquinista da CP ouviria o que a telefonia lhe oferecesse; hoje reformado, ouve o quê? E se afinal não é maquinista reformado, apesar de ter cara disso, mas um engenheiro informático ou um industrial do tijolo de Vieira de Leiria?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JdB</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">* publicado originalmente a 4 de Fevereiro de 2016</div><div><br /></div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-45344773743732211992024-02-22T07:00:00.002+00:002024-02-22T07:00:00.131+00:00Da morte como oportunidade de promoção<p style="text-align: justify;">No próximo Domingo fará anos que nasceu Cesário Verde (25 de Fevereiro de 1855 - 19 de Julho de 1886). Entre nascer, ser empregado de comércio e morrer, passar-se-iam uns escassos 31 anos. Numa carta dessa altura para o seu grande amigo Silva Pinto, diz-lhe Cesário:</p><p style="text-align: justify;"><i>O Dr. Sousa Martins perguntou-me qual era a minha ocupação habitual. Eu respondi-lhe naturalmente: empregado de comércio. Depois ele referiu-se à minha vida trabalhosa, que me distraía. Ora meu querido amigo o que te peço é que conversando com o Dr. Sousa Martins lhe dês a perceber que eu não sou o Sr. Verde, empregado de comércio. Eu não posso bem explicar-te, mas a tua amizade compreende os meus escrúpulos. Sim?</i> </p><p style="text-align: justify;">Em <i>O Livro do Desassossego</i>, escreve Bernardo Soares:</p><p style="text-align: justify;"><i>Vivemos pela acção, isto é, pela vontade. Aos que não sabemos querer — sejamos génios ou mendigos — irmana-nos a impotência. De que me serve citar-me génio se resulto ajudante de guarda-livros? Quando Cesário Verde fez dizer ao médico que era, não o Sr. Verde empregado no comércio, mas o poeta Cesário Verde, usou de um daqueles verbalismos do orgulho inútil que suam o cheiro da vaidade. O que ele foi sempre, coitado, foi o Sr. Verde empregado no comércio. O poeta nasceu depois de ele morrer, porque foi depois de ele morrer que nasceu a apreciação do poeta.</i></p><p style="text-align: justify;">Tal como digo no primeiro parágrafo, <i>entre nascer, ser empregado de comércio e morrer passar-se-iam uns escassos 31 anos. </i>Embora o Sr. Verde tenha escrito todos os versos antes do fatídico dia 19 de Julho de 1886, só depois de ter dito ao irmão <i>não quero nada. Deixa-me dormir </i>e ter exalado o último suspiro<i> </i>é que ele se transformou em Cesário Verde, o poeta de <i>O Sentimento de um Ocidental</i>. Ser-se empregado de comércio é comum; já ser-se poeta é singular. Foi preciso a morte - como para tanta gente, em tantos momentos e em tantos lugares - para que ele se alcandorasse e passasse de uma vulgaridade para um destaque. </p><p style="text-align: justify;">Se o mundo fosse imperfeitamente perfeito, ou permitisse todas as imaginações, talvez pudéssemos pensar que Cesário Verde, se tivesse vivido 100 anos, teria sido sempre, e fatalmente, o <i>Sr. Verde</i>. A morte salvou-o, porque o que ele queria era ser <i>Cesário Verde</i>. </p><p style="text-align: justify;">JdB </p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-24611271190625981902024-02-21T07:00:00.001+00:002024-02-21T07:00:00.134+00:00Notas dissonantes - Duas últimas *<div style="text-align: justify;">
Há alturas em que gosto da ideia de <i>nota dissonante</i>, uma expressão que podia ser substituída pela ideia de <i>incoerência sociológica</i>, por exemplo. Eu explico: numa família de gente feia, há alguém que se destaca pela sua beleza. Há ali uma dissonância estranha, que podia ser ao contrário - a fealdade pontual no meio de uma beleza generalizada. O encanto manter-se-ia. Em Buenos Aires fui confrontado com este conceito mais do que uma vez, talvez porque estivesse mais atento, não sei porquê, talvez porque tenha conseguido explicar a ideia a um companheiro pontual de viagem de uma geração abaixo da minha. </div>
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Na rua Caminito encontrei uma casal sentado à mesa numa esplanada. Ele era preto, ela era branca. Ambos estiveram o tempo todo de volta dos seus próprios telemóveis, nunca falando um com o outro. Passados 15 minutos, talvez, a artista que no restaurante cantava e dançava tango para os clientes veio buscá-lo para uma fotografia conjunta: a artista todo sensual e coleante e ele de chapéu de feltro debruçado sobre um olho, como se ambos fossem dançarinos locais. Mas ele era preto, e o tango é uma música de brancos, como há músicas de pretos, ou de chineses. Havia ali uma dissonância, como se víssemos um esquimó vestido de campino a dançar o fandango. </div>
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Em San Telmo, no bairro onde fui roubado, o domingo é agitado de gente pelas ruas, pelas bancas, pelas esplanadas, pelos cafés ou pelos bancos de jardim. Não há sofisticação, elitismo, elegância fruto de casacos de peles bonitos ou de gente assumidamente milionária. E não obstante, no restaurante onde estávamos a beber umas <i>tiradas</i> e a comer amendoins com casca, um casal jovem bebia uma garrafa de Moet et Chandon, como se estivessem num hotel sofisticado de Paris.</div>
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Deixo-vos com Concha Buika em duas notas dissonantes: a cantar Jacques Brel e a cantar Carlos Gardel.<br />
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JdB<br />
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/x8-_KLrvz_o" width="640"></iframe>
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<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/sDjG2q3JKV0" width="640"></iframe><div><br /></div><div>* publicado originalmente a 16 de Junho de 2017</div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-8221022581000017032024-02-20T07:00:00.007+00:002024-02-20T07:00:00.185+00:00Poemas dos dias que correm<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij3blWNX7ZpaQt8DktzeW7xwyUZgjp2MmCTy92wtdr3rJDO_U9F5dUxNpqGCRLgci3q1VnxVZT8ZaBtZOnIjn4go4q2CorF67Xb_Dvafl4KmHvMfC_gKpMZtAuO3t8DSAksMGZPjoJ3EJF8BWEs00-I-FgAFmxyZnFRd_ZCBQC23OHleg523UPTQkCy8A/s4032/IMG_3691.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij3blWNX7ZpaQt8DktzeW7xwyUZgjp2MmCTy92wtdr3rJDO_U9F5dUxNpqGCRLgci3q1VnxVZT8ZaBtZOnIjn4go4q2CorF67Xb_Dvafl4KmHvMfC_gKpMZtAuO3t8DSAksMGZPjoJ3EJF8BWEs00-I-FgAFmxyZnFRd_ZCBQC23OHleg523UPTQkCy8A/w480-h640/IMG_3691.jpg" width="480" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Convento de Cristo, Tomar (Fevereiro 2024)</td></tr></tbody></table><p>Comentário sobre os velhos</p><div style="text-align: left;">Alguém tem de<br />ir à frente. A ir alguém<br />que vão<br />os velhos. Se formos pensar bem<br />para que é<br />que os velhos servem? A maior parte<br />não faz nada. Estão quase sempre doentes.<br />Em rigor só<br />dão trabalho. Consomem recursos<br />imensos. A ter de ir<br />alguém à frente<br />(é bom de ver:) que<br />vão eles. Nós temos objectivos. Toda uma<br />vida pela frente. Molhando<br />as calças de<br />pingos.<br />Lançando pão d’ontem<br />aos pombos.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">João Luís Barreto Guimarães, Poesia Reunida, 2023, pp. 343-4.</div>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2759184487908084688.post-29181856517933290502024-02-19T07:00:00.007+00:002024-02-19T09:25:18.084+00:00Da guarda que não se rende<p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9uwH6Nemu8J9RVbA7DORzsGSCtzaeeuP_5-b6FR1ADwLG2yrGw6NS3d28TNT46FZgOmg7yR90tigbI6rn9kLWTmfOfAyez8GWYRcUPHb8eSBvRI26eWhYT06shLqmIwQAVKFuQW5yaq4MQOYShpWsccrTNjjeSEh479i0KieQuw7F-F9IhfYhRCmiAH4/s1024/Mosteiro_da_Batalha_(10638053443).jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="1024" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9uwH6Nemu8J9RVbA7DORzsGSCtzaeeuP_5-b6FR1ADwLG2yrGw6NS3d28TNT46FZgOmg7yR90tigbI6rn9kLWTmfOfAyez8GWYRcUPHb8eSBvRI26eWhYT06shLqmIwQAVKFuQW5yaq4MQOYShpWsccrTNjjeSEh479i0KieQuw7F-F9IhfYhRCmiAH4/w640-h480/Mosteiro_da_Batalha_(10638053443).jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mosteiro da Batalha (fotografia tirada da internet)</td></tr></tbody></table><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Relativamente ao crucifixo que consta da fotografia acima, diz a <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Cristo_das_Trincheiras">Wikipédia</a>:</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i>Cristo das Trincheiras é uma estátua, que durante a Primeira Guerra Mundial, se tornou num símbolo de resistência e sobrevivência para os soldados do Corpo Expedicionário Português que estavam sediados em Neuve-Chapelle, França.[1] É considerada uma das peças mais emblemáticas da participação de Portugal na Primeira Grande Guerra. Atualmente encontra-se exposta no Mosteiro da Batalha.</i> </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_EORzzA1H-Dcs9T_byveBJ7Y7yn2rsRqpluYwPUBLCsxsOFxSpjQstYWx42bR8ohnRXmxgj_6708qExilQP2pAIWKZovnYtHGF0Fqh4EQNS-DCkL06SDyTk3qg5RBFhyphenhyphen4uM9xIWWadT8bh9_lIcJzlNJA3bAoX6qFmuiN88DAwH3tO6RayK3Fa3WbfDA/s1116/Screenshot%202024-02-18%20at%2020.15.50.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="736" data-original-width="1116" height="422" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_EORzzA1H-Dcs9T_byveBJ7Y7yn2rsRqpluYwPUBLCsxsOFxSpjQstYWx42bR8ohnRXmxgj_6708qExilQP2pAIWKZovnYtHGF0Fqh4EQNS-DCkL06SDyTk3qg5RBFhyphenhyphen4uM9xIWWadT8bh9_lIcJzlNJA3bAoX6qFmuiN88DAwH3tO6RayK3Fa3WbfDA/w640-h422/Screenshot%202024-02-18%20at%2020.15.50.png" width="640" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">É nesta sala - Sala do Capítulo - que se encontra o túmulo do soldado desconhecido de Portugal que contém os corpos de dois soldados da Primeira Guerra Mundial. É um lugar com um grande simbolismo. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Estive lá com amigos há duas semanas. A visita ao Mosteiro da Batalha organizou-se por forma a podermos assistir ao render da guarda, que se processou desta forma: pelas 11h01m (porquê o atraso?) chega um graduado (não percebi a patente) vestido de camuflado. Com um tom de comando manda recuar as duas ou três dezenas de visitantes para o fim da sala. Percebe-se que seja necessário espaço para o cerimonial que está prestes a continuar. Acontece que não há cerimonial... O graduado dá vozes de comando, os dois soldados largam a guarda do túmulo e, num porte pouco garboso, vão-se embora. Não há render da guarda, porque ninguém os rende. Porquê? A explicação é simples: parece não haver soldados que cheguem para uma guarda permanente, pelo que, ao fim de 30 minutos, os soldados têm de descansar. Voltarão mais tarde, depois de cumprirem as necessidades fisiológicas, de fumarem um cigarro e contarem umas larachas. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">A guarda é intermitente, o que nos leva a questionar: se só lá estão metade do tempo (ou menos sei lá eu...), para que serve isto? </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglIQ7lyGC-VfLFXa-hhKVYReHV7556-VgJnjy8bnk3oNbqSPgW16wijSZapT3ls7T6qRTXILUJ1ixfc1c92-R4OLWpj9fAaYy6I5PHOuv3Z0AH03_18W_va2P3xclLBcwY_LgSDynKku-lpIADRt4ote8Z16xEnGNgWbppuUhmtAeObEC41b_NWxqTqxU/s4032/IMG_3575.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglIQ7lyGC-VfLFXa-hhKVYReHV7556-VgJnjy8bnk3oNbqSPgW16wijSZapT3ls7T6qRTXILUJ1ixfc1c92-R4OLWpj9fAaYy6I5PHOuv3Z0AH03_18W_va2P3xclLBcwY_LgSDynKku-lpIADRt4ote8Z16xEnGNgWbppuUhmtAeObEC41b_NWxqTqxU/w480-h640/IMG_3575.jpg" width="480" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mosteiro da Batalha (Fevereiro de 2024 - <br />os soldados que guardavam o túmulo foram descansar)</td></tr></tbody></table><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Não há nada pior do que ver-se uma cerimónia militar (ou mesmo civil) executada pelos ingleses. Porquê? Porque se estabelece um padrão, se coloca uma fasquia a uma determinada altura. Mas não somos ingleses, e a guarda a símbolos importantes para a Nação está sujeitos à disponibilidade de soldados, não à convicção da importância. Se calhar os soldados não querem fazer este serviço, ou estarão ocupados a limpar casernas ou a polir tachos para servir o rancho melhorado aos 3 oficiais que (estatisticamente) mandam em cada um deles.</div><p><i>A Pátria honrai que a Pátria vos contempla. </i>Uma bonita frase de Camões que pouco se aplica nos dias de hoje.</p><p>JdB </p><p></p>JdBhttp://www.blogger.com/profile/08134598186918924287noreply@blogger.com0