18 novembro 2011

o jogo favorito*


(* poema inspirado na leitura do romance homónimo, de leonard cohen)

havia uma rapariga chamada shell.

existiam também muitas outras raparigas,
com nomes parecidos e ao mesmo tempo diferentes.

um rosário de raparigas,
para sempre fixadas no auge absoluto da sua perfeição,
com o seus corpos exultantes,
resistentes à usura do tempo, à ferrugem dos dias.

ele era um filme, caótico,
canhestramente montado,
o trabalho de um óbvio amador.

elas eram, pelo contrário,
gloriosas obras de arte,
fotografias perfeitas de memórias petrificadas.

quando dele não restar senão a poeira e as palavras,
elas serão as suas pirâmides de gizé,
as suas cordilheiras imperiais,
cascatas sublimes causando perpétuo espanto,
vestígios orgulhosos e perenes de uma civilização
- ele - em tempos idos fluorescente.

havia uma rapariga chamada shell.
uma concha de abrigo.

por isso fugiu dela,
como se faz das coisas que têm potencial suficiente
para nos mudar a vida.

gi.

1 comentário:

  1. O poema é magnífico, totalmente na linha de pensamento e sensibilidade do autor. A última estrofe lapidar. Bom fim de semana, gi. pcp

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