Nasceste hoje mas há dezoito anos, segundo o calendário pelo qual nos
regemos cá em baixo. Pelos nossos
critérios atingirias a maioridade, com tudo o que isso traz de normal e
saudável para a vida – carta de condução, direito a voto, olhar universitário, casamento
e turismo à vontade, festa alargada a celebrar uma idade que já se conquistou
antes.
Não te imagino com dezoito anos, porque não tens dezoito anos. Mesmo
quando olho para quem foi teu amigo mais próximo – a Inês L, a Inês C, o
Lourenço A – ou para quem, do teu ano, se lembra bem de ti, como a Mariana TM ou a Vera C,
não te vejo lá, porque tens sempre os sete anos que connosco passaste. Não
quero saber, por isso, se serias alta ou baixa, magra ou gorda, se herdarias o
jeito de mãos para pintar, para tocar ou para escrever. És uma criança, serás sempre uma criança, a
alinhar com rigor precoce os sapatos num quarto, a escrever histórias premonitórias com perfeição
caligráfica, a encostar uma porta num pudor de adulto.
Celebramos pela décima oitava vez o presente que Deus nos deu – esse
Deus que não é senão amor – e que nunca nos tirou, porque nunca nos pertenceste
verdadeiramente. Perceber isso, perceber que só somos donos das coisas quando
delas nos sabemos libertar é conseguir sorrir à perda, dar o braço à saudade,
entrar num quarto escuro cheio de lembranças e saber enchê-lo de luz,
escrever nas paredes a história que torna o drama suportável.
Este ano a Inês, a Mariana, o Lourenço – e tantos outros de cujo nome
já não me lembro – celebram a idade da carta, da universidade, do voto, de uma
liberdade que já se conquistou cedo de mais. Tu não, porque cristalizaste
eternamente nos sete breves anos e porque tudo isto são detalhes de uma vida
certa, natural, saudável – mas terrena. A tua realidade é diferente, porque não
tens dias, anos, semanas. Como se divide a eternidade e o tempo do Céu em
fracções de minuto?
Hoje é dia de festa, mesmo que a festa seja toda vivida dentro do
coração de quem te amou desde o primeiro minuto, num amor crescente que só é
possível porque foi abençoado. Hoje é dia de festa, mesmo que a festa seja toda
vivida dentro do coração de quem te recorda, te reza, te pede discernimento e
força, te lembra a comer doces com uma minúcia de ourives, a falar nos
perfumes da frança num desconhecimento infantil, a caminhar de braços abertos para uma Nossa Senhora que
todos abriga.
Hoje é dia de festa. Sobre nós cai o pó do anjo, o pó do amor. E
escreve-se mais um capítulo no livro da nossa vida.
JdB
I love you daddy. TdB
ResponderEliminarEstranha esta maioridade de que fala.
ResponderEliminarAngustia olhar para a frente e ver que tanto havia para fazer. Penso que sossega, saber que tanto foi feito apesar da ausência física.
Talvez a maioridade (de maior) se materialize nos corações de quem a amou desde o primeiro minuto, porque esses eu sei que são abençoados pelo anjo - que não atingiu a maioridade na terra.
Grande e amigo abraço.
ResponderEliminarfq
Sempre lindos, lindos estes seus textos do dia 6 de Julho. Grande bj. pcp
ResponderEliminarMaravilhoso o seu testemunho, JdB. Obrigadíssima pela confiança e serenidade com que olha a vida, MZ
ResponderEliminarQuerido João,
ResponderEliminarVoltou a inspiração do anjo, aquela que não é deste mundo... Muito bonito este seu texto, de uma sensibilidade etérea.
Gosto de imaginar o seu anjo 'maior' mas entendo tão bem a sua imagem.
Obrigada por este belo presente neste dia.
Beijinhos
Com admiracao pela forma como consegues traduzir sentimentos profundissimos - dor, amor, saudade, etc.. - em simples palavras. Um abraco.
ResponderEliminarUm amor assim só pode vir do "alto". Que privilegio o nosso, sermos seus amigos e podermos compartilhar a beleza desse amor.
ResponderEliminarUm beijo e abraço forte com toda amizade.
Maf
o pó do anjo...
ResponderEliminaro pó do amor...
a perfeita, a verdeira e única alquimia do amor celestial,indelével e intemporal
Um abraço