05 novembro 2012

Vai um gin do Peter’s?

Ao ritmo da Yessian Music, «FLYING OVER AMERICA» percorre em minutos os EUA, transmitindo toda a modernidade e brio patriótico que se cultiva do lado de lá do Atlântico.

Sobre a América e a sua hegemonia civilizacional através do cinema discorria há dias Eduardo Lourenço(1), numa entrevista onde sublinhou o impacto da produção de Hollywood para a cultura hodierna. Algo redutor, mas ainda assim q.b. interpelativo:

«Até que ponto é americano?
Sou americano pela influência que em todas as coisas teve sobre mim o cinema. É, certamente, a arma mais eficaz e extraordinária que a humanidade produziu para impor um modelo, um comportamento, de uma parte mínima dela, de uma pequena elite concentrada. Hollywood é o resultado de uma gente que veio de sítios precisos da Europa e ali inventaram uma máquina de divertimento irresistível. É a maior máquina de publicidade e de publicidade política.


Propaganda?
Sim. Teve eficácia porque os valores defendidos encontraram eco. A França (…) inventou o cinema, que foi levado para os EUA. Não é por acaso que o primeiro grande filme produzido em Hollywood foi «O Nascimento de Uma Nação». O Homero dessa nova cultura mundial foi o cinema e o assunto são os próprios EUA. Sem cessar, os EUA estão a ser reinventados nas suas diversas figurações de país, mesmo cheio de problemas, mas há sempre um discurso sobre isso. A grande invenção dos EUA foi a própria mitificação muito importante como fundadora. As imagens funcionam sem cessar.(…) Eles podem fazer isso porque acreditam realmente nisso. (…)
O cinema tem uma lógica interna, chega a todo o lado. É como a Coca-Cola, se consumirmos ficamos aditos. (…) (É) uma coisa de uma popularidade intensa porque (é) participada. As pessoas reúnem-se para celebrar qualquer coisa. Não é preciso que ninguém nos venha pregar nada. E o facto de o prazer que se tem nisso ser uma resposta a um problema, talvez o mais sério da humanidade: o tédio.»

Embora as observações do filósofo português apenas realcem a vertente lúdica da sétima arte – que está bem longe de esgotar o alcance profundíssimo do cinema – têm a graça de assinalar a repercussão do produto mais internacional dos Estados Unidos, atingindo os lugares mais recônditos do mundo.

Voltando à viagem em avioneta (com o link no final), percorremos num voo rasante o caleidoscópio de paisagens que compõem a super-potência desta época.

Começamos em Manhattan, num travelling de aproximação à estátua da Liberdade – símbolo maior da pátria do melting pot, onde tantos emigrantes encontraram um porto de abrigo e uma nova oportunidade para singrar na vida. Para a maioria, o primeiro embate em terras do tio Sam foi, precisamente, à vista desta enorme figura de pedra empunhando um facho luminoso. Aliás, logo a seguir ao célebre 11 de Setembro (2011), a net foi invadida de cartoons com este ícone de  Manhattan, que  personifica os princípios fundadores da nação. Bem poderia ser o próximo alvo dos terroristas: 




Modelo muçulmano vs occidental da Estátua

Depois, sobrevoamos a capital política – Washinghton D.C. Seguem-se as montanhas com as célebres figuras dos primeiros presidentes americanos esculpidas na rocha, numa versão ultramoderna das esfinges dos faraós.

Avançamos, em seguida, para o Mississipi, onde ainda hoje se respira o ambiente maravilhosamente narrado por Mark Twain nas incansáveis aventuras de Tom Swayer.

Chegados aos grandes canyons, esgueiramo-nos por aquelas gargantas estreitas de terra encarniçada e árida, onde os cowboys precisavam de ser mais rápidos do que a própria sombra. Nos antípodas estão os picos de neve, algures em Vermont ou na célebre estância de sky de Aspen, ou na montanha mais alta do país – a atracção dos alpinistas que apreciam o risco – o McKinley.

Concluímos a sobrevoar Las Vegas, entre arranha-céus arrojadíssimos e uma réplica da Torre Eiffel num ambiente urbanístico de vanguarda, pouco a ver com Paris ou as demais metrópoles europeias, que respiram muitos séculos de história.

Vale a pena a viagem por esta nação que reúne povos e costumes de muitas origens, como mosaico, em ponto mais pequeno, da imensa diversidade que habita o planeta:


  
Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas, numa Segunda)
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(1)  «Sou um nómada», por Isabel Lucas, Montepio, nº 7, série II, Lisboa, Outono de 2012, pp. 32-38.

2 comentários:

  1. No texto: se consumirmos ficamos aditos.
    Antigamente, quando queriamos alardear coltura, faziamos citações em francês; agora vão buscar-se palavras que não precisamos, tais como eventos, etc.
    Por que não dizer viciados?
    Possidoneira.
    SdB(I)

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  2. Sim, é um anglicismo "descarado", mas é o preço da exposição às outras línguas... A evolução da língua tem esta origem, desde sempre, só que hoje dá-se a uma velocidade mais alucinante, pela maior comunicabilidade além-fronteiras. Quem não usa expressões latinas ou galicismos correntes como "avant la lettre", só para referir as mais frequentes?... A somar às influências externas comuns, o Eduardo Lourenço (citado nessa expressão) ainda acrescenta o facto de viver em França e estar casado com uma francesa, com menos proximidade com o português. Enfim, isto é só uma achega. MZ

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