25 fevereiro 2013

Vai um gin do Peter’s?

Sendo o auto-retrato um tema recorrente na pintura ocidental, sobretudo a partir do Renascimento, raros são os que posam propriamente para a posteridade, como Murillo ou, mais ainda, Velásquez, que treinou amiúde a pose afidalgada com que se eternizou em telas conhecidas, nomeadamente na célebre obra encomendada por Filipe IV de Espanha – «As Meninas» (1656). Para a maioria resultava, simplesmente, no modelo mais próximo e disponível onde podiam estudar, à saciedade, diferentes movimentos, inúmeras expressões, variedades de cenários e de idades, com as alterações próprias da passagem do tempo. Rembrandt, Dürer, Van Dick, Goya ou Kollwitz são disso exemplo.

É um facto que noutros parece perpassar uma nota indelével de egocentrismo. Assim sugerem Dali, ostensivo e triunfal, Picasso, Frida, Velásquez ou Andy Wharhol, sempre igual a si próprio no exibicionismo hiperbólico da imagem, elevando-se a ícone da Pop Art: 


1963-64


1978


1986, Tate Modern


1966, no MoMA de Nova Iorque.

Temáticas comuns como o auto-retrato ou a natureza morta divergem muito de artista para artista, porque não conseguem escapar ao cunho específico do autor. Quase todos são reconhecíveis nas obras que assinam: Dürer no rigor, detalhe e combinação harmoniosa do conjunto; Leonardo com uma suavidade de traço comovente; Rembrandt numa expressividade e jogo de sombras apuradíssimo; Caravaggio teatral e expansivo, bem à italiana; Gauguin esfusiante na experimentação cromática; Van Gogh inovador na forma e nas pinceladas salientes que só no todo se descodificação; Kollwitz hiper analítico; Picasso na profusão de estilos; Margritte cheio de humor; Dali fiel ao surrealismo; Frida quase obsessiva na figuração da herança índia; Miró a cultivar um traço muito simplificado e depurado, de que o símbolo promocional de Espanha é paradigma, ilustrando a frase inspiradora: Spain. Everything under the sun; etc.


Algures, em 2008, entrou na net uma colecção de telas a cobrir estes e outros grandes pintores ocidentais, desde o século XV ao XX, com um alinhamento assombroso, aproximadamente cronológico: Dürer, Raffaello, Leonardo, Rubens, Van Dick, Arcimboldo, Velásquez, Rembrandt, Caravaggio, Murillo, Goya, Pissaro, Manet, Degas, Cézanne, Monet, Renoir, Gauguin, Miró, Margritte, Matisse, Dali, (Frida) Kalho, Picasso, Chagall e Kollwitz: 

NUM MUSEU DO IMPÉRIO DO MEIO

Uma mega tela, considerada dos maiores tesouros da arte chinesa, tornou-se acessível na net, com um simples clique.

De formato gigantesco, nos seus 5,28m de comprimento e 24,8m de altura, foi pintada no século XI, durante a dinastia da «Canção do Norte» e retocado mais tarde, na dinastia Qing. No museu de Xangai, é das principais atracções das multidões que se acotovelam naquela efervescente metrópole chinesa.

Através do link, descobrimos os 1001 pormenores da pintura das margens do Rio durante o Festival Ching-ming e deparamo-nos com uns quadrados de contorno branco, que nos desvendam em zoom o pormenor retratado naquela parcela de quadro, oferecendo-nos ainda uma curta-metragem animada, que combina os méritos da arte antiga com as riquezas da arte contemporânea, apoiada pela sofisticação tecnológica. Tudo isto sem sair de casa:
 
http://www.npm.gov.tw/exh96/orientation/flash_4/index.html

Um luxo podermos começar a semana com uma visita virtual a obras-primas vindas das quatro partidas do mundo, sem as restrições do fecho dos museus às Segundas ou aos horários apertados.


Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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