26 novembro 2014

há homens que sabem de cor


trazia bordado ao peito, espécie de costura invisível, 
uma espécie de subterrâneo rosário feito de contas 
feitas de memórias feitas de todos os seus mortos. 

quando olhava as rugas a aflorarem o corpo outrora 
perfeito, nada nessa topografia de pele e de osso 
dava testemunho da cicatriz que nunca o abandonava.

há homens que são catedrais andantes, carregando consigo 
a luz das estrelas reflectida na íris dos seus olhos fundos
e as pedras tumulares de todos aqueles que um dia amaram.

há homens que sabem de cor todas as nervuras de todos os corações.


gi.

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