01 dezembro 2014

Vai um gin do Peter’s?


Em Paris, tem estado a decorrer uma experiência publicitária extraordinária, que permite a qualquer transeunte abrir uma simples portiinhola e ver, em directo, o que se está a passar noutras cidades europeias. Rectângulos grandes, que são uma porta isolada sem parede, estão montados em ruas das imediações do Louvre. Roda-se a maçaneta e descobre-se um ecrã do tamanho de uma pessoa, onde correm, em tempo real, as imagens do dia-a-dia de Bruxelas, Milão, Estugarda, Genebra e Barcelona. Desse outro lado do ecrã, a uns milhares de kms de distância, as pessoas interpelam o incauto de Paris, falando e brincando com aquele desconhecido, como se fosse um novo turista acabado de chegar ao seu país. São portas interactivas que, na publicidade originalíssima chamada EUROPE IS JUST NEXT DOOR, promovem a ligação ferroviária e social entre cidades da UE. Tudo parece ficar mais próximo:



 NATAL SOLIDÁRIO NUM MONUMENTO IMPERDÍVEL DE LISBOA

Até pela visita ao antigo Convento dos Cardaes(1), a 5 minutos do Príncipe Real, vale a pena descer a Rua do Século, até ao número 123. No gin de 7 de Julho, no elenco do património lisboeta menos conhecido e menos acessível, vinha este Convento, que resistiu quase intacto ao terramoto de 1755, mantendo uma capela magnífica forrada a azulejos holandeses, de Jan Van Oort, muita talha dourada, embutidos em mármore e arte sacra variadíssima.
ENTRADA:


PERSPECTIVAS DA CAPELA PRINCIPAL:

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Ao longo da casa, em inúmeros nichos e na parte do Museu descobrimos retábulos, pinturas do século XVII e XVIII, painéis de azulejaria e imagens lindas, como a de Nossa Senhora do Loreto ou a do Menino Jesus Infante.

AZULEJARIA POR TODO O CONVENTO:


ARTE SACRA: 






Fundado em 1681, por D. Luísa de Távora, para as Carmelitas Descalças, em 1878 converteu-se num asilo de cegas, sustentado pela Associação de Nª. Sra. Consoladora dos Aflitos, ainda hoje no activo. Passando a ficar à guarda de uma ordem religiosa vocacionada para a assistência aos doentes pobres, vieram depois a juntar-se outros deficientes profundos. Hoje, abriga 35 acolhidas, totalmente dependentes do cuidado constante das Irmãs e dos inúmeros voluntários que ali colaboram. Com esforço, a obra empenha-se em ser fiel à sua missão filantrópica. A sua história atribulada inclui a prisão das monjas, em 1910, na onda de perseguição religiosa que se seguiu à implantação da República. Mas só ficaram retidas por dois dias, pois as autoridades não conseguiam travar os protestos clamorosos das doentes cegas, que choravam desesperadamente pela perda das suas protectoras. Uma reivindicação espontânea bem persuasiva e justa, que acabou por ter um final feliz…

A Venda de Natal do Convento, já com boa tradição desde há uns anos, é uma altura privilegiada para a angariação de fundos para ajudar ao sustento da casa. Este ano, de 21 de Novembro a 21 de Dezembro, recebem os visitantes para chá e scones nas salas antigas do 1º andar, com tectos de masseira em caixotões e painéis de azulejo decorativos nas paredes. O refeitório principal ainda conserva as mesas de sucupira vermelha, decorado com “albarradas” simples e pinturas seiscentistas, anteriores à própria construção do convento (vindas de um outro mosteiro):


Nos claustros, esbarramos com uma panóplia imensa de presentes, originais e a bom preço, bem alinhados em mesas decorativas, que ajudam a festejar a quadra.

Finalmente, na loja da Casa, junto à entrada, acumulam-se as especialidades confeccionadas no Convento, entre compotas, geleias, chutneys, vinagres, piri piris, biscoitos de limão e outras surpresas óptimas. Tudo delicioso e, sobretudo, utilíssimo. Que o digam as “meninas”, como lhes chama carinhosamente a Irmã Ana Maria, partilhando na net um bocadinho destas vidas tão arredadas do rebuliço das ruas de Lisboa, que mal acreditamos existirem.

No testemunho da Irmã:

Para nós e  para as meninas, muitas delas no Convento desde muito novas, o contríbuto (de gente generosa) tem sido fundamental. Estamos certos que sente(m), como nós, a alegria do papel transformador que tem desempenhado nestas vidas!
A  Assunção, "menina Assunção"  como era chamada,
faleceu este ano depois de viver 80 anos no Convento.
Entrou com 6 anos. Não conheceu outra casa,  nem outra família. Era cega total
e tinha um atraso de desenvolvimento. Contudo, aprendeu Braille,
tarefas da vida diária, fazia muito bem malhas
e crochet e aqui viveu sempre, todos os dias da sua vida.
Esteve 80 anos connosco!
O Convento é um conjunto de histórias de vida às quais queremos dar um fim feliz. Perdemos duas meninas este ano mas gánhamos duas outras - são irmãs, ambas com atraso de desenvolvimento grave, pai esquizofrénico e cuja mãe faleceu em Maio passado. Fazem agora parte da Família do Convento, exigindo um enorme investimento afectivo e de recursos, da parte dos que aqui trabalham e dos voluntários.
A D. e a S.  vêm de uma família de classe média,
mãe professora e pai ex-funcionário da TAP,
reformado compulsivamente em virtude da esquizofrenia.
Já durante a doença da mãe estas meninas
perderam muito dos hábitos de vida quotidiana,
ficaram entregues a elas mesmas. O  nosso desafio foi recebê-las,
criar-lhes confiança, dar-lhes amor e atenção
- fazê-las sentirem-se parte da nossa família e, proporcionar-lhes
- uma nova vida - ir à piscina, dar  passeios, fazer ginástica,
música e teatro...para quem não saía da cama é uma diferença abissal.
Estão há três meses nesta Família!
Estas não são "histórias". São a realidade dura e comovente das vidas das meninas que, graças a si, podem agora ter uma nova vida connosco. A vida no Convento requer muito investimento para tornar possível o acompanhamento e todas as atividades necessárias e aconselháveis ao desenvolvimento de cada uma. Terminamos agradecendo-lhe pelo seu esforço generoso e queremos que sinta a gratidão de quantos aqui trabalham, voluntários e profissionais e, muito especialmente, a gratidão das 35 meninas/mulheres que aqui vivem.

Na contagem decrescente para o Natal, todas as formas de aproximação aos outros vêm ainda mais a propósito. Desde as portas interactivas e divertidas de Paris, às diversas vendas de Natal solidárias, como a dos Cardaes, muitos sítios giros esperam por nós.

Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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 (1)  www.conventodoscardaes.com, www.facebook.com/conventodoscardaeslisboa.
Rua do Século nº123, Lisboa, no quarteirão que faz esquina com a  R. Eduardo Coelho, dando acesso à entrada lateral pelo nº1. 
Tel.: 213 427 525.    Email:  conventodoscardais@net.vodafone.pt

ORATÓRIOS E NICHOS POR TODA A CASA:


MAQUINETAS E IMAGENS COM VALOR ARTÍSTICO:


DOÇARIA CONVENTUAL:

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