21 novembro 2016

Das associações de palavras aparentemente distintas

Reiki, Programação Neurolinguística, mestrados, viagens, livros, meditação, consultas de psiquiatria, estudo dos pintores. 

Aparentemente, ou numa leitura imediatista e desprovida de enigma, limitei-me a elencar um conjunto de palavras. Relativamente a estas haverá pessoas conhecedoras dos meandros da mente (em geral ou da minha) que conseguirão encontrar conexões: os mestrados com os livros, as viagens com o estudo dos pintores, esta com aquela e com aqueloutra. Contudo, não há mistério.  A este conjunto de palavras poderia adicionar-se um conjunto semelhante que concorresse para o mesmo fim - sabermos mais.

Para que adquirimos conhecimento? Para espantarmos os outros, por curiosidade mais ou menos insaciável, por entretenimento, por desejo genuíno de saber ou de exercitar a mente, por ironia de querermos saber muito sobre um assunto que pouco interessa à riqueza das nações. Ou então, por uma ingenuidade subjacente a uma convicção: sabermos mais é sermos mais. E sermos mais é sermos melhores.

A nossa melhoria assenta em vários factores, sendo que todos se traduzem em actos. De facto, não podemos dizer que somos melhores se não o comprovarmos por actos e palavras. Porém, e retomo o argumento, um dos factores em que assenta a nossa melhoria é a decifração do próximo. A tolerância e a compreensão (no sentido do entendimento) estão, por isso, intimamente ligadas. Por vezes, o que nos falta é percebermos o outro ou, tantas vezes, percebermo-nos a nós próprios. Assim, tenho esta visão ingénua de que, no limite dos limites, perceber Plutarco a ensinar os jovens a ler poesia, fazer um curso de PNL ou discernir uma parábola da Bíblia podem ter o mesmo efeito: estabelecer relações, ver mais além, expandir o entendimento sobre as coisas e, com isso, percebermos melhor o que somos e o que são os outros. Depois falta tudo o resto...

A aquisição de conhecimentos tem de ser encarada como a utilização do talento no sentido bíblico do termo: recebemos para por ao serviço - uns, do Reino de Deus; os outros, da sã convivialidade consigo próprios e depois com quem vive em redor. O conhecimento sem consequência a não ser uma espécie de engorda em circuito fechado é pouco credível.

(Já no fim deste deambulação domingueira de Outono lembrei-me de uma comparação aeronáutica: na remota eventualidade de uma perda de pressão súbita na cabina, sobre todos os passageiros cairão máscaras de oxigénio. É-lhes pedido que, mesmo tendo crianças a seu cargo, as coloquem primeiro, e só depois as coloquem às crianças. Significa isto o quê? Que as perguntas que fazemos aos outros para indagarmos das suas fragilidades, obsessões, alegrias, inseguranças, fraquezas e fortalezas, as devemos fazer primeiro a nós. Só depois de as respondermos interiormente as poderemos formular ao próximo. Só com uma máscara de oxigénio colocada na face podemos colocar uma máscara de oxigénio da face de uma criança, isto é, de alguém mais frágil do que nós.)

JdB

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