03 agosto 2018

Do ciclismo e da estética

Ontem, por motivos prosaicos que não vêm ao caso, passei 30 minutos na Decathlon. Em bom rigor, há muito tempo - talvez mais de 20 anos - que não estava tão próximo de uma ideia de desporto ou de artigos de desporto. Não tive nostalgia, não tive horror, não tive desejos de nada - de flexões, de bíceps desenvolvidos, de resistência fantástica no teste de Cooper para sexagenários. Tive, muito simplesmente, um pensamento diferente sobre a actividade desportiva. 

São inegáveis as vantagens de se fazer desporto, acima de tudo uma melhor saúde física e mental. Pode haver quem defenda o convívio com amigos, com colegas, a troca de experiência ao nível da transpiração vs batimentos cardíacos, as virtudes do step ou do pilates, a qualidade deste ou daquele ginásio. Não nego nada disso. Há, no entanto, uma dimensão à qual os néscios não prestam atenção, como se o mundo se resumisse ao espaldar que já ninguém usa ou à cambalhota que já ninguém faz.



Ora, a actividade desportiva não se resume aos músculos trabalhados, ao emagrecimento saudável, ao endurecimento dos glúteos, ao gosto pelos sumos naturais e pela comida biológica. O desporto tem uma dimensão vedada aos incautos, aos distraídos - ou apenas aos arrojados. Atentemos na imagem acima, a de um ciclista. Podemos repetir o que alguém dizia do ciclismo, que é o único desporto em que a besta que puxa vai sentada. Mas vejamos melhor: os calções justos (short, na legenda), o capacete, a camisola (camiseta, na legenda) desafogada ao nível das axilas, feita em material que suscita a transpiração - ou não, sei lá eu...

Ontem, na Decathlon, estive com um capacete na mão, não para mim, mas para alguém que precisava de adquirir um. E pensei que o ciclismo estava arredado da minha lista de actividades físicas: vou a um prémio da montanha, vou a um contra-relógio, vou a uma prova de perseguição ou de resistência. Onde eu não vou é a uma camiseta e a um capacete daqueles, porque a minha noção de ridículo - obsessiva e sensível - não o permite. Não sou preguiçoso. À minha maneira sou um esteta, mesmo que ninguém (nem sequer eu) acredite...

JdB

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