07 maio 2019

Poemas dos dias que correm

EDITAL DO POETA ÀS PORTAS DA MORTE (PARA AFIXAR EM VOZ ALTA)

É preciso que se saiba por que morro
É preciso que se saiba quem me mata
É preciso que se saiba que, no forro
Desta angústia, é da Pátria tão-somente que se trata.

Se se trata de pedir-Lhe algum socorro,
O Seu socorro vem — a estalos de chibata...
E não ata nem desata o nó-cego deste fogo,
Que tão à queima-roupa me arrebata,

A não ser com a forca a que recorro
— E que é barata...

(É preciso que se saiba por que morro,
Enforcado no nó d’uma gravata!)

Jazigo, deserto, morro,
Baldio ou bairro-da-lata:
Não importa, já, ao certo, saber onde...
Andar à cata de data...

— É preciso que se saiba por que morro,
No meio deste monte de sucata!...

É preciso que se saiba por que morro
— E que és Tu, Pátria ingrata, quem me mata!

Rodrigo Emílio

***

Bem-hajam e até mais ver

Quando eu morrer,
não haja alarme!
Não deitem nada,
a tapar-me:
- nem mortalha.

Deixem-me recolher
À intimidade da minha carne,
Como quem se acolhe a um pano de muralha
Ou a uma nova morada,
Talhada pela malha
Da jornada…

- E que uma lágrima me valha…!
Uma lágrima – e mais nada…

Rodrigo Emílio

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